sábado, 12 de novembro de 2011

ARQUIVO VIVO: traficante Nem diz que metade do seu faturamento ia para policiais

Nem, chefe do tráfico na favela da Rocinha, preso no RJ

Num longo depoimento na sede da Polícia Federal, na madrugada de quinta-feira (10), acompanhado por um grupo restrito de policiais federais, o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico na Rocinha, preso na quarta-feira (09), afirmou que metade de tudo que faturava com a venda de drogas era entregue a policiais civis e militares da banda podre.

A propina gorda seria entregue a numerosos agentes públicos. O traficante deu detalhes, inclusive datas, de casos de extorsão. Ainda no depoimento, o criminoso afirmou que, devido às constantes extorsões, em alguns períodos seu faturamento era zero. Segundo algumas estimativas da Polícia Civil, não confirmadas no depoimento, o bandido faturava mais de R$ 100 milhões por ano.

"Metade do dinheiro que eu ganhava era para o "arrego" (gíria para propina), afirmou Nem.

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse em entrevista ao "RJ-TV" que gostaria muito que Nem falasse mesmo o que sabe, por conhecer "a arquitetura do tráfico de drogas e como são os meandros da corrupção".

"Ele tem uma prestação de contas muito séria e importante a fazer à sociedade fluminense. Ele tem que prestar contas sobre a corrupção de agentes públicos. Eu acho que isso faria com que fosse dado um passo importante no combate à criminalidade", disse Beltrame.

O traficante contou ainda no depoimento que uma parte do seu lucro com a venda de drogas era gasta em assistencialismo na Rocinha, com pagamento de enterros, fornecimento de cestas básicas, compra de remédios e realização de obras.

"Quando me pediam, eu comprava tijolos e financiava a construção de casas na comunidade", disse Nem.

O delegado Victor Hugo Poubel, coordenador da Delegacia de Combate ao Crime Organizado da PF, garantiu que as informações passadas pelo traficante serão investigadas em inquérito. Poubel afirmou também que a PF tem acompanhado a movimentação dos bandidos da Rocinha.

"Nossos policiais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) estão monitorando a movimentação de bandidos que porventura tentem fugir da Favela da Rocinha. Estamos trabalhando intensamente, com apoio da Secretaria de Segurança, numa troca constante de dados de inteligência", afirmou.

Durante a operação de quarta-feira na Gávea, quando o traficante Anderson Rosa Mendonça, o Coelho, chefe do tráfico no São Carlos e sócio de Nem, também foi preso pela PF, os agentes apreenderam pelo menos dez celulares. No verso dos aparelhos havia a etiqueta "arrego".

Coelho, no momento da prisão, estava sendo escoltado por três policiais civis, sendo dois da Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos de Cargas (Carlos Renato Rodrigues Tenório e Wagner de Souza Neves) e um da Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Saúde Pública (Carlos Daniel Ferreira Dias). O grupo também contava com dois ex-PMs: José Faustino Silva e Flávio Melo dos Santos.

"Parece que cada celular tinha uma função. Achamos curioso: no verso de pelo menos dez dos aparelhos havia essa referência ao 'arrego'. Supomos que os traficantes usavam os celulares só para receber ligações da banda podre e providenciar a propina", afirmou o delegado Fábio Andrade, da PF.

Coelho era um dos bandidos mais importantes da estrutura atual da Favela da Rocinha. Ele teria instalado vários laboratórios para refinar cocaína, trazendo da Bolívia pasta-base da droga. Além de controlar parte do complexo de São Carlos, atualmente ocupado por uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), o criminoso foi encarregado de assumir também o comando das favelas de Macaé.

Nem chegou ao Complexo Penitenciário de Gericinó, Bangu 1, na Zona Oeste do Rio, na tarde de quinta-feira. O comboio que levou o traficante e outros bandidos presos passou pelas principais vias expressas da cidade. De acordo com a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, o traficante teve o cabelo cortadopassou a usar uniforme padrão: camisa verde, calça jeans e tênis azul.

Em Regime Disciplinar Diferenciado, Nem terá direito a apenas duas horas de banho de sol por dia. Nas outras 22 horas, deve ficar confinado numa cela individual. Considerado o presídio mais seguro do Estado, Bangu 1 abriga presos de alta periculosidade - líderes de facções de tráficos de drogas.

A ocupação da favela da Rocinha por forças policiais ocorrerá neste fim de semana. Um comunicado da Aeronáutica divulgado nesta quinta-feira (10) informou que o espaço aéreo sobre a comunidade será fechado entre as 2h do domingo e a tarde da próxima segunda-feira.

Está prevista ainda a utilização de helicópteros com sensores e câmeras na operação de tomada da favela pelas forças de pacificação da polícia.

Fonte: Agência O Globo
Editado por: Hugo Freitas

2 comentários:

  1. Bom dia prezado jornalista Hugo Freitas, esta matéria remete-me a perguntar para quem este assunto interessa e possa contribuir com a busca da solução do problema. Diante os fatos noticiados e vivenciados o Estado reune condições humanas para combater o Tráfico??? Havaliando os fatos por uma visão de 360 graus, chegamos a conclusão de que será mais barato, mais fácil e, faz-se em curto prazo ao custo quase zero a política de Educação Familiar. O difícil é convencer a população! Porque tudo que o povo quer, o governo faz; quer o exemplo: festival junino, festival carnavalhesco, futebol, etc. Nós somos uma sociedade emocional e, por tais razões, somos mendigos de pão e circo. Uma sociedade racional é sonhos de poucos! Obrigado pelo seu espaço. Abraços. Reinaldo Cantanhêde Lima

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  2. Companheiro, Reinaldo, um tanto quanto polêmica a afirmação de que "tudo o que o povo quer, o governo faz".

    Aproveite o espaço. Grato pela participação.

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Grato pela participação.