sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011: O Otimismo Está no Ar


2011 bate às portas e com ampla expectativa da população brasileira de que seja um ano bem melhor do que foi 2010, em todos os sentidos.

Ïnacreditáveis 82% dos brasileiros acreditam que o ano novo será frutífero no amor, nas finanças pessoais, no emprego e na vida em geral, segundo pesquisa recente.

A maioria do povo brasileiro crê num país mais vigoroso na economia e no cenário político internacional no ano que vem, que está logo ali.

É bom que pensemos assim mesmo. Afinal de contas, quem semeia e carrega consigo o pensamento positivo se eleva sobre os demais no que tange à conquista de objetivos. As pessoas se sentem mais fortes simplesmente por acreditarem que são ou estarão mais fortes e mais felizes.

Que bom seria se pensássemos assim o tempo todo. Que acreditássemos que o amanhã será bem melhor do que está sendo o hoje e do que foi o ontem.

Mas se a vida fosse feita apenas de pensamentos positivos, viveríamos então no paraíso. E por que não vivemos? Por que buscamos sempre uma melhora que tarda ou que, aparentemente, teima em não chegar jamais? Quantos já estão cansados de esperar e de acreditar que as coisas se transformem para um estado de prosperidade? Quantos já não aguentam mais esperar e acreditar? Quantos ainda têm força para sonhar?

O Ano Novo efetivamente é convidativo para que pensemos em bons fluidos, necessariamente se impõe como uma oportunidade a mais para que vivenciemos dias melhores pelo simples fato de ser um tempo a mais nessa nossa curta existência.

Contudo, somente nossos esforços pessoais, individuais, não serão suficientes para que se vença as forças teimosamente opostas aos nossos sonhos.

Contrariamente ao que estabelece a lógica capitalista da meritocracia, que ovaciona o individualismo, para que desfrutemos verdadeiramente de "UM FELIZ E PRÓSPERO ANO NOVO" é necessário que TODOS SONHEM O MESMO SONHO: o de ver o povo deste país e, em especial, o do Maranhão vivendo dias melhores em toda a sua plenitude. Não a melhora das compras a prazo e dos voluptuosos cartões de crédito (que escondem as dores de cabeça do endividamento), mas a de saneamento básico, saúde, educação e melhores ofertas de emprego.

2010 foi marcante para o "Blog Hugo Freitas" por ser o ano de seu nascimento, ainda que tardio. Porém, mesmo com esse retardo temporal em relação aos demais blogueiros que se aventuraram por estas paragens da comunicação virtual, alcançamos já um significativo reconhecimento, ao qual rendemos sinceros agradecimentos.

A todos os seguidores e leitores deste blog, bem como aos que contribuíram para que ele tivesse um bom embrenhamento na seara das mídias livres, e a todos os concidadãos maranhenses, de norte a sul do Estado, DESEJO UM MARAVILHOSO ANO NOVO, REPLETO DE SAÚDE E PAZ!!!

E QUE DEUS ABENÇOE O ANO DE 2011 PARA TODOS NÓS, EM TODOS OS SENTIDOS!!!

Abraços fraternos.

Hugo Freitas


sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

"Feliz" Natal? Para Quem?

O ano está acabando e o que temos a comemorar? O aumento salarial de toda a aristocracia que governa este país ou a aprovação de um "mínimo" de trinta reais de reajuste?

Devemos nos engrandecer pela descoberta de gás e pela futura instalação de uma refinaria de petróleo em território maranhense ou nos preocuparmos se esta riqueza irá chegar na mesa dos trabalhadores deste Estado ou se o povo efetivamente terá direito ao seu pedaço de bolo?

Ou devemos ficar contentes pela não aprovação do piso salarial dos professores da rede estadual de ensino estipulado pelo próprio Estatuto do Magistério, fato que exemplifica o interesse dos gestores públicos em cumprir as leis e a eficácia das instituições responsáveis pela fiscalização do cumprimento das mesmas?

Diante de todo esse lastimoso quadro, em que as forças políticas e econômicas se sobrepôem ao interesse público e à felicidade do povo, fica difícil acreditarmos que as coisas irão melhorar. Pelo menos, não para a grande parcela populacional do Maranhão que hiberna na fome, no analfabetismo, na mortalidade infantil e na pobreza extrema.

Por sua vez, a classe política do Estado comemora seus polpudos aumentos, o que faz com que ela tenha condições de promover banquetes para encher a pança e silenciar a voz da "mídia política", bancar orgias em caríssimos motéis da capital e destinar verbas públicas através de emendas parlamentares para cidades nas quais atuam seus correligionários, motivos de sobra para celebrar o Natal com mais alegria e festejar o Ano Novo com mais otimismo.

No geral, as perspectivas para 2011 não são nada animadoras para o Maranhão, à medida que observamos pachorramente os interesses privados secundarizarem o "bem-comum", e a força da grana e do materialismo suplantarem a formação educacional de um Estado cada vez mais miserável, desigual e injusto.

Pior é assistirmos a tudo isso calados, sentados de frente para a TV, inertes e exaltando o consumo natalino diante do arrocho salarial em todos os níveis, operado idiossincraticamente por todos os cantos deste gigante país.

Enquanto o aumento de deputados e senadores gira em torno da casa dos milhares, o descalabro reajuste do salário mínimo reduz-se à casa das dezenas. Como pode um deputado federal praticamente dobrar seu salário e receber quase trinta mil reais por mês (sem contar todos os demais benefícios e comodidades a que tem direito) enquanto a maioria dos trabalhadores tem de se contentar com um reajuste de "trinta reais"? E, ainda assim, continuarmos confiando que as coisas vão ficar melhores no ano que vem?

Neste momento, a única esperança que vagueia pelo espírito deste vosso interlocutor, estimado leitor, é a de que Deus tenha misericórdia de todos nós e nos ajude a trilharmos um caminho diametralmente oposto a este que presenciamos, vivenciamos e aceitamos como sendo o "possível", já que as alternativas de outras vias são escassas ou estão obstruídas pelo nosso "consentimento plateístico" e pela nossa "paralisia mórbida".

Hugo Freitas

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Educação no Maranhão: "A Megera Domada"



Todo mundo viu, ouviu ou leu em algum canto deste país: "Aprovado aumento salarial para Deputados, Senadores, Ministros e até para o Presidente da República, a partir de 2011".

No Maranhão, a notícia que correu a mídia foi: "Deputados maranhenses aproveitam o efeito cascata do aumento de salário federal e elevam seus vencimentos em 60%".

Navegando na mesma onda, a Câmara Municipal de São Luís deverá anunciar nos próximos dias o aumento dos proventos dos vereadores que compõem a Casa Legislativa da capital maranhense.

Em contrapartida, no que diz respeito à Educação em nosso Estado, a tônica das manchetes era a seguinte: "Maranhão tem a segunda pior educação do Brasil". E outra: "Assembleia Legislativa do Maranhão veta aumento salarial de 12% para professsores do Estado".

Façamos as contas. Enquanto os parlamentares federais irão receber salários que giram em torno de R$ 26.700,00, no Maranhão os deputados passarão a perceber cifras que giram em torno de 15 a 20 mil reais. Contudo, por sua vez, os profissionais da educação não tiveram garantido o direito regido pelo Estatuto do Magistério de um piso salarial mínimo, de aproximadamente R$ 1.040,00.

Pior, segundo o Plano Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2009, o estado ficou com a penúltima posição no ranking, ficando à frente apenas de Alagoas (Alguém ainda lembra quem dás as cartas por lá?).

O levantamento, que é realizado a cada três anos e possui abrangência internacional, avalia o conhecimento de leitura, matemática e ciências dos jovens matriculados a partir da 7ª série do ensino fundamental (Não se esqueçam que estes serão o "futuro" da nação e do Maranhão).

O que depreendemos dos dados acima expostos é a falta de percepção da gestão pública, nas esferas de sua competência, com a educação do povo, em particular com a do povo maranhense. O 2º lugar do Maranhão dos piores estados brasileiros em educação coaduna-se perfeitamente com o veto do aumento salarial dos professores da rede estadual de ensino, à medida que os gestores públicos percebem a necessidade de se frear a consciência da população.

Afinal de contas, a quem interessa um povo lúcido, crítico e consciente de seus direitos e deveres? Os manuais "esquerdistas" sempre afirmaram que um povo sem educação é um povo mais fácil de controlar. Isso se exemplifica através do "descontrole" da população de alguns países europeus. No velho continente, as atuais turbulências enfrentadas pelos governos é fruto direto do nível educacional de suas populações, que não satisfeitas com a política de seus dirigentes saem às ruas para reivindicar seus direitos, mesmo que se utilizando da força bruta de paus, pedras e coquetéis molotovs.

No Maranhão, o absurdo é ainda maior quando ao invés de bradar por melhorias públicas e qualidade de vida, observamos grande parcela da população aplaudir de pé seus algozes políticos, reelegendo para mais quatro anos de mandato figuras que se instalaram no poder como um vírus e fizeram da coisa pública um bem privado.

Figurando sempre entre os últimos em todos os indicadores sociais avaliados por instituições nacionais e internacionais, brigando feio com Alagoas para não ser efetivamente o último, o Maranhão é terra de graves contrastes e assimétricas paridades: rico em recursos naturais e miserável em distribuição de renda; alto potencial energético e elevados índices de analfabetismo; localização geográfica estratégica e periferia social e política do país; último estado a aderir à República e o único a manter no poder as velhas estruturas.

Atendo-nos exclusivamente à Educação, para não nos rendermos de uma vez nem cairmos em depressão às vésperas do Natal, o Maranhão entrará em 2011 sem ter muito a comemorar, pelo menos no que diz respeito aos indicadores sociais, em particular ao nível educacional dos jovens e adolescentes maranhenses, já que para parlamentares e gestores públicos o Papai Noel chegou mais cedo, com ótimas perspectivas de um "próspero Ano Novo".

A educação no Maranhão é tratada como último até na hora do pagamento. Quem puder observar a lista mensal da folha salarial dos servidores da Prefeitura de São Luís, por exemplo, verá que a Secretaria Municipal de Educação é a última a receber seus proventos, ficando atrás das secretarias executivas e administrativas e da secretaria da saúde.

O descalabro é ainda maior quando analisamos o quão difícil foi escolher alguém "competente" para assumir a pasta da educação no Estado, diante da vacância originada pela saída do ex-secretário Anselmo Raposo (Quem sabe o nome e as qualificações da pessoa que assumiu? Alguns dizem ser uma "fiel" secretária particular da atual ocupante do Executivo estadual).

Diante de tudo isso, convém frisarmos o quão importante é a educação de um povo para sua libertação política e independência intelectual. Se assim não fosse, qual seria o motivo de preocupação dos governantes em manterem a rédeas curtas esta "megera domada"?

Os desafios, entretanto, são enormes. Ainda mais quando percebemos a paulatina diminuição dos quadros de professores em todo o país. No Maranhão, o número de candidatos aos cursos de licenciatura sofreu significativa redução nos últimos anos. Sucateamento das instituições de ensino, qualidade duvidosa do material didático e, principalmente, os baixos salários são os outros "atrativos" que espantam os alunos da rede pública e enxotam os "potenciais professores" das salas de aula no ato da escolha do curso para o qual irão prestar vestibular.

Se, no passado, a profissão de professor era algo de orgulho e de reconhecimento pela sociedade, no presente a situação é de vergonha e de humilhação, legando para o futuro um cenário educacional nada animador.

Enquanto os milhões correm à solta nos ministérios do governo federal e nas secretarias estaduais, procurando se multiplicar a curto prazo para  um lucrativo aumento de receita visando a Copa do Mundo de 2014 e as Olímpiadas de 2016, a discussão que ganha patamar de novela nos noticiários é o valor do novo reajuste do mínimo, com cifras exorbitantes girando em torno de pomposos 30, 40 ou 50 reais a mais do que os atuais R$ 510,00. E, no mesmo barco de valoração do mínimo, a educação também vai sendo "mínima", vilipendiada e renegada, empurrada para debaixo do tapete, com cortes profundos no orçamento de 2011.

E os verdadeiros ministros, os do conhecimento e do aprendizado, vão sendo tolhidos, obnubilados e precariamente ressarcidos, num ponto de aquiescência que olha para a melhoria da qualidade de vida de um povo pura e simplesmente pelo viés material, secundarizando a sua formação educacional e esquecendo que sem professores não há médicos, nem engenheiros nem "doutores".

Hugo Freitas

sábado, 18 de dezembro de 2010

Nota de Agradecimento do "Blog Hugo Freitas"





Caríssimos leitores do "Blog Hugo Freitas". Peço, por gentileza, a atenção de todos para esta nota.

É com enorme satisfação que constato o sucesso deste humilde blog. Em apenas um mês e meio de existência, alcançamos na tarde de hoje o patamar de 1000 (mil) visitantes.

Nesta curta trajetória, que apenas se principia por estas veredas comunicacionais, rendo meus sinceros agradecimentos a todos os que me lêem, os que me seguem e, principalmente, os que me divulgam em seus preciosos espaços. Muito obrigado a todos vocês. O sucesso neste momento alcançado não seria possível se não fosse a generosidade e o carinho com que me acolheram e me retransmitiram adiante.

Demorei para me iniciar nesta seara virtual, mas saibam que entrei para valer e pretendo continuar até quando restar o último sopro em minhas narinas.

Acredito sinceramente que o blog é uma das melhores ferramentas que a internet nos trouxe nos últimos tempos, pois nos possibilita oferecermos uma alternativa noticiosa, informativa e analítica sobre tudo o que acontece ao nosso redor, em detrimento dos veículos comunicacionais oficiais e institucionalizados, apesar de saber também que nem todo blogueiro é jornalista ou, pelo menos, não utiliza o blog com tal propósito.

Ao longo deste ano, muito amigos me impulsionaram para publicar os textos que eu produzia, quer frutos de atividades acadêmicas, quer corolários simples da vontade e do prazer de escrever sobre os assuntos pertinentes à nossa realidade. Hoje, também rendo meus agradecimentos a todas estas pessoas, sem as quais o ingresso por estas paragens seria mais obstacularizado.

Por fim, para não me estender muito, peço com todo o afeto e carinho que nutrem pelo "Blog Hugo Freitas", que continuem a ler e a levar adiante, para o máximo de pessoas possíveis, os textos aqui publicados.

Tenham certeza de que todos os esforços dispendidos até agora e os que ainda há de haver para a produção analítica deste blog, que se apresenta em formato de revista (por isso as atualizações semanais), se baseiam única e exclusivamente no desejo profundo e sincero de levar ao povo de minha terra e a todos os maranhenses um olhar que navega contra a maré, que desperta a dúvida e que incomoda os que estão acomodados com a situação crítica de todos os indicadores sociais de nosso Estado.

Se, nesse propósito, eu encontrar pelo caminho quem possa me ajudar a compartilhar de tal objetivo, saibam que eis aqui um verdadeiro amigo, um sonhador e um idealista, disposto a travar batalhas reais para vencer a guerra contra a miséria e os desmandos que operam impunemente no Maranhão, ainda que as minhas armas sejam as palavras.

Abraços fraternos a todos vocês e que Deus nos abençoe.

Hugo Freitas

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Honoráveis Bandidos: A Luta pela Liberdade


Há exatos 42 anos irrompia, num dos momentos mais marcantes da história recente do Brasil, o famigerado AI-5, um dispositivo jurídico-político que na prática significou o recrudescimento da repressão no país e a plenitude de poderes de exceção que levaram ao aumento da violência da Ditadura Militar (1964-1985).

O Ato Institucional Nº 05, gestado em 13 de dezembro de 1968, perdurou até o ano de 1978. Através dele, os generais no poder talharam para si a chamada “linha dura” do regime, que consistia no fim das liberdades individuais, no fechamento de partidos políticos, na cassação de mandatos, no exílio de incontáveis figuras civis (entre jornalistas, advogados, artistas, políticos, etc.), na perseguição aos religiosos considerados “subversivos” e na prisão, tortura e morte de muitos daqueles contrários ao regime.

Instituído ainda no governo do general Costa e Silva, foi durante o mandato presidencial do general Emilio Garrastazu Médici que seus ditames textuais suscitaram com mais vigor a repressão e a intolerância contra todos aqueles que colocassem em risco a “Segurança Nacional” ou que representassem uma ameaça à ordem vigente estabelecida pelos militares através da força das armas a partir do Golpe de 1964, que depôs a ordem democrática e tomou de assalto as rédeas políticas do Estado brasileiro.

Mesmo diante deste passado ainda tão recente, as chagas da ditadura militar são perceptíveis em diversos momentos no cenário político atual do país, particularmente em alguns estados da federação, onde as velhas estruturas ainda ditam as suas regras e se utilizam do mesmo molde violento que regeu o governo dos militares.

Há pouco mais de um ano, por exemplo, um episódio ocorrido em São Luís deixou claro que a violência é um recurso bastante utilizado pelos poderosos quando as palavras e os argumentos são concebidos como verdadeiras "armas", que dilaceram como lâminas afiadas os corações e mentes de um povo ainda em insipiente processo de libertação dos grilhões invisíveis que os escravizam intelectualmente.

A noite da quarta-feira do dia 04 de novembro de 2009, data em que se realizou o lançamento do livro “Honoráveis Bandidos – Um retrato do Brasil na era Sarney”, do jornalista Palmério Dória, foi marcada por incidentes que ameaçaram seriamente a liberdade de expressão e que remontaram ao período de chumbo de nossa história, causando preocupação a todos quanto às (velhas e perigosas) formas de se fazer política em nosso Estado.

Os incidentes ocorridos no auditório do Sindicato dos Bancários do Maranhão, que começaram com vaias e terminaram com depredação e arremesso de cadeiras, foram as formas encontradas por supostos "estudantes" para silenciar e amedrontar os que assistiam ao evento. Informações veiculadas à época, principalmente pela mídia impressa, apontaram indícios que vinculariam os agitadores aos “defensores” da oligarquia Sarney, suspeitos de terem financiado as ações de violência e vandalismo.

Tais ações representaram uma tentativa de silenciar a voz daqueles que bradam por um país mais justo e fraterno, mais livre e verdadeiramente democrático, à medida que o citado livro surgia no cenário político maranhense como um combustível a mais na luta contra as velhas estruturas, analisando e denunciando os desmandos ocorridos por estas paragens.

Em outras palavras, a truculência dos "manifestantes" pró-Sarney significou uma temerosa ameaça às liberdades constitucionais, principalmente à liberdade de expressão, pelas quais inúmeras lutas foram travadas e sangue derramado para que pudéssemos usufruí-las em sua plenitude. Isso demonstra o grau de analfabetismo político da juventude no Maranhão, que se submete às benesses promovidas pelos oligarcas à revelia de uma postura ética e crítico-reflexiva.

Pior, sinaliza para o retorno de um simbolismo histórico que remonta às atividades partidárias de homens como Adolf Hitler, Benito Mussolini e Josef Stálin, figuras públicas que suplantaram o debate político pela violência e coerção através da força.

Claramente, os eventos ocorridos naquela fatídica noite de quarta-feira denunciaram que estamos vivenciando a ameaça constante de sermos silenciados pela intolerância, pelo desrespeito às liberdades democráticas, pelo monopólio do poder político, pela força bruta dos donos do poder, em suma, pela oligarquia que deseja a manutenção de sua hegemonia através da cooptação corrupta de mentes e corações dos jovens despolitizados e mercenários do Maranhão.

Esta sensação de ameaça às liberdades garantidas pela Carta Magna não pode se sustentar. Eventos como este devem ser extirpados da vida política regional. Para isso, é necessário que haja um fomento maior na questão de conscientização política da juventude maranhense, há muito alijada do processo político em nosso Estado, concebida apenas como mera massa de manobra pelos velhos caciques.

Uma nova cultura política no Maranhão, portanto, é condição sine qua non para despertar nos jovens e adultos de nosso Estado a consciência de que estamos sendo obliterados constantemente em nossa liberdade de expressão. A tentativa de impedir o lançamento do livro “Honoráveis Bandidos” e o boicote feito à época junto às editoras proibindo a sua venda, hoje encontrado em diversos pontos de comercialização, são as provas materiais de que não são brandas as forças que teimam em tomar de assalto nossa voz, apedrejando o caminho que abre espaço para nossa vez.

Para tanto, contudo, urge a necessidade de se promover um debate mais arguto e eficaz sobre as liberdades democráticas, o direito à informação e o dever de todo cidadão de defender nossa Constituição, tantas vezes desrespeitada e colocada à margem das ações de nossos governantes.

Negligenciá-la, portanto, é caminhar para trás. Não obedecer a seus princípios norteadores é a constatação de que voam longe os dias em que a diferença abissal entre a instituição das normas reguladoras e a sua práxis social efetiva será atenuada. Resistir, contudo, é preciso.

Neste dia em que o AI-5 completa mais um aniversário e que vivemos o momento em que muitos estudos são feitos em todo o país sobre os anos de chumbo da ditadura militar, devemos relembrar eventos como os ocorridos no lançamento do livro de Palmério Dória para mostrar aos quatro cantos do mundo que a luta pela garantia dos nossos direitos é algo perene e constante. Afinal, a liberdade é a única bandeira pela qual vale a pena edificar trincheiras.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Descortinando a Feira do Livro de São Luís

A Feira do Livro de São Luís, sem dúvida, é um dos eventos que vem ganhando enorme prestígio e aceitação pelo público maranhense nos últimos anos e se constituindo como um marco para o cenário cultural do Estado, além de se apresentar como uma excelente opção de lazer para jovens, adultos e crianças e de oportunizar à população em geral maior contato com as artes e com o gosto pela leitura.

No entanto, levando em consideração a última matéria publicada neste blog, onde expusemos um olhar contrastante sobre a Feira, bipolarizando óticas distintas e controversas e dando voz àqueles que puderam observar o grau de exclusão ou de não-contemplação por parte de um evento desse porte em relação aos mais alijados das benesses capitalistas por estas maranhas, sentimo-nos no dever de trazer à luz da apreciação de nossos leitores uma entrevista concedida ao jornalista Hugo Freitas da Assessora Técnica da Fundação Municipal de Cultura, Carol Sopas, uma das principais organizadoras da Feira do Livro de São Luís, que além de descortinar o evento, falou-nos sobre as dificuldades para se realizá-lo e as projeções para os próximos anos.

Programação cultural
Carol Sopas revelou que é dada prioridade aos artistas e escritores maranhenses que desejam participar do evento. “Lança-se uma convocatória por meio de publicação de edital para aqueles que desejam publicar livros, ministrar palestras e oficinas, o que posteriormente será submetido à análise pelos organizadores, para que seja feita a triagem dos participantes, levando-se em consideração o currículo e a proposta dos candidatos”.
A assessora da Func, no entanto, relata que o público parece gostar mais dos autores de outros Estados do país. “Por incrível que pareça, os dias de maior movimentação na Feira são aqueles em que há a presença de escritores de fora”.
Além disso, ela revelou quais os critérios de escolha dos patronos e qual a participação deles no transcorrer do evento. “Não é uma decisão isolada. A escolha é feita entre os parceiros. O presidente da Func indica quem será o homenageado. Se os parceiros derem ok, este será o patrono da Feira. A gestão atual adotou o critério de o patrono ser um renomado escritor que ainda esteja vivo. Isso permite que eles participem efetivamente do evento.
No ano passado, Ferreira Gullart que foi o homenageado não pôde estar presente, por conta do medo que ele tem de viajar de avião. Este ano, entretanto, o patrono Zé Louzeiro chegava às 17h na Feira e só saía quando terminava tudo, atendendo todo mundo com muito carinho e simpatia".  
Dificuldades na organização da Feira
Carol contou detalhes sobre as dificuldades enfrentadas pelos organizadores para fazer com que a Feira fosse uma realidade. “A Feira do Livro é um evento realizado pela Prefeitura de São Luís, em parceria com o SESC, com a Secretaria Estadual de Educação e a Secretaria Municipal de Cultura. No entanto, a gente tem uma grande dificuldade justamente por ser uma Feira promovida pela Prefeitura. A questão política é muito forte nesse sentido. Isto porque o planejamento plurianual, que é feito de quatro em quatro anos, é realizado no fim de cada mandato. E, geralmente, nenhum político que sai deixa tudo prontinho para o próximo que vai assumir. Por isso, a Prefeitura primeiramente tem que acertar as contas”.
Sobre o apoio dos parceiros e dos patrocinadores e da Lei de Incentivo à Cultura, a chamada Lei Rouanet, que estimula empresas a investirem em atividades e eventos culturais em troca de dedução fiscal de impostos e tributos, a entrevistada relata que a ajuda ainda é pouca. “Nossa grade dificuldade é tentar fazer com que as empresas se sintam parte da Feira. Muitas sentem vontade de agregar seu nome ou sua marca ao evento, mas sentem receio. O que tivemos de patrocínio foi obtido fora da lei de incentivo, principalmente através do SESC, nosso maior parceiro e co-realizador da Feira deste ano”.
Carol nega ainda a informação de que a Feira correu risco de não acontecer neste ano por falta de patrocinadores, destacando outro problema. “Tivemos um problema de licitação para a montagem da estrutura da Feira. Quando já estava tudo pronto, uma outra empresa contestou a concessão dada à empresa vitoriosa. E isso atrasou tudo. O problema foi esse e não por conta de patrocinadores. Aliás, este problema foi referente ao ano passado, quando realmente não tínhamos quase nenhum apoio de patrocínio”.
Preço dos livros
A questão do alto preço dos livros foi outro ponto comentado por Carol Sopas, que afirmou que isso não depende da organização do evento, mas sim de um acordo entre as editoras e a Associação Maranhense dos Livreiros. “Há toda uma negociação envolvendo a Associação e as editoras para se tentar diminuir os preços dos livros, reconhecidamente bastante elevados. Enquanto eles não resolverem essa briga, fica difícil baratear os preços. Mesmo com a isenção de taxas na montagem dos estandes, as editoras não diminuíram o valor monetário dos livros, alegando que tem de resolver essa questão com a Associação dos Livreiros”.
Perspectivas para 2011
Carol Sopas finalizou a entrevista projetando a Feira para o próximo ano. “Já estamos nos mobilizando para realizarmos a Feira de 2011, com bastante antecedência. Fizemos uma reunião recentemente para fazermos um balanço sobre o evento deste ano. Verificamos os erros e os acertos e, também, os aspectos que podem e devem ser melhorados para diminuirmos as dificuldades da próxima edição".
A entrevistada revela ainda uma novidade para a Feira do ano que vem. "Em 2011, faremos ainda uma votação popular para a escolha do patrono. O público é quem irá decidir o patrono da próxima edição da Feira, contanto que ele ainda esteja vivo”.
Diante de todo o exposto, os apreciadores da Feira do Livro de São Luís têm boas perspectivas de melhorias para a próxima edição. Pelo menos, no que tange ao planejamento prévio e na organização antecipada. Contudo, o relato de Carol Sopas serve apropriadamente para cimentar alguns pontos já obsevados na matéria "Feira do Livro: um olhar contrastante", publicada neste blog, e apontar outros ainda não aventados.
A "Feira do Livro" efetivamente se transformou na "Feira das Editoras". Mesmo com a oferta de redução de taxas sobre a montagem dos estandes, as editoras não arredam o pé na manutenção de seus lucros sobre a venda dos livros. Sem contar a "briga" com a Associação Maranhense dos Livreiros que, segundo Carol Sopas, é a principal responsável pela não diminuição imediata dos preços, eximindo assim de qualquer culpa a Prefeitura de São Luís, que é a realizadora do evento. Desta forma, ela acaba demonstrando, mesmo sem querer, toda a inoperância e a falta de poder da gestão municipal sobre as editoras, que agem livremente a seu bel prazer.
Além disso, a falta de visão e de interesse dos empresários maranhenses sobre o evento é a prova cabal de que investir em educação e cultura não é atração nem intenção de ninguém. Se não se pode conquistar um lucro fácil e rápido, pelo menos a médio prazo, não é interessante aos investidores, mesmo com a Lei Rouanet, o que só faz com que as esperanças de popularização do livro e de facilitação do acesso à leitura vão-se esmaecendo num horizonte cada vez mais distante.
Este é o retrato do nosso “Patrimônio Cultural” da Humanidade. Se uma nação é feita de homens e livros, no Maranhão um povo é feito da riqueza de uns e da ignorância de muitos, para não dizer de todos.