TV Al Jazeera mostra corpo de Kadafi
O presidente dos EUA, Barack Obama, disse que a morte de Kadafi "põe fim a um longo e doloroso capítulo da Líbia". "O regime de Kadafi chegou ao fim", disse, afirmando que "hoje é um dia importante na história" do país.
A confirmação da morte de Kadafi só veio com o pronunciamento do primeiro-ministro do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mahmoud Jibril, nesta quinta-feira (20), quando afirmou que o líder deposto Muamar Kadafi, de 69 anos, foi morto na Líbia.
Uma das primeiras imagens (provavelmente de celular) que correram o mundo sobre a captura e morte de Muamar Kadafi
Kadafi, que esteve no poder da Líbia por 42 anos até que fosse deposto em um levante que se tornou uma sangrenta guerra civil, foi morto por forças revolucionárias com o apoio da Otan durante a queda de Sirte, sua cidade natal, o grande último bastião de resistência desde a queda do regime, há dois meses.
Kadafi é o primeiro líder morto na Primavera Árabe, onda de movimentos populares que ocorrem no Oriente Médio e no norte da África desde dezembro para exigir o fim de governos autocráticos e mais democracia. Além da Líbia, regimes foram depostos na Tunísia e no Egito.
Kadafi foi um dos líderes mais longevos do mundo, dominando o país por meio de um regime comandado por seus caprichos e atraindo condenação internacional e isolamento durante anos.
"Esperávamos por esse momento há muito tempo. Muamar Kadafi foi morto", disse Jibril na capital do país, Trípoli. Segundo o premiê, o líder deposto morreu de um ferimento causado por um disparo na cabeça. Kadafi, segundo Jibril, foi atingido durante o fogo cruzado entre seus partidários e combatentes do governo interino depois de ter sido capturado ao ser retirado de um duto de esgoto.
"Kadafi foi retirado do duto sem resistir. Quando o levávamos, foi atingido por um disparo no braço direito e então colocado em uma picape", disse Jibril ao ler um relatório forense. "Quando o carro se movia, foi pego no fogo cruzado e atingido por uma bala na cabeça. O médico forense não pôde dizer se a bala era dos revolucionários ou das forças de Kadafi."
Também de acordo com premiê, Kadafi morreu poucos minutos antes de chegar ao hospital e será enterrado nesta sexta-feira (21) na cidade de Misrata. O presidente do CNT, Mustafa Abdel Jalil, declarará a libertação da Líbia no sábado (22).
Na coletiva em Trípoli, Jibril também pediu que a Argélia entregue os membros da família de Kadafi que se abrigaram no país. A mulher do líder deposto, assim como três de seus filhos - Aisha, Muhammad e Hannibal - fugiram para a Argélia em agosto. Saadi, outro filho de Kadafi, abrigou-se em setembro no Níger. A Interpol emitiu um mandado de prisão contra ele a pedido do CNT.
Além de Kadafi, o ministro interino de Informação da Líbia, Mahmoud Shammam, disse que Mutassim - filho e um dos conselheiros de segurança nacional de Kadafi - foi ferido quando se escondia com o pai. Um repórter da Reuters confirmou que viu o corpo, que teria sido colocado sobre cobertores no chão de uma casa em Misrata, coberto da cintura para baixo com uma capa de plástico azul. O corpo apresenta ferimentos no peito e pescoço.
Há relatos conflitantes sobre o paradeiro de Saif al-Islam, sempre apontado como sucessor de Kadafi. À rede de TV árabe Al-Jazeera, uma autoridade do governo interino afirmou que ele ainda estaria foragido no deserto da Líbia. Posteriormente, surgiram informações de que ele, que teria tentado fugir de Sirte em um comboio, estava cercado e sob ataque. Já a rede Al-Arabyia afirmou que ele foi morto. Mais tarde, a TV pró-Kadafi Al-Ra, que fica na Síria, disse que "não havia nenhuma verdade" nas informações sobre a morte ou captura de Saif al-Islam.
Suposto corpo de Mutassim, filho de Muamar Kadafi, jaz em uma casa nos arredores de Misrata, na Líbia
Outros dois filhos de Kadafi foram mortos previamente. A morte de Khamis em um confronto perto de Trípoli foi confirmada por uma rede pró-Kadafi nesta semana. O filho mais novo de Kadafi, Saif al-Arab, foi morto em um ataque aéreo da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em abril.
Antes da informação sobre a morte de Kadafi, o comandante do CNT Mohamed Leith anunciou que ele havia sido capturado. "Ele foi capturado em sua cidade natal, Sirte. Está muito ferido, mas ainda está respirando." Segundo ele, o líder deposto vestia um uniforme cáqui e um turbante.
Outros líderes ocidentais, que contribuíram para a queda do regime por meio de operações da Otan, consideraram que a morte de Kadafi marcava o "fim da tirania". A presidenta brasileira, Dilma Rousseff, afirmou que o mundo deve apoiar e incentivar o processo de transição democrática no país, mas ressaltou que uma morte não deve ser "comemorada".
Líbios saíram às ruas de todo o país para celebrar a notícia. "Nosso atual ambiente será aprimorado. Esperávamos por essas notícias. Líbia se tornará um local muito seguro. A comunidade econômica aqui ficará muito feliz, poderemos retomar nossos negócios. Estamos gratos aos EUA, à França e ao Reino Unido por sua ajuda", afirmou um residente de Trípoli.
Antes de o prêmie líbio declarar que Kadafi tinha sido atingido por um disparo na cabeça, as informações que surgiram foram confusas, levantando dúvidas sobre como exatamente ele foi preso e morto. Redes de TV árabes mostraram imagens do líder deposto ferido, com o rosto e blusa ensanguentados, mas vivo. Vídeos posteriores mostraram seu corpo sem vida sobre a rua, com sangramento na cabeça, enquanto combatentes o arrastavam (veja vídeo abaixo).
Hugo Freitas
Com informações da Reuters, BBC Brasil, EFE, AP e IG
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