Nesse Dia Internacional da Mulher, desejamos a todas as leitoras do "Blog Hugo Freitas" um dia maravilhoso, de muita alegria e reflexão sobre os direitos conquistados ao longo dos últimos tempos e, sobretudo, de análise crítica sobre a contemporaneidade, a fim de que se dê novo impulso rumo à conquista de novos direitos, como melhores oportunidades de trabalho e isonomia salarial com os homens.
Afinal, uma sociedade verdadeiramente democrática necessita que os direitos dos cidadãos sejam iguais para todos, sem nenhum tipo de discriminação, seja de cor, gênero, credo ou convicções políticas.
Mulheres, vocês são fundamentais para a existência de uma sociedade justa e equilibrada. Para todas vocês, trazemos um texto sobre a origem e os significados desta data tão especial, a fim de que ninguém esqueça o que a história registrou. Boa leitura a todos, em especial, a você: MULHER.
Só flores não bastam!
Reflexões sobre o centenário Dia Internacional da Mulher
8 de março é um marco da luta contra a opressão feminina
Por Fátima Oliveira*
O Dia Internacional da Mulher, o 8 de março, foi proposto em 1910, na 2ª Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhague, organizada por Clara Zétkin (1857-1933) e Rosa de Luxemburgo (1871-1919); compareceram delegadas de 16 países, representando cerca de 100 milhões de mulheres socialistas. Elas definiram a data como Dia Internacional da Mulher e reafirmaram as resoluções da 1ª Conferência, realizada em Stuttgart, na Alemanha, em 1903: igualdade de oportunidades para as mulheres no trabalho e na vida social e política; salário igual para trabalho igual; ajuda social para operárias e crianças; e intensificação da luta pelo voto feminino.
A pretensão das socialistas provocou duros embates no movimento de mulheres da Europa entre 1907 e 1910. Sobre a data, em 1917, na Rússia, Alexandra Kollontai (1872-1952) escreveu: “O dia das operárias, 8 de março, foi uma data memorável na história. Nesse dia, as mulheres russas levantaram a tocha da revolução”. Na data estourou a greve das tecelãs de São Petersburgo, manifestação vigorosa que detonou as mobilizações que culminaram na Revolução de Outubro de 1917.
O 8 de março se firmou no mundo como um marco da milenar luta contra a opressão feminina. O maior problema na atualidade é não permitir a sua banalização como um dia em que as mulheres devem apenas receber flores. Evidente que flores em reconhecimento a uma jornada de lutas são bem-vindas, desde que não esqueçamos que praticamente 100% das reivindicações registradas na conferência de Stuttgart continuam atuais, pois ainda não se materializaram na vida das mulheres. Eis porque a luta continua e porque só flores não bastam!
Michelle Bachelet, ex-presidenta do Chile e diretora-executiva da ONU Mulheres, verbalizou, com absoluta propriedade, que a sua criação responde ao descontentamento geral com o ritmo lento da superação da desigualdade de gênero: “Historicamente, vivemos um momento de grandes potenciais e mudanças para as mulheres. Chegou a hora de agarrar essa oportunidade. A minha própria experiência me ensinou que não existem limites para as conquistas das mulheres”.
Hoje, a expectativa é em torno do que anunciará a presidente Dilma Rousseff. Eu ficaria imensamente feliz se suas propostas contemplassem em gestos uma carinhosa “mulheragem” a Alexandra Kollontai, única mulher que ocupou um cargo no primeiro escalão do governo após a Revolução de Outubro: comissária do povo (Comissariado da Assistência Social, equivalente a ministra de Estado do Bem-Estar Social). Sob o comando de Alexandra Kollontai, o referido Comissariado elaborou as novas leis do Estado soviético sobre os direitos da mulher – a legislação mais avançada de um país, em todos os tempos, inclusive legalizando o aborto.
As vitórias das soviéticas impulsionaram a luta pelos direitos da mulher em todo o mundo e até hoje são fonte de inspiração, demonstrando que todos os direitos humanos são possíveis quando há decisão política. Os países capitalistas, visando deter a simpatia crescente pelo socialismo, cederam na concessão de alguns direitos. Não há dúvidas de que o governo soviético foi o primeiro do mundo a abolir as leis que conferiam cidadania de segunda categoria às mulheres. Seria pedir muito que as brasileiras alcançassem, quase um século depois, o mesmo que as soviéticas conseguiram em 1917?
Ou vamos continuar “caminhando e cantando e seguindo a canção”?
*Fátima Oliveira é jornalista e escreve para o jornal "O Tempo".
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