Segundo informações dos índios, criança foi morta e teve corpo queimado. Organização suspeita de envolvimento de madeireiros
A Fundação Nacional do Índio (Funai) no Maranhão abriu investigação para apurar uma denúncia do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) sobre o assassinato de uma criança indígena de 8 anos de idade da etnia Awá-Guajá na cidade de Arame, distante 469 quilômetros de São Luís. Depois de morta, a criança foi queimada e jogada em uma cova. A execução ocorreu no ano passado e os indígenas acreditam que madeireiros que cortavam árvores de forma ilegal em Arame estejam envolvidos no assassinato.
A criança foi executada na aldeia Tatizal, distante 50 quilômetros da sede de Arame. O crime, pelas informações do Cimi, ocorreu em outubro do ano passado. Na versão dos indígenas, a criança estava com os pais na aldeia, mas saiu para brincar e se perdeu deles no meio da floresta. Depois, os indígenas Awá-Guajá encontraram apenas o corpo da criança queimado em uma cova dentro da aldeia Tatizal.
O Cimi acredita que o crime tenha alguma relação com os madeireiros que cortam madeira de forma ilegal na região. Na mesma época em que a criança foi assassinada, índios Guajajara confirmaram que madeireiros estavam extraindo madeira na reserva Araribóia, por meio de correntão (uma técnica ilegal de desmatamento que consiste no uso de tratores e grandes e pesadas correntes para acelerar a retirada da vegetação). Os Guajajara acreditam que indígenas ligados aos madeireiros facilitaram a entrada deles na região. Os indígenas que facilitaram a entrada de madeireiros em Arariboia são da aldeia Batizal. Alguns índios acham que a criança foi morta porque testemunhou a ação dos madeireiros e dos indígenas, mas ainda não se sabe ao certo as razões do crime.
Nômades, os Awá-Guajá são os únicos indígenas isolados no Maranhão. Eles já deixaram a região onde ocorreu o crime. O Cimi afirma que os Awá-Guajá temem novos ataques. “O crime ficou um tempo escondido porque os Awá-Guajá são nômades e manter contato com eles não é fácil”, afirmou Luís Carlos Guajajara, integrante do Cimi no Maranhão.
Nesta sexta-feira, por meio de nota oficial, a coordenadora do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no Maranhão, Rosimere Diniz, afirmou que ataques indígenas são denunciados há bastante tempo. “Tem se tornado frequente a presença desses grupos de madeireiros colocando em risco os indígenas isolados. Nenhuma medida concreta foi tomada para proteger esse povo”, declarou.
Como primeira providência, a Funai encaminhou três técnicos à Arame para apurar a morte da criança indígena. A investigação foi instaurada a pedido da coordenadora da Funai de Imperatriz, Raimunda de Almeida. Os técnicos chegam na tarde desta sexta-feira a Arame. Um laudo com detalhes sobre o caso será divulgado na próxima segunda-feira, conforme a Funai de Imperatriz. A Funai informou que não vai se pronunciar sobre o caso sem antes ter os primeiros laudos sobre a morte da criança.
O Cimi também pretende denunciar o crime ao Ministério Público Federal (MPF) na próxima semana. Eles esperam apenas receber um vídeo da cova onde a criança foi enterrada. A Polícia Civil, diante das informações publicadas na imprensa local, também pretende abrir procedimento investigatório.
O último registro de assassinato de indígenas no Maranhão ocorreu em setembro do ano passado, quando o Solenilson Timbira, dos Krepum Kateyê, se envolveu em uma discussão com um morador da cidade e foi morto a facadas, na cidade de Itaipava do Grajaú, a 600 quilômetros de São Luís. Relatório do Cimi aponta que, em 2010, cinco indígenas dos povos Guajajara, Ka’apor e Timbira foram assassinados. Em todo o Brasil, foram 60 índios executados, conforme o Cimi.
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