domingo, 15 de maio de 2011

Padre a favor da união de casais gays

Padre Gilvander a favor da união homossexual

Em entrevista a um jornal carioca, a primeira reação do frei Gilvander Moreira, padre mineiro da Ordem dos Carmelitas, ao ser convidado a analisar a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a união civil entre pessoas do mesmo sexo foi de temor:

"Vou ser reconhecido por quem é de mente mais aberta, mas vou apanhar muito dos dogmáticos e conservadores". Porém, mesmo desconfiado de que pagaria caro pela entrevista, resolveu falar porque "a causa é justa e vale a pena". Mestre em Exegese Bíblica, professor de Teologia e assessor da Comissão Pastoral da Terra, Frei Gilvander disse que o Supremo está de parabéns por tornar visíveis as milhares de uniões homoafetivas do país.

Como o senhor recebeu a decisão do Supremo?

GILVANDER MOREIRA: Com alegria, pois é uma vitória dos movimentos e dos grupos que historicamente vêm lutando pelo direito à liberdade sexual homossexual. Nesse caso, o STF posicionou-se com justiça e equidade. A sociedade está em constante transformação, e esse grupo em questão existe e está no dia a dia vivendo e construindo suas relações à margem da sociedade. Devido a isso, o Direito não podia mais se esconder ou continuar negando esse direito a relações homoafetivas. Foi um exemplo de coragem e cidadania. Tornou-se visível o invisível. Declara-se assim o início do fim da hegemonia da moral heterossexual. Abre caminho para a afirmação, à luz do dia, das mais de 60 mil uniões estáveis entre homossexuais no Brasil, que até aqui pagavam um altíssimo preço pela sua orientação sexual.

Como o senhor vê hoje a situação dos homossexuais no Brasil?

GILVANDER: Segundo o pesquisador Luiz Mott, da UFBA, o mais preocupante é que o registro de violência contra a população LGBT vem aumentando ao longo dos anos. De janeiro a novembro de 2010, Mott contabilizou 205 assassinatos. Estima-se que o número de casos de discriminação da população LGBT atinge entre 10 mil e 12 mil por ano no país.

O senhor considera a sociedade brasileira preconceituosa?

GILVANDER: Infelizmente estamos numa sociedade preconceituosa, intolerante, hipócrita e cínica. Ainda há muito moralismo, fundamentalismos e sectarismos em segmentos conservadores de igrejas e da sociedade, que ficaram irritados e questionam o acerto da decisão. No último Censo, foi declarado que há mais de 60 mil uniões estáveis homoafetivas no Brasil. O movimento que defende os direitos dos homossexuais está crescendo, o que é muito bom. Na decisão do STF , não se pode deixar de destacar e parabenizar a luta deste movimento, que vem marchando pelas ruas e erguendo suas bandeiras.

Já ouviu confissões de pessoas que se declararam homossexuais? Que conselhos costuma dar?

GILVANDER: Já ouvi. Uma, por exemplo, perguntou: "Gostei muito da sua homilia de ontem. Por isso, resolvi me confessar. Frei Gilvander, ser homossexual é pecado?". Disse ainda que tinha lido um livro da Renovação Carismática que dizia que não era pecado ser homossexual, desde que não colocasse em prática o sentimento. Mas a pessoa disse que não tinha como não colocar em prática. Diante disto, preferia até se suicidar. Respondi que, se o elo mais forte de uma corrente é justamente o elo mais fraco, só poderá ser mais justo e aplaudido por Deus o elo enfraquecido e discriminado. Feliz do povo que ouve os clamores dos que fazem outra opção sexual senão a hegemônica. Deus ouve os clamores de todas as pessoas oprimidas. Deus é amor e não discrimina e nem pune ninguém por opção ou orientação sexual. Deus acolhe a todos sem distinção. Eu disse ainda que devemos respeitar todos, mas não podemos respeitar todos da mesma forma. Sentindo-se compreendida e acolhida, a pessoa desistiu do suicídio. Ergueu a cabeça, levantou-se e foi embora.

A união civil entre pessoas do mesmo sexo ameaça a família?

GILVANDER: Penso que não, por vários motivos. São minorias e há uma grande pluralidade de famílias hoje. Há famílias tradicionais; famílias só com mãe e filhos (monoparental); 80 mil famílias sobrevivendo debaixo da lona preta em acampamentos clamando por reforma agrária; milhares de famílias que sobrevivem apertadas em um único quarto de cortiço; milhões de famílias arrochadas em barracos nas favelas; famílias só "marido e mulher", sem filhos. Por que não pode haver também famílias homossexuais?

Há referências diretas ou indiretas na Bíblia sobre o tema?

GILVANDER: Na Bíblia, o primeiro relato da Criação (Gênesis 1,1-2,4a) mostra o ser humano profundamente ligado a todas as criaturas do universo. De uma forma poética, o relato bíblico insiste na fraternidade de fundo que existe entre todos os seres vivos, que são uma beleza. Nas ondas da evolução, Deus, ao criar, sempre se extasia diante de todas as criaturas e exclama: "Que beleza! Bom! Muito bom!" O livro de Atos dos Apóstolos resgata, nas primeiras comunidades cristãs, essa mística ao dizer que não há nada impuro. Tudo é puro, é sagrado.

O que o senhor tem a dizer sobre o uso da camisinha?

GILVANDER: Devemos preservar a nossa vida, a do próximo e a de toda a biodiversidade. Para isso, são necessárias várias coisas, entre as quais o uso da camisinha nas relações sexuais. Por questão de saúde pública e respeito à sacralidade de cada um. Não podemos correr risco de contrair HIV e/ou doenças sexuais que matarão o outro aos poucos. Isso não tem o apoio do Deus da vida. Mas camisinha não é panaceia para todos os males. Enquanto houver sexismo, imoralidades e erotismo trombeteados aos quatro ventos por novelas e filmes, reduzindo a mulher a objeto, infelizmente só usar camisinha será paliativo. É preciso educação de qualidade e elevar o nível cultural do povo.

Sua posição a respeito de tais temas é solitária na Igreja?

GILVANDER: Não. Há muitos teólogos e teólogas, cristãos e cristãs, que partilham conosco essas posições. Todo o povo da Teologia da Libertação. Na Igreja, há membros que comungam conosco dessa visão mais compreensiva com os direitos das minorias. Há igrejas e não apenas uma igreja. Quando membros da Igreja instituição se posicionam de forma moralista, proselitista e autoritária, afugentam muitas pessoas. Mas quando membros da igreja ouvem, dialogam e, inspirados no evangelho de Jesus Cristo, testemunham o grande sonho do Deus, o da vida em liberdade e abundância, cativam muitas pessoas para se engajar em projetos humanizadores.

8 comentários:

  1. É né..Essa Padre ja pode se considerar expulso da Igreja Catolica...mas enfim..é uma opnião que se deve ter no mundo de hoje,por que a nossa sociedade tem que estar preparada pra tudo e os homossexuais tbm buscam seus espaço e direitos como todos né...

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  2. Esse padre é um herege. Lamentavelmente opiniões toscas, de hereges dos mais diversos tipos - de boa-fé ou má-fé - terminam sendo replicadas via internet e outros veículos. O caso dele é de mistura crônica de ignorância e má-fé mesmo, sobre a Verdade revelada por Deus e confirmada pela Igreja. Pelo frutos se vê a árvore. Ele mesmo confirma que é originário da famigerada "Teologia da Libertação" - para alguns teologia marxistóide da libertação - que de sua vez, é fruto de um outro horror: aquela corrente ideológica que outrora ousou defender a morte como instrumento de construção de uma sociedade só trabalhadores: o marxismo. Ele deve ter lido a cartilha do ex-frei Leonardo Boff, herege marxistóide (e ainda por cima adúltero) que, como ele, defende a existência de "outra igreja".

    Obs.: Na "outra igreja" - a deles - o aborto é permitido, não há celibato, o adultério (não há casamento) corre solto, não há Deus (há deuses conforme a criatividade do fiel) e Cristo é mais um, ao lado de Ghandi, Buda, Maomé, Lenin... e sei lá mais quem.
    Marlon Roberto da Silva.

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  3. Há pelo menos mais um argumento que torna plausível a aceitação da união estável homoafetiva pela(s) Igreja(s): a idéia de que a união entre homem e mulher é aceita, dentre outras razões, pela ponderação dogmática (e moralista) de que é preferível que o homem (ou mulher) se satisfaça sexualmente com um único parceiro a viver em libertinagem, promiscuidade ou fornicação com vários. Sendo Assim, o mesmo argumento pode ser aplicado à questão da união homoafetiva.
    Eu não sou, nunca fui e nem pretendo me tornar gay, não sou simpatizante...
    Apenas compreendo que, assim como quero que minha liberdade seja respeitada,assim também seja a liberdade de qualquer pessoa.
    Abaixo à hipocrisia;parabéns ao padre.

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  4. Concordo com você, Josélio.

    A opinião do padre em questão deve ser respeitada, com certeza.

    O que espanta é que um padre tenha tal posicionamento manifestado de forma pública, o que nos dá a dimensão da heterogeneidade presente no seio da Igreja Católica.

    Cada vez mais, a Igreja tende a revelar sua multiplicidade de correntes teológicas e sua diversidade de opiniões sobre temas tão polêmicos como este sobre a união civil de casais homossexuais, bem como sobre o celibato e o uso da camisinha, dentre outros assuntos espinhosos para a instituição eclesiástica.

    Grato pela participação. Abraços fraternos.

    Hugo Freitas

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  5. Companheiro Marlon, saudações.

    Respeito sua opinião, apesar de não concordar com ela.

    Você não acha muita intolerância dizer que alguém é "herege" pelo simples fato de emitir opinião sobre um tema tão polêmico e que tanta controvérsia já causou (e ainda causa) no seio da própria Igreja Católica?

    Não perca de vista que a Igreja Católica é formada por inúmeras correntes teológicas, sendo que muitas consideram um verdadeiro "atraso" o posicionamento oficial da instituição contra o homossexualismo, contra a camisinha e o aborto, além de outros assuntos espinhosos e polêmicos.

    Nada mais natural que opiniões se diferenciem entre si, principalmente sobre temas como estes supracitados.

    Uma leitura mais aprofundada sobre o marxismo e a Teologia da Libertação lhe propiciará, com certeza, maior discernimento sobre o tema analisado, a fim de que seus argumentos se fundamentem não em meros "achismos" dogmáticos, mas em uma visão mais plural e reflexiva que contemple o contraditório sem o princípio ou ameaça de exclusão, de qualquer tipo que seja.

    Grato pela participação. Abraços fraternos.

    Hugo Freitas

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  6. Parabéns pela clareza de posicionamento e lucidez de espírito, companheiro "Anônimo".

    Assim como é necessário que respeitem nossa liberdade, devemos respeitar a liberdade de outrem.

    Estou de acordo com seu manifesto: "Abaixo à hipocrisia!!!" E Viva a Liberdade, em toda sua plenitude!!!

    Grato por sua participação. Abraços fraternos.

    Hugo Freitas

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  7. Q todos possa viver de uma maneira respeitosa e busque seu espaço direito a igualdade SIM

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  8. Isso mesmo, companheiro "Anônimo".

    Que todos possam ter direito à igualdade de direitos SIM!

    Grato pela participação. Abraços fraternos.

    Hugo Freitas

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Grato pela participação.