segunda-feira, 23 de maio de 2011

A IMPRENSA CONTRA O ROCK, EM 1956

Hoje é algo risível, mas esse editorial foi real. Suponho que daqui a alguns anos, toda essa desfaçatez contemporênea de nossa mídia não passará de uma risível e indiscutível cegueira.

Por Elímpio Severo, jornalista

Há 50 anos

O jornal O Globo tem uma coluninha do segundo caderno que sempre traz uma notícia estampada nas páginas do jornal há exatos 50 anos. Faz pouquíssimo tempo (07/11) saiu uma sobre um certo ritmo que estava aparecendo em 1956: 

“POLÍCIA PRONTA PARA O ROCK AND ROLL (O Globo, em 07/11/1956) Rock and roll em 1956

Telegramas de Londres, Paris, Lisboa e outras grandes capitais nos dão conta da estranha acolhida que vêm merecendo por parte do público as músicas que caracterizam o novo ritmo originário dos Estados Unidos, o rock-and-roll.

A música, segundo os telegramas, parece endoidecer os jovens, que se atiram às mais grotescas extravagâncias ao som da cadência alucinante. Seu lançamento coincide, sempre, com a exibição do filme ‘Rock-around-the-clock’, e as sessões cinematográficas têm terminado geralmente em baderna, com os espectadores depredando as salas de projeção e promovendo depois, na rua, autênticos shows de dança bamboleante e frenética.

No Brasil, onde a música já foi lançada por diversas emissoras, não parece ter transformado assim o espírito dos adolescentes. Há, no entanto, ao que se noticia, uma ameaça: um grupo de playboys e teenagers cariocas estaria planejando uma demonstração de conseqüências imprevisíveis. É claro que seria uma coisa puramente artificial, se preparada.

Pelo seu caráter de evidente demonstração de desprezo aos bons costumes e pela perturbação que poderá causar à ordem pública, essa possibilidade já alertou as nossas autoridades, conforme ouvimos do delegado substituto de Costumes e Diversões, Sr. Clértan Arantes, que nos informou haver tomado conhecimento da ameaça, tendo determinado que se exerça uma vigilância especial com relação ao assunto.

Eu aconselharia aos pais dos jovens que se têm deixado transtornar pela música em questão a levá-los ao médico psiquiatra, pois alguma coisa está errada em suas mentes. No que diz respeito ao cumprimento da Lei, no entanto, é ponto pacífico: a ordem será mantida — disse o delegado.”

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