quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

CARNAVAL, FUNC E A HIPOCRISIA DE MOMO


Por Hugo Freitas
Historiador e Sociólogo

Não é nenhuma novidade o fato do poder público custear certas despesas das agremiações que realizam o Carnaval em São Luís. Escolas de Samba e Blocos Tradicionais, de alguns anos para cá, sempre contaram com as verbas da Prefeitura e do Governo do Estado para desfilar na Passarela.

O que assombra é o fato de inúmeros hipócritas apoiarem a decisão da Func de não pagar cachê aos grupos carnavalescos da cidade sem o mínimo de reflexão plausível.

Se é para cortar as verbas daqueles que realizam o Carnaval, que fazem a alegria da população, que atraem milhares de turistas para a cidade nesta época do ano para prestigiar uma das festividades carnavalescas mais originais do país, então que não se contrate mais nenhum artista ou banda de fora pagos com o mesmo dinheiro público.

Muita gente fez vista grossa para os mais de 10 milhões de reais que o Governo do Estado despejou no colo da Beija-Flor no carnaval do ano passado, por acreditarem que tal soma seria um "investimento" no turismo da cidade, uma vez que a grande campeã carioca estaria divulgando as belezas, riquezas e tradições de São Luís, em comemoração aos seus 400 anos, para os quatro cantos do Brasil e do mundo. Acabou que não deu certo e a Beija-Flor não foi campeã, como muitos sonharam.

Muita gente também adorou o dinheiro gasto pelo Governo referente ao pagamento das bandas e artistas que vieram comemorar conosco o quarto centenário da outrora "Ilha Rebelde". Estive lá e presenciei muitos dos hipócritas que agora vociferam a favor da Func e contra os grupos regionais.

Muita gente nunca criticou também o fato de determinados grupos folclóricos sempre estarem nos mesmos palcos do Governo e da Prefeitura todos os anos, recebendo grandes somas para apresentarem as manifestações culturais do Estado. Pelo contrário, os que apoiam uma decisão que prejudica escolas e blocos são os mesmos que saem dançando feito "bicho", se é que você me entende, fiel leitor.

Pois é. Os mesmos fanfarrões e hipócritas que agora grasnam a favor da decisão do presidente da Func sobre o não pagamento de cachê aos grupos carnavalescos da cidade são os mesmos que silenciam e fazem vista grossa quando a mesma questão ocorre na esfera estadual. Por que $$$erá???

Não tenho nada contra a Func ou seu presidente. Pelo contrário. Fui um dos entusiastas da campanha que levou Edivaldo e seu secretariado a "chegar lá". Agora, não consigo vislumbrar nenhuma benesse nisso tudo, salvo as verbas da Passarela destinadas para a Saúde.

Cultura é negócio, é investimento. Mas que só atrai retorno financeiro quando há planejamento prévio das ações que serão tomadas para que tudo saia nos conformes.

Quer dizer que a máxima de não pagamento de cachê só vale para os grupos da terra? Para quem não sabe, é muito difícil colocar nas ruas um bloco carnavalesco ou uma escola de samba sem a ajuda do poder público. Falta apoio da iniciativa privada e a Prefeitura poderia ter agido nesse sentido também, coisa que não fez.

Pior é saber que são esses mesmos grupos carnavalescos, que atraem turistas e levam o nome da cidade para além das fronteiras regionais, os primeiros a serem preteridos quando se destinam somas absurdas para pagar bandas de forró, grupos de pagode, duplas sertanejas, "rainhas do axé" e "reis da MPB", todos vindos de fora.

A questão não é saber quem vai lucrar ou não com o carnaval, se existem mercenários ou não na folia de momo, uma vez que todos lucram, desde as cervejarias aos donos de estabelecimentos privados alugados para órgãos públicos (quanto terá sido o aluguel da Patrimônio Show para a realização do carnaval da Prefeitura?), inclusive a própria Prefeitura, ao vender, (neste caso) gratuitamente, a imagem de São Luís como polo turístico carnavalesco.

A questão é saber quem será o maior prejudicado. Neste caso, aqueles que fazem a folia acontecer, os protagonistas que transformaram São Luís na capital com a maior diversidade cultural de todo o país.

Não é à toa que Joões, Josés, Couxinhos, Tetés, Leonardos, dentre tantos outros, a verdadeira "realeza" da cultura maranhense, como bem observou Zeca Baleiro, morreram à míngua e relegados à miséria dos guetos espalhados pela cidade.

E viva a hipocrisia de momo!!!

4 comentários:

  1. bela visão. Participei da flor do samba. E vi de perto o quanto é difícil, mesmo com a juda da prefeitura, colocar uma escola na passarela. Pessoas dedicando seu tempo, suas economias, fazendo "vaquinhas" pra se comprar isso e aquilo. Mas o carnaval de rua vai continuar? não? O que é marcante na nossa capital... Temos que levar em consideração que, com política, sempre terá os esquerdistas e direitistas sobre cada medida tomada ao longo de 4 anos. Muito bom post! Parabéns Hugo!

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    1. Isso mesmo, Kelven.
      A intenção deste artigo foi justamente de suscitar o debate e oferecer um contraponto ao pensamento dominante de apoio a tal decisão da Func.
      Afinal, quem faz a cultura do Maranhão é o povo pobre do Maranhão. Se for para cortar verbas alegando tal situação de "terra arrasada", que não se contrate mais ninguém "de fora" com dinheiro público.
      Grato pela participação.

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  2. Concordo com você, parabéns pelo pensamento e um abraço.

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Grato pela participação.