sábado, 2 de março de 2013

O LOBO E OS LEÕES

Edson Lobão

Por Hugo Freitas
Historiador e Sociólogo

Não dá mais para esconder ou fazer vista grossa ao fato que está animando as discussões sobre o cenário político maranhense, em pleno ano de pré-campanha eleitoral: existe um "racha" dentro do grupo liderado pela família Sarney.

O ministro de Minas e Energia, Edson Lobão (PMDB), está mostrando claramente, a cada dia, sua insatisfação em não ter sido "ungido" pelo grupo ao qual ainda pertence como o nome para disputar o cargo de governador do Maranhão nas eleições do ano que vem.

As garras de Lobão estão afiadas e preparadas para causar profundas feridas no grupo Sarney. Isto ficou claro nas matérias veiculadas pelo Sistema Difusora, conglomerado de rádio, TV e site na internet, de propriedade de sua família, onde foram expostas as "veias abertas" das obras de revitalização do Hospital Pan Diamante, iniciadas em 2011 com prazo de 120 dias para serem concluídas e que até agora não tem data de término, e da Via Expressa, um dos principais chamarizes do governo Roseana, onde foram mostradas irregularidades nas questões de sinalização de placas e faixas de trânsito.

A Via Expressa, por sinal, deverá compor parte da argamassa que irá balizar o discurso eleitoral do candidato escolhido pelo grupo Sarney, o agora secretário estadual de Infra-estrutura, Luís Fernando.

A favor de Fernando, de 57 anos de idade, consta sua experiência administrativa no município de São José de Ribamar, do qual foi prefeito por dois mandatos (2005/2008 e 2009/2012), tendo sido reeleito, em 2008, com assombrosos 98,68% dos votos (quase uma unanimidade), o que o projetou no jogo político local como uma figura a ser considerada pelos jogadores inscritos na disputa sucessória de 2014.

Já o peso político de Lobão, de 77 anos, é mais consolidado e vem de longa data, constando em seu currículo um mandato de deputado federal (1978/1982), ainda nos tempos da extinta Arena, três de senador (1986/1990, 1994/2002 e 2002/2010) e um quatriênio à frente do Poder Executivo Estadual, governando o Maranhão de 1991 a 1994, sempre com o apoio de seu padrinho politico, o senador José Sarney.

Para Lobão, seu histórico na política maranhense se constitui num capital político que mereceria maior valor por parte dos membros de seu grupo, o que não está acontecendo agora. Lobão quer, a qualquer custo, ser o candidato à sucessão de Roseana Sarney no comando do Governo do Estado.

Por isso, a "briga" interna do lobo contra os leões palacianos ganhou ares públicos. Lobão desferiu seus "ataques" ao grupo Sarney precisamente através de seu sistema de comunicação, a principal arma política utilizada por aqueles que intentam governar uma população miserável e analfabeta apenas através do discurso.

Nesse aspecto, Lobão ainda consegue seguir os ensinamentos do “mestre Sarney”, que em recente entrevista afirmou que “se não fosse político, não precisaria ser dono de um sistema de comunicação”, no caso, a Mirante.

Os uivos do velho lobo acenderam o estopim para que o estado de “guerra fria” fosse declarado dentro do grupo Sarney. O escalado para dar a "rugida" dos leões ao ministro foi o secretário estadual de Saúde, Ricardo Murad, que utilizou as redes sociais para achincalhar os lobos que comandam o Sistema Difusora, Edson Lobão e Edson Lobão Filho, este último senador e presidente do grupo de comunicação.

Em sua página no facebook, Ricardo Murad acusa a emissora de Lobão de estar “servindo a interesses meramente politiqueiros”, tornando público “um monte de mentiras”, e lamentando o fato das notícias “deturparem” a realidade da saúde em Coroatá. “Uma pena uma emissora que tem como proprietários o ministro Edison Lobão e o senador Edison Lobão Filho se prestar para um papel desses”, escreveu Murad.


A reação dos leões contra os lobos foi deflagrada a partir da denúncia exibida pela TV Difusora de que um suposto número de 44 pacientes oriundos de Coroatá, município gerido pela esposa de Ricardo, Teresa Murad, teriam sido transferidos para o Socorrão I, em São Luís, durante o mês de fevereiro.

Para endossar esse ebuliente caldo, corre nos bastidores da política maranhense a existência de conversas sendo feitas nas “sombras” entre partidários ligados a Lobão e a Flávio Dino numa tentativa de costura de uma possível aliança para o pleito vindouro, o que seria cômico (para não dizer “trágico”), já que os oradores da “mudança” se arvoram no discurso “anti-oligarquia” como principal base argumentativa para tentar convencer o eleitorado local de que Dino merece sentar na cadeira de governador. Para os mais desatentos, Lobão é o braço direito da “oligarquia Sarney” no Maranhão.

Mas uma questão fica em aberto nesse imbricado tabuleiro: se Lobão está insatisfeito por ter sido supostamente preterido na escolha de Luís Fernando como candidato à sucessão de Roseana no Governo do Estado, por que correr justamente para o lado oposto, o da “oposição dinista”, se Flávio Dino não sinaliza, de jeito nenhum, abrir mão de seu sonho pessoal, que é comandar o Maranhão?

Uma possível resposta seria a que a imprensa política local está aventando: Lobão está apenas fazendo “jogo de cena”, para chamar a atenção de seus padrinhos e dizer que ele está muito vivo no páreo de 2014.

Nesse caso, estaria Lobão “dinizando” apenas para fazer tremer o grupo Sarney, tal como o próprio Ricardo Murad, nas eleições de 1994, quando ele também esperneou que queria ser o candidato do grupo e teve de engolir a filha de José sentar na tão sonhada e disputada cadeira de governador?

Por outro lado, não estaria Flávio Dino cometendo um grave erro ao tentar costurar uma aliança com Lobão? No afã de ditar as normas a partir do Palácio dos Leões, tremulando o estandarte da "mudança", não seria um tiro no pé um apoio vindo do velho lobo "oligarca-sarneysista"?

As questões estão postas. O movimento das peças visando as eleições de 2014 já começou, que o diga as viagens de Dino pelo interior do Maranhão, na tentativa de restabelecer um velho jargão sempre recorrente em tempos de eleição: a união da "oposição" maranhense, isto é, as famosas e surradas “oposições coligadas”, ou melhor, “oposições colegadas”. Mas isso é assunto para um outro artigo.

Por ora, despeço-me com uma reflexão: em briga de lobos e leões pelo poder é melhor não arriscar um vitorioso, pois na hora da refeição, ambos compartilham do mesmo prato principal: o sofrido, enganado e não representado povo maranhense.

6 comentários:

  1. Não posso deixar de comentar esta matéria, além de ser uma ótima reflexão sobre a politica canalha que vivenciamos no nosso estado é uma ótima oportunidade para analisar um pouco mais a posição de Flávio Dino que visa entrar nessa briga acirrada pelo comando do nosso estado. Realmente também vejo que essa "mudança" tão almejada por Flávio Dino não passa de um mero clichê para chamar a atenção dos eleitores e como consequência acorrentar ainda mais os maranhenses a uma ditadura "dinista". O que resta na verdade é assistimos de camarote o que vai ocorrer daqui pra frente. E esperar! No final das contas nessa briga de "lobos e leões" quem sai machucado é sempre o povo.

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    1. A grande questão é desvendar os "poderes" que estão por trás das práticas e dos discursos dos que participam deste imbricado tabuleiro, que é a política-partidária no Maranhão, tanto dos que querem permanecer no poder quanto os que "lá" desejam chegar.
      Obrigado pela participação, minha prezada jornalista.
      Um abraço!

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  2. E o povo, lamentavelmente, continua na mesma condição: sem informação, sem capacidade de ler as entrelinhas dos discursos falaciosos dos que desejam derrubar uma oligarquia e criar outra...
    (Dina Ribeiro)

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    1. Isso mesmo, Dina. A minha proposta é justamente essa: mostrar ao povo maranhense o que está por trás das práticas e dos discursos dos políticos destas plagas senhoriais.
      Grato pela participação.

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  3. No passo em que o caminho se alarga começa a surgir oportunidades e quem está nessa estrada não quer perder a chance e quando este é colocado de lado começa a mostrar as lacunas existentes para um alargamento tão extenso.

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Grato pela participação.