quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Kim Jong-il, o líder que buscou transformar a Coreia do Norte numa potência nuclear

Kim Jong-il, líder morto da Coreia do Norte

Chamado oficialmente de "Querido Líder" e filho de Kim Il-sung, fundador do país após a divisão das Coreias no fim da Segunda Guerra Mundial, o governante era cercado por mistérios. Segundo a propaganda oficial, quando Kim Jong-il nasceu, em 1942, surgiram no céu uma estrela e um arco-íris duplo. Desde então, o monte Paekdu, onde teria nascido, é considerado um lugar sagrado.

Estátua de bronze de Kim Jong-il na Coreia do Norte

Kim cultivou o que foi talvez o último grande culto à personalidade no mundo comunista. Seu retrato, junto com seu pai, aparece em todos os prédios do país. Torres, outdoors e até mesmo montes rochosos estampam sua imagem.

Pequeno e barrigudo, ele usava sapatos para parecer mais alto. Outra marca registrada eram os enormes óculos escuros e os penteados extravagantes.


Kim era fascinado por cinema. Ele chegou a orquestrar o sequestro de uma atriz e um diretor sul-coreanos, nos anos 70, na tentativa de construir uma indústria cinematográfica nacional, mas o plano deu certo. Os dois conseguiram fugir e seguiram para a Áustria.

Segundo os relatos imprecisos em que sempre se basearam as informações sobre sua vida, o ditador teria um arquivo com mais de 20 mil filmes estrangeiros, incluindo a série completa de James Bond, seu favorito. Ele também seria admirador de basquete, carros, cigarros, conhaque e pratos da alta culinária. Um ex-sushiman particular de Kim disse que ele tinha ainda um estoque com 10 mil garrafas de vinho.

Mesmo comandando um país quebrado, ele usou seu programa de armas nucleares - a única carta que tinha na manga - de forma astuta. Inicialmente, desafiando os esforços do governo Bush para colocá-lo na berlinda; depois explorou a concentração dos EUA na guerra do Iraque para estocar combustível nuclear suficiente para seu reator em Yongbyon. Acredita-se que o país tenha combustível suficiente para entre seis e oito armas.


Fascínio, críticas e reconhecimento nos EUA

Desde então, o líder norte-coreano frustrou potências ocidentais com seus avanços e recuos nas negociações sobre seu programa nuclear, em que exigia assistência energética e em outros setores em troca de compromissos.

Além de sua duradoura ambição nuclear, Kim também despertava preocupações internacionais por suas constantes ameaças à Coreia do Sul, com quem o Norte se mantém oficialmente em guerra, embora o confronto armado entre os dois lados tenha acabado há mais de 50 anos.

Sentindo-se ameaçados, os EUA dizem temer que as armas nucleares coreanas caiam nas mãos de grupos terroristas. Também por isso, Kim era fonte de fascínio na CIA (Agência Central de Inteligência Americana), que entrevistou suas amantes, tentou rastrear seu paradeiro e analisou psicologicamente seus atos.

Nos Estados Unidos, era também alvo de piadas e constantes críticas. Ele foi chamado por George W. Bush de "pigmeu" e incluído no eixo do mal, junto com Iraque e Irã.

Na Coreia do Sul, o líder do norte também era retratado de forma pouco prestigiosa. Livros escolares sul-coreanos mostravam o ditador como um diabo vermelho, com chifres e garras.

O ex-presidente Roh Moo-hyun do país chegou a reconhecer, porém, que Kim Jong-il era uma "pessoa muito franca". A ex-secretária de Estado americana Madeleine Albright, que se reuniu com o governante em Pyongyang, classificou-o como "esperto e bem informado".

O ditador teria sofrido um ataque cardíaco em 2008, o que o levou a um quadro de saúde debilitada. Em fotos e vídeos oficiais de eventos no país e em recentes viagens à China e Rússia, ele aparecia saudável. Em setembro de 2010, porém, novos rumores sobre sua morte iminente ganharam força quando ele anunciou seu filho mais novo como sucessor. Na ocasião, Kim Jong-un foi promovido nas fileiras do Exército.

Quinto maior Exército do mundo

A personlidade de Kim Jong-il era cultuada na Coreia do Norte desde o governo de seu pai, que, na Rússia, lutou contra o Japão pela independência coreana e emergiu como líder comunista ao voltar a seu país, em 1945. A linha stalinista começou a ser seguida na criação da Coreia do Norte, com retratos do líder e de seu filho espalhados pelo território nacional.

Antes mesmo da sucessão, já havia indícios de que Kim Jong-il manteria, ou até mesmo aprofundaria a linha dura imposta pelo pai. A Coreia do Sul acusava-o de ter planejado um ataque em 1983 que matou 17 sul-coreanos em Mianmar.

Quando ele assumiu o poder, em 1994, já tinha sido treinado durante 20 anos, período em que foi chefe da Comissão de Defesa Nacional, comandante do Exército e líder do Partido Trabalhista.

Kim manteve a prioridade para as questões militares, destinando grande parte dos escassos recursos norte-coreanos para construir o quinto maior Exército do mundo. O primeiro teste nuclear do país veio em outubro de 2006. Outro foi realizado em 2009. Um pacto de desarmamento chegou a ser negociado em 2007, mas o processo foi interrompido pouco depois. No mesmo ano, ocorreu a segunda reunião entre as duas Coreias. A primeira, em 2000, também fora obra do governo Kim.

Segredos sobre a família governista

No início dos anos 2000, a Coreia do Norte já enfrentava uma crise de falta de alimentos, que fez milhares de pessoas se arriscarem para deixar o país, um dos mais fechados do planeta. Surgiram então relatos chocantes sobre fome, perseguição política e abusos cometidos pelo governo Kim. Ainda assim, o país guarda muitos segredos.

Sabe-se pouco até mesmo sobre a família de Kim Jong-il. O ditador teria se casado uma vez e depois teria tido outras três companheiras. Ele teve pelo menos três filhos, com duas mulheres, e uma filha. Seu primogênito, Kim Jong Nam, tem cerca de 40 anos e teria sido preterido como sucessor após ter tentado entrar no Japão com um passaporte falso, em 2001. Seu objetivo seria então visitar a Disney, em Tóquio.

Os outros dois filhos, são o sucessor Kim Jong-un e Kim Jong Chol, ambos com cerca de 20 anos. A mãe deles teria morrido anos atrás.

Uma das primeiras (e poucas) imagens do corpo de Kim Jong-il a serem divulgadas pelo governo norte-coreano

Hugo Freitas
Com informações da Agência Reuters

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