quinta-feira, 8 de setembro de 2011

CRÍTICA À "PATERNIDADE FRANCESA" DE SÃO LUÍS

Busto de Daniel de La Touche na sede da Prefeitura

A capital do Maranhão, São Luís, completa nesta quinta-feira (8) 399 anos sem saber ao certo se é a única cidade brasileira fundada por franceses ou se é mais um município de origem lusitana entre tantos no Brasil. Pesquisadores levantam dúvidas se foi realmente fundada pelo francês Daniel de La Touche. Outra hipótese é Jerônimo de Albuquerque Maranhão, um mameluco português nascido da relação entre um português e uma indígena.

Os primeiros questionamentos surgiram há exatos dez anos com a professora da Universidade Estadual do Maranhão Maria de Lourdes Lauande Lacroix em seu livro “A fundação francesa de São Luís e seus mitos”. Segundo ela e outros pesquisadores ligados à Universidade Estadual do Maranhão (Uema) e à Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o aniversário de São Luís passou a ser comemorado dia 8 de setembro somente a partir de 1912.

Até então, foram 300 anos sem qualquer tipo de festividade. Os livros de história nunca trataram os franceses como “fundadores” e sim como “invasores”. Além disso, o 8 de setembro era conhecido em São Luís como “Dia da Natividade de Nossa Senhora”.

No início do século 20, o pesquisador José Ribeiro do Amaral, um dos fundadores da Academia Maranhense de Letras (AML), escreveu o livro “A Fundação do Maranhão” que apontava como marco de fundação da cidade a missa celebrada pelos padres capuchinos franceses quando chegaram à então ilha de Upaon-Açu, em 1612. Oficialmente, os franceses chegaram dia 8 de setembro, mas essa missa aconteceu somente dias depois conforme Maria de Lourdes Lauande Lacroix.

Documentos históricos dos primeiros franceses que chegaram ao Maranhão nunca descreveram o termo “fundação”. Existia sim uma intencionalidade de se fundar a Franca Equinocial e de transformar São Luís em uma cidade. Mas essa intenção nunca saiu do papel. Os portugueses expulsaram os franceses da então Ilha de Upaon-Açu antes dos gauleses colocarem seu plano em prática.

Segundo o documento “História da missão dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças”, os franceses chegaram à Ilha de Upaon-açu em julho de 1612, chefiados por Daniel de La Touche. Os gauleses construíram um forte onde hoje está localizado o Palácio dos Leões, sede do governo do Estado. O forte foi batizado de São Luís em homenagem ao “rei menino” Luís XIII. Eles também abriram algumas trilhas em um raio de aproximadamente 30 quilômetros e ergueram alguns galpões improvisados e igrejas de taipa com a ajuda dos índios mas não havia um projeto consistente de construção de uma cidade.

Somente a partir da expulsão dos franceses pelos portugueses na Batalha de Guaxenduba em 1614/1615 é que a então Ilha de Upaon-Açu ganhou um planta elaborada pelo engenheiro-mor português militar Francisco Frias e Mesquita contendo um projeto arquitetônico e o arruamento original da cidade. Esse projeto é hoje o Centro Histórico de São Luís que mantém quase que em totalidade o seu projeto original. Sem casarões, azulejos ou monumentos de origem francesa.

Após expulsarem os franceses, os portugueses mudaram o nome do forte construído pelos franceses para São Felipe e, uma vez que os habitantes da ilha já haviam se acostumado com o nome São Luís, os lusitanos decidiram manter o nome dado pelos franceses ao forte, segundo alguns historiadores.

A paternidade francesa de São Luís, conforme historiadores como Maria de Lourdes Lauande Lacroix, João Mendonça Cordeiro, entre outros, surge no final do século 19 e início do século 20 como forma de dar uma identidade à já decadente São Luís. Essa ideia da fundação francesa surge também com o título de Atenas Brasileira, alcunha conferida pelos intelectuais da AML pelo fato de São Luís ter sido berço de escritores e historiadores importantes do século 19. “Atenienses alienados, em busca de um presente glorioso como fora no passado a Atenas Brasileira, dominados pelo galicismo, criaram, em 1912, o mito da fundação francesa da cidade de São Luís”, relata Cordeiro.

A visão de que São Luís não foi fundada por franceses não é bem aceita entre os intelectuais de São Luís. Membros da AML como Jomar Moraes, por exemplo, questionam essas análises dos professores da Uema e UFMA afirmando que isso é uma interpretação equivocada da historiografia maranhense. O fato é que há dez anos existe uma discussão sobre qual seria o marco da fundação de São Luís: a construção de um forte ou o planejamento arquitetônico da cidade?

Hugo Freitas
Com informações do portal IG

2 comentários:

  1. Como disse Fábio Lima: - Já não me importa quem fundou São Luís, mas quem 'afundou' a cidade! Porém, permanece a pergunta: que consequências terão para a cidade a resolução dessa querela historiográfica academista? Qual o significado sociológico dessa polêmica? Por que 'mito' e 'história' continuam a ser tratados como antinomias entre fábula e verdade? É interessante nós aprofundarmos a reflexão sobre a 'sociologia da mentira' no Maranhão. Quem sabe assim possamos chegar num ponto mais interessante do debate...

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  2. Boa provocação, Alexandre.

    Refletir sobre os "impactos" dessa tal "paternidade" francesa para a população de São Luís de um ponto de vista sociológico é uma proposta bastante salutar e, com certeza, abre boas possibilidades de pesquisa sobre o assunto.

    Grato pela participação. Abraços fraternos.

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Grato pela participação.