terça-feira, 2 de agosto de 2011

POLÊMICA: FILME INDIANO MISTURA HITLER E GANDHI


Após uma polêmica filmagem, foi lançado na Índia um esperado filme sobre Adolf Hitler realizado totalmente neste país que, no entanto, recebeu críticas demolidoras por sua visão ingênua do ditador nazista.

"Dear Friend Hitler" ("Querido Amigo Hitler", em tradução literal) conta com atores indianos de alta categoria, e baseia seu roteiro em duas cartas que o pai da independência do país, Mahatma Gandhi, escreveu ao alemão para dissuadi-lo de seu intuito bélico durante a Segunda Guerra Mundial.


"Queremos levar uma mensagem de paz da Índia para o mundo, mostrar os fundamentos de que somos um país secular e amante da paz. Cada indiano leva Gandhi dentro de si", disse à Agência Efe o roteirista do filme, Nalin Singh.

O cinema indiano, o mais prolífico do planeta com cerca de mil produções anuais, já causou polêmica em 2010 com sua tentativa de tratar com humor a figura de Osama bin Laden, mas nesta ocasião o projeto causou suspeitas desde o início.

O diretor, Rajesh Ranjan Kumar, louvou no ano passado a contribuição "indireta" de Hitler à independência indiana, e Neha Dupia, popular atriz que interpreta a amante do ditador (Eva Braun), disse ser uma "grande fã" do casal.

Para evitar polêmicas, Nalin Singh afirmou que o filme procura apenas mostrar a superioridade do movimento gandhiano sobre o nazismo, e de modo algum apresentar o ditador de forma idealizada, como teme, por exemplo, a pequena comunidade judaica da Índia.


"Em muitas partes do mundo há protestos e é um bom momento para definir um método: o que é melhor, a não violência ou as pistolas?", perguntou Singh, que interpreta no filme o ministro nazista da Propaganda, Joseph Goebbels.

Com orçamento de US$ 3,4 milhões, a produtora recriou em Nova Délhi o bunker no qual Hitler passou seus últimos dias e optou pelas regiões montanhosas do norte como cenário para as cenas exteriores.

Pelo que pode ser visto no trailer, o filme funciona como pouco menos que uma cópia de "A Queda - As Últimas Horas de Hitler", embora misture a história com a vida simples de Gandhi no campo.


Os oficiais alemães do Reich são interpretados por atores de pele morena, e os horrores da guerra mundial abrem uma bizarra passagem para um grandioso baile punjabi durante a festa indiana das cores, tão típica da cinematografia deste país.

As críticas até agora foram implacáveis - "direto para a lixeira da história do cinema", apostou um crítico de televisão -, mas os produtores esperam conquistar a corrente do país que enxerga Hitler como um "homem de ordem".

A autobiografia política do ditador nazista, "Minha Luta", é um dos livros mais visíveis tanto nas prateleiras das livrarias indianas como nas improvisadas barracas de comércio de rua das principais cidades, que vendem edições baratas de bolso.

"Eu acho que o sucesso do livro se deve ao fato de os leitores terem curiosidade para saber o que (Hitler) conta", disse à Efe Sohin Lakhani, da Embassy Books, uma das várias editoras que publicam o livro.

Os indianos mais nacionalistas são atraídos pelas referências de Adolf Hitler à "raça ariana", em parte porque os próprios indianos atribuem a povos arianos da Ásia Central os componentes da fundação da milenar civilização hindu.


Além disso, os setores mais radicais da Índia não têm pudor em defender as políticas que Hitler aplicou aos judeus contra a própria minoria muçulmana presente no país asiático, e usaram no passado o ditador alemão como uma de suas referências.

Hitler influenciou teóricos da supremacia hindu como Madhav Golwalkar e V. D. Savarkar, e também, como mostra o filme, o líder indiano Subhas Chandra Bose, que lutou junto ao lado dos japoneses para conseguir a independência de seu país durante a guerra.

"Abra 'Minha Luta' e substitua a palavra judeu por muçulmano. Eu acredito nisto", chegou a dizer na década de 1990 o influente líder da formação hindu Shiv Sena, Bal Thakeray.


"Dear Friend Hitler" vai estrear também nos Estados Unidos e no Reino Unido e já foi exibido em maio no Festival de Cannes. "Acaba sendo divertido sem querer. É uma coisa que está além do horrível", declarou um dos críticos.

As informações são da Agência de Notícias EFE
Ilustrações: Hugo Freitas

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