segunda-feira, 18 de abril de 2016

A Vingança de Zé Reinaldo


Por Hugo Freitas

Ao emitir seu voto pelo "sim" à abertura do processo de Impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), aprovado neste histórico domingo (17) na Câmara dos Deputados (SIM 367 x NÃO 146 [contra/abstenções/faltas]) e que segue agora para o Senado, o deputado federal José Reinaldo Tavares (PSB) demonstrou toda a mágoa que ainda lhe resta da também histórica e vergonhosa cassação do ex-governador e já falecido Jackson Lago (PDT).

Jackson teve seu mandato cassado em abril de 2009, quando forças políticas capitaneadas pelo grupo Sarney, oxigenadas por forças inclusive de "esquerda", destituíram por meio do TSE aquilo o que entrou para os livros de história do Maranhão de "Golpe do Judiciário".

A propósito, talvez este tenha sido o único blog a sinalizar para os possíveis efeitos daquele triste episódio sobre a atual conjuntura política (confira aqui).

Zé Reinaldo foi o principal apoiador da vitoriosa campanha de Jackson Lago ao Governo do Estado em 2006, imputando a primeira derrota eleitoral ao grupo Sarney ao longo de quase 50 anos de domínio político no Maranhão

Zé Reinaldo se tornou um dos mais controversos personagens da história política recente do Maranhão. Ao romper com a "oligarquia Sarney", em 2003, já ocupando o posto de governador (2003-2006), Tavares abriu espaço significativo para que as "oposições coligadas" viessem a destronar o clã no histórico pleito de 2006. No dia 29 de outubro daquele ano, com o apoio de Tavares, Jackson Lago foi eleito governador e imputou a primeira derrota eleitoral à "grande família", abreviando um domínio de quase 50 anos do grupo no comando do Estado.

A partir de então, o "traidor" Zé Reinaldo (aos olhos dos "dominantes") passou a ser visto e celebrado como o "herói" do Maranhão (aos olhos dos "dominados") por uma parcela da "esquerda" daqueles rincões, particularmente identificadas no PDT e PCdoB, principalmente.

Outros que caminham à margem esquerda do rio, como membros do PSOL e do PSTU, por exemplo, mantiveram (e ainda mantém) seu firme posicionamento contra alianças espúrias e oportunistas entre as elites políticas maranhenses (como a vigente aliança entre PCdoB e PSDB, que governa o Maranhão) que apenas visam locupletarem-se do poder do Estado, sem conteúdo programático nem projetos macroeconômicos que permitam a elevação dos índices de desenvolvimento humano da população maranhense, um dos piores do país.

Em 2014, tendo Zé Reinaldo como principal articulador de sua também vitoriosa campanha, Flávio Dino (PCdoB) foi eleito governador do Maranhão, a segunda vitória de Tavares contra o grupo Sarney

José Reinaldo, então, passou a querer disputar com José Sarney (PMDB/AP) o posto de "crupiê" do jogo político no Maranhão, aquele que distribui as cartas entre os jogadores. Tavares passou a apoiar candidaturas a prefeito das principais cidades maranhenses e, também, às de governador, sempre contra o grupo Sarney.

Assim, os dois "zés" continua(ra)m medindo forças no Estado. No fatídico abril de 2009, o primeiro pupilo político de Tavares, Jackson, foi defenestrado do posto de governador, sob a regência de Sarney, do ex-presidente Lula e boa parte dos "sarnopetistas" e "associados" que apoiaram o clã dominante de 2006 até agora. Antes disso, Tavares chegou a ser preso e algemado, em 2008, pela Polícia Federal na famigerada Operação Navalha.

Zé Reinaldo preso e algemado pela Polícia Federal no Maranhão, em decorrência da Operação Navalha, de 2008. O próprio Tavares chegou a atribuir essa prisão a "manobras políticas".

Em 2014, tendo Zé Reinaldo como principal articulador de sua campanha aos Leões, Flávio Dino (PCdoB) foi eleito governador do Maranhão, consumando a segunda vitória eleitoral majoritária de Tavares contra Sarney.

Vale lembrar que antes de ser o padrinho de Jackson em sua campanha vitoriosa ao Palácio dos Leões, Tavares foi o vice da governadora Roseana Sarney (PMDB), em seus três primeiros mandatos à frente do Executivo maranhense (1994, 1998, 2002). E assim como Michel Temer vem mostrando nos dias atuais, Tavares já deu provas da força política de um vice quando negligenciado pelo titular e tratado como mera figura "decorativa" (confira aqui).

Por isso, ao dizer "sim" à admissibilidade do Impeachment da presidente Dilma, Zé Reinaldo "vingou-se" daqueles que contribuíram para o "Golpe do Judiciário" de seu primeiro apadrinhado político numa disputa majoritária. "Pelo Dr. Jackson Lago, que teve seu mandato de governador covardemente cassado pelos que hoje ocupam o Planalto, eu voto SIM", disse Tavares no plenário da Câmara.

Porém, como toda ação política, a manifestação de Zé Reinaldo teve seu bônus e terá seu ônus. O socialista contrariou frontalmente as ordens do comunista Flávio Dino, que tentou esculpir junto à imprensa nacional a imagem de um "grande articulador" cooptando votos da bancada maranhense para barrar o processo contra Dilma. Não deu certo. Foi um fracasso retumbante. Dino não conseguiu convencer os deputados de sua própria "base aliada", como João Castelo (PSDB), Eliziane Gama (PPS) e o próprio Zé Reinaldo (PSB).

Assim, ao sacramentar seu voto contra o Planalto, Zé Reinaldo pode ter se complicado ainda mais na planície. E o "pedido de desculpas" talvez não surta nenhum efeito. Sua candidatura ou não ao Senado amanhã será o termômetro de sua decisão de agora.

Seja como for, os leões irão rugir! Mas a vingança de Zé Reinaldo está consumada.

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