terça-feira, 29 de março de 2016

A Força do PMDB de Michel "Underwood" Temer no Brasil


Por Hugo Freitas

O PMDB acaba de anunciar, por aclamação, que está oficialmente fora do Governo da presidente Dilma Rousseff (PT). Assim, chega ao fim o casamento partidário PT-PMDB que teve início em 2002, com a eleição do então presidente Lula.

Na reunião da cúpula peemedebista, que durou menos de três minutos, também foi determinado que os seis ministros do partido e os filiados que ocupam outros postos no Executivo federal entreguem seus cargos.

Vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, Michel Temer não participou dessa reunião, sob o argumento fajuto de que não desejava "influenciar" a decisão. Sabe-se, no entanto, que ele teve participação ativa na mobilização pelo desembarque do partido e passou toda a segunda-feira (28) em reuniões com parlamentares e ministros do PMDB em busca de uma decisão "unânime", estrategicamente manifestada à imprensa por meio de "aclamação".


E é justamente esse posicionamento de Temer que inspira a confecção desta postagem. Assim como na controversa série da Netflix, "House of Cards", que tem como protagonista o famigerado Frank Underwood (Kevin Spacey), vice que conspirou politicamente para derrubar, por meio de impeachment, um presidente democraticamente eleito, para assim assumir o posto em seu lugar, Michel Temer foi o principal articulador político que levou ao divórcio do PMDB com o PT, o que pode significar a queda de Dilma via impeachment.

As comparações não terminam por aí. No final do ano passado, Temer escreveu uma Carta para a presidente Dilma, na qual relata seu descontentamento com o tratamento dispensado pela chefe do Executivo federal para consigo. Em "House of Cards", Underwood também escreve uma carta para o presidente dos EUA, Walker, antes de sua manobra definitiva para se apoderar da cadeira-mor da Casa Branca. Sem contar que tanto Temer quanto Underwood são líderes de seus partidos, na série e na vida real.

Sobre o teor da Carta de Temer a Dilma e a análise por mim elaborada com o título "O PMDB e a Epístola Corporativista" clique aqui

Michel Temer e "Frank Underwood" (Kevin Space), semelhanças entre ficção e realidade. (Imagem: internet)

O fato é que o PMDB é o partido mais poderoso da República. Além da vice-presidência, detém a maioria na Câmara e no Senado, assim alicerçado:

  • Presidência da Câmara (Eduardo Cunha, PMDB-RJ);
  • Presidência do Senado (Renan Calheiros, PMDB-AL);
  • 18 Senadores;
  • 68 Deputados Federais;
  • 6 Ministérios (entregou a pasta do Turismo nesta segunda (28) e deve entregar as demais nos próximos dias).

Gozando de todo esse poder político, o PMDB se tornou o fiel da balança no cenário nacional. Para se aprovar projetos de lei no Congresso, uma das funções primordiais do legislador, inevitavelmente tem que se negociar politicamente com os demais partidos em busca da composição de um número suficiente de votos, e o PMDB de Temer é um dos mais cobiçados nesse sentido. Tal poder de barganha oriundo, pois, desde a promulgação da Constituição de 1988, cuja maioria dos constituintes signatários era filiada à legenda originária, então chamada apenas de MDB (Movimento Democrático Brasileiro).

Contudo, há uma grave problemática em questão. Se antes aliar-se ao PMDB seria a garantia da sobredeterminação do princípio da "governabilidade", base dos arranjos e acordos político-partidários costurados desde a CF/88, com a saída do governo federal e a recomposição de forças para um eventual "mandato tampão" pós-Dilma liderado por Temer, hoje tal aliança é a certificação de que "governabilidade" só se sustenta com muito equilíbrio de forças políticas, passível de desmoronar ao menor sinal de ventos mais tortuosos.
(Todas as charges foram retiradas da internet)

Deste modo, em se confirmando o impeachment de Dilma, quem assume em seu lugar é Temer. Essa é a única condição, no contexto atual, em que o presidente nacional do PMDB pode se tornar presidente do Brasil, haja vista que o processo de cassação da chapa Dilma-Temer tramita no âmbito do TSE com a mesma velocidade de um caramujo, bem diferente do que ocorre na Câmara.

Assim, ao se apossar do trono do Planalto, escorado por uma oposição capitaneada pelo PSDB de Aécio Neves, Michel "Underwood" Temer terá concretizado em solo tupiniquim o mesmo que seu antagonista realizou na série yankee: um presidente sem voto popular.

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