quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2014: O Fim de um Ano Histórico

A "era Sarney" chegou ao fim

Por Hugo Freitas

E eis que chega ao fim um dos anos mais marcantes das últimas décadas. 2014 reúne diversos ingredientes para se tornar um ano histórico, tanto pela relevância de determinados acontecimentos em múltiplas esferas sociais, a nível nacional e internacional, de modo mais geral, quanto por fatos que marcaram a sociedade maranhense, de forma mais pontual.

Em 2014, o mundo assistiu a uma das mais sangrentas "guerras" travadas entre judeus e palestinos na Faixa de Gaza desde o início dos anos 2000. E explicito o termo "guerra" entre aspas por entender que a morte de mais de 2.000 palestinos (entre estes 541 crianças, 250 mulheres e 95 idosos), segundo dados da ONU, em comparação aos 64 soldados israelenses mortos (sendo 5 por "fogo amigo"), não se pode chamar de "guerra", mas sim de "massacre", executado por um país que possui exército, um arsenal bélico que contém inclusive ogivas nucleares e que desfruta da proteção dos EUA contra um povo sem exército, que luta para ter reconhecido seu Estado e que é visto pela imprensa internacional como "escudo de terroristas".

Na esteira desse assombro mundial, houve ainda o recrudescimento das tensões entre Rússia e Estados Unidos deflagrada a partir da "crise na Ucrânia". O planeta voltou a sentir o espectro da "Guerra Fria" rondando pelos ares com o despertar do medo de um conflito entre as suas duas maiores potências, temor este que havia adormecido com o fim da extinta União Soviética.

Ainda no plano internacional, 2014 ficará marcado contudo por um ato de reaproximação entre Cuba e EUA. A ilha comunista comandada pela família Castro pode comemorar o fim do embargo econômico impingido pelo governo norte-americano desde a consumação da Revolução Cubana (1959). Che Guevara deve ter se retorcido no túmulo com a declaração do presidente Obama: "Somos todos americanos"!

Na esfera nacional, assistimos ao país que intentava realizar "a Copa das Copas" sofrer a maior goleada de sua história num Mineirão lotado. Os 7 a 1 da Alemanha jamais serão esquecidos, cujos efeitos superaram, de forma infinitesimal, o trauma do antigo "Maracanaço" de 1950, quando o Brasil sediou pela primeira vez a Copa do Mundo.

Escândalos de corrupção como a "Operação Lava-Jato", que trouxe à tona as traquinagens arquitetadas com o dinheiro público na maior empresa brasileira, a Petrobrás, envolvendo tanto partidos aliados da base governista quanto de oposição, deixou à mostra as vísceras de uma República Federativa que está anos-luz de distância das premissas elaboradas por Platão e Montesquieu, bem como sinaliza para o desgaste de um governo que se apoia nas políticas "populistas" de distribuição de renda para se manter no poder.

Na economia, o país caminhou (e caminha) sensivelmente para um estado de descontrole sobre a inflação. Crescimento baixo e "revisão" de direitos trabalhistas compõem um mosaico nada animador para se adentrar o ano novo.

Foi em 2014 também que o Brasil registrou a maior e mais acirrada disputa eleitoral desde o fim da ditadura militar. A morte de Eduardo Campos, a ascensão e queda de Marina Silva e o renascimento de Aécio Neves aos 45 do segundo tempo deram um tom ainda mais peculiar às eleições presidenciais, vencidas pela petista Dilma Rousseff, no segundo turno, com impressionantes três milhões de votos apenas de diferença em relação ao tucano Aécio.

Flávio Dino, o primeiro governador "comunista" da história do Brasil

No Maranhão, por sua vez, registrou-se o fechar de um ciclo político hegemônico que perdurou por quase cinco décadas e o início de outro. A "era Sarney" chegou ao fim! A esmagadora vitória nas urnas (63,52%), em primeiro turno, de Flávio Dino (PCdoB) foi ladeada com as aposentadorias do patriarca do clã, José Sarney, (ex-governador e ex-presidente da República) e de sua filha Roseana Sarney, que ostentou por quatro mandatos o cetro de governadora.

No ano em que se rememorou os 50 anos do Golpe Militar de 1964, evento crucial para a vitória de Sarney no pleito de 1965, que o alavancou ao posto de comando do Palácio dos Leões, a vitória de Flávio Dino também marca a eleição do primeiro governador "comunista" da história do Brasil.

Somados esses eventos às aposentadorias de Sarney e Roseana, os acontecimentos políticos do Maranhão em 2014 ressoaram de forma irrevogável tanto no país quanto no exterior, a ponto do jornal mais influente dos EUA, o "The New York Times", dedicar preciosas linhas para abordar a derrocada de uma das "oligarquias" mais longevas do Brasil.

Por tudo isso, 2014 já pode ser considerado um ano histórico, a ponto de não se conseguir vislumbrar pelos próximos anos, em termos comparativos, a dimensão dos eventos aqui relatados e brevemente analisados.

2015 vem aí! Feliz Ano Novo!

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