domingo, 25 de maio de 2014

O RENASCIMENTO DE CASTELO: DA APOSENTADORIA À DISPUTA PELO SENADO

O tucano João Castelo (PSDB) voltou à cena política com a ajuda do seu outrora adversário, o comunista Flávio Dino (PCdoB)

Por Hugo Freitas

Antes simbolizado como sinônimo do "atraso", representante do que há de mais "retrógrado" na política maranhense, praticamente "expulso" da Prefeitura de São Luís pela "oposição dinista" e pelo povo ludovicense, chegando ao ponto de anunciar sua "aposentadoria", João Castelo (PSDB) ressurge no cenário político local, agora apoiado e apoiando o mesmo grupo que outrora o havia condenado ao "ostracismo".

Castelo foi o primeiro prefeito da capital maranhense que não conseguiu se reeleger desde o advento da reeleição, em vigor a partir das eleições de 1998. O infortúnio do tucano se deu graças à sua mal fadada administração municipal, bem como a uma forte estratégia político-midiática orquestrada pelo até então seu adversário maior, Flávio Dino (PCdoB).

O comunista ajudou a destronar Castelo após ter perdido para o tucano as eleições municipais de 2008, quando o que estava em jogo era a máquina pública de São Luís.

Quatro anos depois, Dino volta a participar de um pleito municipal (após a derrota eleitoral para Roseana Sarney, em 2010, na disputa pelo governo do estado) apoiando Edivaldo Holanda Júnior (PTC), que antes era aliado do mesmo Castelo. Naquelas eleições de 2012, o tucano sofreu com os incessantes "ataques" desferidos pela imprensa e blogs alinhados a Flávio e Edivaldo.

Somados a esses "ataques midiáticos" estavam os graves problemas gerados durante a gestão do prefeito tucano em São Luís (2009-2012), entre os quais o não pagamento de salários aos servidores municipais e, principalmente, o desvio de R$ 73 milhões dos cofres públicos, fato fortemente denunciado e explorado à exaustão pela imprensa dinista, mas que até hoje os órgãos de fiscalização tributária e da Justiça maranhense parecem ter feito vista grossa sobre o seu paradeiro.

Naquela ocasião, Flávio Dino pincelava João Castelo como "representante do atraso". Os "ataques" da mídia dinista aliados à péssima administração castelista e a uma forte rejeição do eleitorado ludovicense, que se materializou na derrota para Edivaldo e na perda da cadeira de prefeito de São Luís, levaram Castelo ao ponto de anuncia sua "aposentadoria política" (relembre aqui).

João Castelo, de "representante do atraso" à "honra" no palanque comunista

Mas, como reza o adágio popular, "nada como uma eleição após a outra". E eis que o tucano voltou ao palco das disputas político-partidárias com as bênçãos da mesma imprensa dinista que o defenestrava até então. E o responsável por esse "retorno" ou "renascimento" de Castelo foi o próprio Flávio Dino, que declarou publicamente: "seria uma honra ter Castelo no meu palanque" (reveja aqui).

Após essa declaração, o PSDB, partido de Castelo, que estava afastado do centro das discussões políticas em torno da composição da chapa de Flávio, entrou de vez na corrida eleitoral, a ponto de ser disputado a foice e martelo tanto pelos governistas, quanto pelos oposicionistas. E tudo isso acabou fortalecendo o nome de João Castelo, que passou a ser considerado "importante liderança política", cuja aliança seria "fundamental" para as intenções de Dino chegar ao comando do Palácio dos Leões.

Só que os comunistas parecem não ter contado com a astúcia do velho tucano. Desferindo um "golpe de mestre" em Dino, Castelo e o PSDB conseguiram emplacar não só o candidato a vice-governador no "chapão oposicionista", como sonhavam os comunas de olho no tempo de TV dos tucanos, mas de quebra garantiram um membro do tucanato maranhense na disputa pela vaga de senador.

Uma vez que o próprio Flávio Dino reconheceu a "importância" de Castelo, o mesmo não perderia a oportunidade de candidatar-se ao Senado Federal, agora com o aval de seu outrora adversário.

Além disso, Castelo conta com pesquisas de consumo interno e de outros institutos que o colocam como líder em todos os cenários na disputa pela cadeira de senador contra seu principal oponente, o vice-prefeito de São Luís Roberto Rocha (PSB), até agora o "ungido" pela oposição dinista como "candidato único" ao Senado (relembre aqui).

Foi esse o trunfo que o tucano utilizou para convencer o presidente nacional do PSDB, o presidenciável Aécio Neves, a garantir-lhe o direito de participar dessa disputa, conforme pode ser constatado aqui.

Dino trouxe Castelo para seu lado, e agora tem de lidar com o desejo do tucano de disputar o Senado, contrariando a vontade de outro aliado do comunista, o socialista Roberto Rocha, que reivindica o cumprimento do acordo em ser o "candidato único" da oposição

Castelo voltou por cima depois de ter perdido a prefeitura para Edivaldo. Hoje, o tucano faz parte do mesmo grupo político que dá sustentação ao atual prefeito de São Luís. Agora, ele sai renascido para o Senado e com força suficiente para alavancar a candidatura do deputado estadual Neto Evangelista (PSDB) - que foi vice de Castelo em 2012 - ao comando do Palácio de La Ravardière, em 2016, contra o próprio Edivaldo, que deve tentar a reeleição.

E agora? Quem irá demover Castelo do desejo de disputar o Senado? O mesmo já garantiu que será candidato, independentemente dos outros partidos e/ou adversários. Afinal, para Castelo, eleição para governador é uma coisa e, para senador, é outra completamente diferente. (Confira o anúncio oficial feito por Castelo em Imperatriz publicado com exclusividade aqui).

Flávio Dino corre contra o tempo para tentar apagar o incêndio provocado dentro de seu núcleo político provocado por ele mesmo. Inclusive, há nos bastidores fortes rumores de que Dino estaria articulando  abdicação de Roberto Rocha da vaga de senador para ficar com a vaga de vice-governador na chapa. Dessa forma, o atual vice, Carlos Brandão (PSDB), seria contemplado com importantes redutos eleitorais para garantir sua reeleição de deputado federal.

Rocha já avisou, reiteradas vezes, que não aceita Castelo no chapão como candidato ao Senado. Se isto acontecer, o vice-prefeito lança-se na disputa pelo governo. De quebra, o socialista levaria o seu partido, o PSB, a também romper com o comunista, o que implicaria a perda definitiva de importantes redutos controlados por aliados de Dino no Maranhão (conheça aqui).

Em verdade, os problemas políticos provocados por Dino são fruto de seu afã em conquistar, a qualquer custo, o governo do estado, mesmo que tenha que se aliar a "dissidentes da oligarquia" que diz combater (entenda aqui) e a adversários que antes considerava como sinônimo do "atraso" (veja aqui), reproduzindo assim o velho pragmatismo político que fez e ainda faz escola no Maranhão, o que contradiz o já desgastado "discurso da mudança".

De uma coisa pode-se ter certeza, a entrada dos tucanos na chapa dos comunistas trouxe mais problemas e incertezas do que soluções e caminhos para uma vitória já alardeada pelos oposicionistas como "certa".

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