quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Educação no Maranhão: "A Megera Domada"



Todo mundo viu, ouviu ou leu em algum canto deste país: "Aprovado aumento salarial para Deputados, Senadores, Ministros e até para o Presidente da República, a partir de 2011".

No Maranhão, a notícia que correu a mídia foi: "Deputados maranhenses aproveitam o efeito cascata do aumento de salário federal e elevam seus vencimentos em 60%".

Navegando na mesma onda, a Câmara Municipal de São Luís deverá anunciar nos próximos dias o aumento dos proventos dos vereadores que compõem a Casa Legislativa da capital maranhense.

Em contrapartida, no que diz respeito à Educação em nosso Estado, a tônica das manchetes era a seguinte: "Maranhão tem a segunda pior educação do Brasil". E outra: "Assembleia Legislativa do Maranhão veta aumento salarial de 12% para professsores do Estado".

Façamos as contas. Enquanto os parlamentares federais irão receber salários que giram em torno de R$ 26.700,00, no Maranhão os deputados passarão a perceber cifras que giram em torno de 15 a 20 mil reais. Contudo, por sua vez, os profissionais da educação não tiveram garantido o direito regido pelo Estatuto do Magistério de um piso salarial mínimo, de aproximadamente R$ 1.040,00.

Pior, segundo o Plano Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2009, o estado ficou com a penúltima posição no ranking, ficando à frente apenas de Alagoas (Alguém ainda lembra quem dás as cartas por lá?).

O levantamento, que é realizado a cada três anos e possui abrangência internacional, avalia o conhecimento de leitura, matemática e ciências dos jovens matriculados a partir da 7ª série do ensino fundamental (Não se esqueçam que estes serão o "futuro" da nação e do Maranhão).

O que depreendemos dos dados acima expostos é a falta de percepção da gestão pública, nas esferas de sua competência, com a educação do povo, em particular com a do povo maranhense. O 2º lugar do Maranhão dos piores estados brasileiros em educação coaduna-se perfeitamente com o veto do aumento salarial dos professores da rede estadual de ensino, à medida que os gestores públicos percebem a necessidade de se frear a consciência da população.

Afinal de contas, a quem interessa um povo lúcido, crítico e consciente de seus direitos e deveres? Os manuais "esquerdistas" sempre afirmaram que um povo sem educação é um povo mais fácil de controlar. Isso se exemplifica através do "descontrole" da população de alguns países europeus. No velho continente, as atuais turbulências enfrentadas pelos governos é fruto direto do nível educacional de suas populações, que não satisfeitas com a política de seus dirigentes saem às ruas para reivindicar seus direitos, mesmo que se utilizando da força bruta de paus, pedras e coquetéis molotovs.

No Maranhão, o absurdo é ainda maior quando ao invés de bradar por melhorias públicas e qualidade de vida, observamos grande parcela da população aplaudir de pé seus algozes políticos, reelegendo para mais quatro anos de mandato figuras que se instalaram no poder como um vírus e fizeram da coisa pública um bem privado.

Figurando sempre entre os últimos em todos os indicadores sociais avaliados por instituições nacionais e internacionais, brigando feio com Alagoas para não ser efetivamente o último, o Maranhão é terra de graves contrastes e assimétricas paridades: rico em recursos naturais e miserável em distribuição de renda; alto potencial energético e elevados índices de analfabetismo; localização geográfica estratégica e periferia social e política do país; último estado a aderir à República e o único a manter no poder as velhas estruturas.

Atendo-nos exclusivamente à Educação, para não nos rendermos de uma vez nem cairmos em depressão às vésperas do Natal, o Maranhão entrará em 2011 sem ter muito a comemorar, pelo menos no que diz respeito aos indicadores sociais, em particular ao nível educacional dos jovens e adolescentes maranhenses, já que para parlamentares e gestores públicos o Papai Noel chegou mais cedo, com ótimas perspectivas de um "próspero Ano Novo".

A educação no Maranhão é tratada como último até na hora do pagamento. Quem puder observar a lista mensal da folha salarial dos servidores da Prefeitura de São Luís, por exemplo, verá que a Secretaria Municipal de Educação é a última a receber seus proventos, ficando atrás das secretarias executivas e administrativas e da secretaria da saúde.

O descalabro é ainda maior quando analisamos o quão difícil foi escolher alguém "competente" para assumir a pasta da educação no Estado, diante da vacância originada pela saída do ex-secretário Anselmo Raposo (Quem sabe o nome e as qualificações da pessoa que assumiu? Alguns dizem ser uma "fiel" secretária particular da atual ocupante do Executivo estadual).

Diante de tudo isso, convém frisarmos o quão importante é a educação de um povo para sua libertação política e independência intelectual. Se assim não fosse, qual seria o motivo de preocupação dos governantes em manterem a rédeas curtas esta "megera domada"?

Os desafios, entretanto, são enormes. Ainda mais quando percebemos a paulatina diminuição dos quadros de professores em todo o país. No Maranhão, o número de candidatos aos cursos de licenciatura sofreu significativa redução nos últimos anos. Sucateamento das instituições de ensino, qualidade duvidosa do material didático e, principalmente, os baixos salários são os outros "atrativos" que espantam os alunos da rede pública e enxotam os "potenciais professores" das salas de aula no ato da escolha do curso para o qual irão prestar vestibular.

Se, no passado, a profissão de professor era algo de orgulho e de reconhecimento pela sociedade, no presente a situação é de vergonha e de humilhação, legando para o futuro um cenário educacional nada animador.

Enquanto os milhões correm à solta nos ministérios do governo federal e nas secretarias estaduais, procurando se multiplicar a curto prazo para  um lucrativo aumento de receita visando a Copa do Mundo de 2014 e as Olímpiadas de 2016, a discussão que ganha patamar de novela nos noticiários é o valor do novo reajuste do mínimo, com cifras exorbitantes girando em torno de pomposos 30, 40 ou 50 reais a mais do que os atuais R$ 510,00. E, no mesmo barco de valoração do mínimo, a educação também vai sendo "mínima", vilipendiada e renegada, empurrada para debaixo do tapete, com cortes profundos no orçamento de 2011.

E os verdadeiros ministros, os do conhecimento e do aprendizado, vão sendo tolhidos, obnubilados e precariamente ressarcidos, num ponto de aquiescência que olha para a melhoria da qualidade de vida de um povo pura e simplesmente pelo viés material, secundarizando a sua formação educacional e esquecendo que sem professores não há médicos, nem engenheiros nem "doutores".

Hugo Freitas

2 comentários:

  1. É Hugo e leitores do Blog, dinheiro quando é para o benficio da população todo aumento é motivo debate para os ecomistas. Que logo dizem: O estado não suporta. Quando é para aumentar o salário quem faz as leis ou de quem faz cumprir as leis (exsecutivo, legislativo ou judiciário, não é motivo de debate.

    É triste. Não quero dizer que eles devam ganhar mal, os demais trabalhadores é precisam ganhar mlhor.

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  2. Concordo com o senhor, Prof. Brito.

    A questão principal é que quando se trata de aumentar os próprios salários, os deputados não medem esforços nem perdem tempo, haja visto que a aprovação do aumento se deu em cinco minutos, conforme vários veículos midiáticos e blogs noticiosos relataram.

    Enquanto isso, a maioria dos trabalhadores espantava-se com a aprovação, depois de muita discussão, de um salário mínimo de R$ 540,00, trinta reais a mais que os atuais 510.

    Já no Maranhão, a situação foi mais grave ainda, já que os profissionais da educação estadual não conseguiram sequer obter o piso mínimo estipulado pelo próprio Estatuto do Magistério de R$ 1.040,00.

    Isto sim é uma vergonha, com a qual não devemos compactuar e demonstrar todo o nosso repúdio.

    Abraços fraternos.

    Hugo Freitas

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Grato pela participação.