terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Descortinando a Feira do Livro de São Luís

A Feira do Livro de São Luís, sem dúvida, é um dos eventos que vem ganhando enorme prestígio e aceitação pelo público maranhense nos últimos anos e se constituindo como um marco para o cenário cultural do Estado, além de se apresentar como uma excelente opção de lazer para jovens, adultos e crianças e de oportunizar à população em geral maior contato com as artes e com o gosto pela leitura.

No entanto, levando em consideração a última matéria publicada neste blog, onde expusemos um olhar contrastante sobre a Feira, bipolarizando óticas distintas e controversas e dando voz àqueles que puderam observar o grau de exclusão ou de não-contemplação por parte de um evento desse porte em relação aos mais alijados das benesses capitalistas por estas maranhas, sentimo-nos no dever de trazer à luz da apreciação de nossos leitores uma entrevista concedida ao jornalista Hugo Freitas da Assessora Técnica da Fundação Municipal de Cultura, Carol Sopas, uma das principais organizadoras da Feira do Livro de São Luís, que além de descortinar o evento, falou-nos sobre as dificuldades para se realizá-lo e as projeções para os próximos anos.

Programação cultural
Carol Sopas revelou que é dada prioridade aos artistas e escritores maranhenses que desejam participar do evento. “Lança-se uma convocatória por meio de publicação de edital para aqueles que desejam publicar livros, ministrar palestras e oficinas, o que posteriormente será submetido à análise pelos organizadores, para que seja feita a triagem dos participantes, levando-se em consideração o currículo e a proposta dos candidatos”.
A assessora da Func, no entanto, relata que o público parece gostar mais dos autores de outros Estados do país. “Por incrível que pareça, os dias de maior movimentação na Feira são aqueles em que há a presença de escritores de fora”.
Além disso, ela revelou quais os critérios de escolha dos patronos e qual a participação deles no transcorrer do evento. “Não é uma decisão isolada. A escolha é feita entre os parceiros. O presidente da Func indica quem será o homenageado. Se os parceiros derem ok, este será o patrono da Feira. A gestão atual adotou o critério de o patrono ser um renomado escritor que ainda esteja vivo. Isso permite que eles participem efetivamente do evento.
No ano passado, Ferreira Gullart que foi o homenageado não pôde estar presente, por conta do medo que ele tem de viajar de avião. Este ano, entretanto, o patrono Zé Louzeiro chegava às 17h na Feira e só saía quando terminava tudo, atendendo todo mundo com muito carinho e simpatia".  
Dificuldades na organização da Feira
Carol contou detalhes sobre as dificuldades enfrentadas pelos organizadores para fazer com que a Feira fosse uma realidade. “A Feira do Livro é um evento realizado pela Prefeitura de São Luís, em parceria com o SESC, com a Secretaria Estadual de Educação e a Secretaria Municipal de Cultura. No entanto, a gente tem uma grande dificuldade justamente por ser uma Feira promovida pela Prefeitura. A questão política é muito forte nesse sentido. Isto porque o planejamento plurianual, que é feito de quatro em quatro anos, é realizado no fim de cada mandato. E, geralmente, nenhum político que sai deixa tudo prontinho para o próximo que vai assumir. Por isso, a Prefeitura primeiramente tem que acertar as contas”.
Sobre o apoio dos parceiros e dos patrocinadores e da Lei de Incentivo à Cultura, a chamada Lei Rouanet, que estimula empresas a investirem em atividades e eventos culturais em troca de dedução fiscal de impostos e tributos, a entrevistada relata que a ajuda ainda é pouca. “Nossa grade dificuldade é tentar fazer com que as empresas se sintam parte da Feira. Muitas sentem vontade de agregar seu nome ou sua marca ao evento, mas sentem receio. O que tivemos de patrocínio foi obtido fora da lei de incentivo, principalmente através do SESC, nosso maior parceiro e co-realizador da Feira deste ano”.
Carol nega ainda a informação de que a Feira correu risco de não acontecer neste ano por falta de patrocinadores, destacando outro problema. “Tivemos um problema de licitação para a montagem da estrutura da Feira. Quando já estava tudo pronto, uma outra empresa contestou a concessão dada à empresa vitoriosa. E isso atrasou tudo. O problema foi esse e não por conta de patrocinadores. Aliás, este problema foi referente ao ano passado, quando realmente não tínhamos quase nenhum apoio de patrocínio”.
Preço dos livros
A questão do alto preço dos livros foi outro ponto comentado por Carol Sopas, que afirmou que isso não depende da organização do evento, mas sim de um acordo entre as editoras e a Associação Maranhense dos Livreiros. “Há toda uma negociação envolvendo a Associação e as editoras para se tentar diminuir os preços dos livros, reconhecidamente bastante elevados. Enquanto eles não resolverem essa briga, fica difícil baratear os preços. Mesmo com a isenção de taxas na montagem dos estandes, as editoras não diminuíram o valor monetário dos livros, alegando que tem de resolver essa questão com a Associação dos Livreiros”.
Perspectivas para 2011
Carol Sopas finalizou a entrevista projetando a Feira para o próximo ano. “Já estamos nos mobilizando para realizarmos a Feira de 2011, com bastante antecedência. Fizemos uma reunião recentemente para fazermos um balanço sobre o evento deste ano. Verificamos os erros e os acertos e, também, os aspectos que podem e devem ser melhorados para diminuirmos as dificuldades da próxima edição".
A entrevistada revela ainda uma novidade para a Feira do ano que vem. "Em 2011, faremos ainda uma votação popular para a escolha do patrono. O público é quem irá decidir o patrono da próxima edição da Feira, contanto que ele ainda esteja vivo”.
Diante de todo o exposto, os apreciadores da Feira do Livro de São Luís têm boas perspectivas de melhorias para a próxima edição. Pelo menos, no que tange ao planejamento prévio e na organização antecipada. Contudo, o relato de Carol Sopas serve apropriadamente para cimentar alguns pontos já obsevados na matéria "Feira do Livro: um olhar contrastante", publicada neste blog, e apontar outros ainda não aventados.
A "Feira do Livro" efetivamente se transformou na "Feira das Editoras". Mesmo com a oferta de redução de taxas sobre a montagem dos estandes, as editoras não arredam o pé na manutenção de seus lucros sobre a venda dos livros. Sem contar a "briga" com a Associação Maranhense dos Livreiros que, segundo Carol Sopas, é a principal responsável pela não diminuição imediata dos preços, eximindo assim de qualquer culpa a Prefeitura de São Luís, que é a realizadora do evento. Desta forma, ela acaba demonstrando, mesmo sem querer, toda a inoperância e a falta de poder da gestão municipal sobre as editoras, que agem livremente a seu bel prazer.
Além disso, a falta de visão e de interesse dos empresários maranhenses sobre o evento é a prova cabal de que investir em educação e cultura não é atração nem intenção de ninguém. Se não se pode conquistar um lucro fácil e rápido, pelo menos a médio prazo, não é interessante aos investidores, mesmo com a Lei Rouanet, o que só faz com que as esperanças de popularização do livro e de facilitação do acesso à leitura vão-se esmaecendo num horizonte cada vez mais distante.
Este é o retrato do nosso “Patrimônio Cultural” da Humanidade. Se uma nação é feita de homens e livros, no Maranhão um povo é feito da riqueza de uns e da ignorância de muitos, para não dizer de todos.

2 comentários:

  1. Pow Queria ter um filho assim kkk Belo arremate Hugo, e novamente bela matéria,parabéns.
    Sóstenes

    ResponderExcluir
  2. Vou ater-me aos preços dos livros. enquanto na aniquilar a máfia montada e controlada pelas Editoras. LER, é um privilégio de poucos.Entrei em uma Livraria e pedi um HOUAISS, a bela de risos belos e encantador, respondeu-me: - R$ 399. Isso mesmo.Como não aprendi a rasgar dinheiro no sertão do meu Maranhão. Dei meia volta e mais duas meias.Entrei em um sítio, e encontrei o bacana por . Pasmem R$ 185, recebido no meu apartamento. Luxo, hein ! Que nada,uma outra forma de lucro.Dicionário, não esta na turma de livros didáticos? Livris didáticos, não deveria ter um incentivo profundo do Governo, que canta e versa que quer, pr que quer, que o seu povo saiba ler, escrever, desenhar sem rosetar? Meu amado Hugo, não tome este comentário, como Comentário.É apenas um desabafo, contra essa disfaçatez, de meia duzia, que controla e descontrola a normalidade, para poder legalizar a barafunda.
    Abraços querido. Já escrevei demais,pela importancia que tem o seu blogue.
    Fique com DEUS

    ResponderExcluir

Grato pela participação.