domingo, 21 de novembro de 2010

Um Reitor Negro: medo ou preconceito?

Na história da humanidade, os conflitos entre povos, resultavam sempre em vencedores e cativos, ou seja, após as guerras, os vencidos passavam a serem cativos dos vitoriosos.
Quando os conquistadores portugueses começaram os primeiros contatos com os africanos, no século XV, não havia ainda atrito de origem racial, entretanto, na época, iniciou-se o comércio de escravos, com a finalidade de aumentar o número de trabalhadores na sociedade européia.
No século XIX, quando os europeus iniciaram a colonização do Continente Africano e nas Américas, impuseram aos povos nativos, leis e novas formas de viver, pregando a doutrina dominante de que negros e índios eram raças inferiores, iniciando-se então a discriminação racial. Os colonizados que não aceitavam a submissão aplicavam-lhes o genocídio.
No Brasil, as primeiras discriminações raciais, vêm com o descobrimento em 1500 e as vítimas, foram os índios. No período colonial até o final do Império, a escravidão no Brasil é marcada pelo uso de escravos vindo do Continente Africano.
A escravidão foi oficialmente abolida no Brasil, segundo a história, no dia 13 de maio de 1888, com a assinatura da Lei Áurea. Entretanto, no nosso entendimento, a citada lei, não passou de letras mortas, pois tiraram os negros das senzalas e os colocaram nos guetos, palafitas das favelas e nos porões das cadeias e penitenciárias públicas. A escravidão moderna continua. A sociedade diz não ser racista, mas, nega-lhes o acesso às políticas públicas, como a educação de qualidade, a saúde, o emprego decente e digno.
A rigor, durante todo esse tempo, o racismo permanece vivo em nosso país e exemplos de casos não faltam como o caso Gerô, o Jeremias Pereira da Silva, espancado até a morte por policiais militares, em março de 2007.
Segundo Aurélio, racismo “é uma doutrina que sustenta a superioridade de certas raças. Preconceito ou discriminação em relação a indivíduo considerado de outra raça”.
Na sociedade maranhense, composta em sua grande maioria por afro-descendentes, mesmo assim não foge a regra. Pratica-se o racismo camuflado e/ou explicitamente.
Um fato de puro racismo veio à tona com as eleições para Reitor da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA.
O Prof. Joaquim Teixeira Lopes (Juca) ao inscrever-se como candidato a Reitor, juntamente com a Profa. Dra. Maria Célia Pires Costa, na condição de Vice-Reitora, aquele foi alvo de puro racismo em um Blog do jornalista Marco Aurélio D’eca.O referido blog oportunizou que anônimos racistas externassem e disseminassem seus ódios raciais e a intolerância. Valendo-se ao mesmo tempo da possibilidade do anonimato e do alcance de milhões de internautas, covardes racistas manifestaram-se de forma intolerável ao candidato Juca.
A prática e a divulgação do racismo, mesmo pela internet são tratadas como um crime pela legislação brasileira e o site onde o blog está hospedado, é passível de punição previstas em lei, além de poder ser retirado do ar.
A Constituição Brasileira de 1988, tornou a prática do racismo crime sujeito a pena de prisão inafiançável e imprescritível.
O artigo do jornalista Marco D’eca, postado em 14/11/2010 em seu blog, intitulado: “Candidato a reitor da Uema desrespeita decisão do Consun e mostra desconhecimento da lei”, diz:
O eterno candidato a reitor da Uema, professor Juca (na foto de camisa vermelha e óculos), deu uma demonstração de desconhecimento da lei e da falta de respeito ao órgão máximo da instituição, o Conselho Universitário – o que o põe distante da grandeza que o cargo requer.
Ao invés de usar o convencimento por meio de proposta como estratégia de campanha, como exige a democracia, prefere o golpe baixo, a política rasteira e o argumento sem prova.
O texto fomentou comentários preconceituosos de internautas. De forma subliminar, o jornalista supramencionado passa sua mensagem preconceituosa aos internautas, na tentativa, dissimulada de persuadi-los a ver o candidato Juca, preconceituosamente, ou seja, o texto citado acima, atuou de forma indireta no subconsciente das pessoas e atingiu o objetivo do autor, ensejando comentários odientos e preconceituosos, como o do anônimo “Professor” que disse: “Juca é uma piada”, seguidos de outros comentários racistas como o que se denominou “Titular”, in verbis:
Titular disse:
"Como um sujeito desse quer ser reitor da Uema? Além de não entender nada da legislação não sabe falar e muito menos se vestir ou pentear os cabelos!! Jamais vamos querer um representante desse nível para assumir os destinos da nossa Universidade".
Outro internauta como o Tonho disse: “[...] Um irresponsável de marca maior!!”, já o Mauro comentou: “Juca é um terrorista disfarçado de defensor dos servidores" e o Luís Fredson assinalou: “estou na Uema há 14 anos e sei que Juca é sinônimo de bagunça e de palhaçada".
Nota-se que esses e outros assimilaram bem a mensagem do jornalista e, protegidos pelo anonimato, externaram todo o seu racismo.
Pior de tudo é que, pelo conteúdo dos comentários, os anônimos pertencem à comunidade acadêmica da Uema.
No entanto, o cerne da questão está na cor da pele do prof. Juca. Ser negro neste país, não é fácil. Uma das poucas áreas que a sociedade aceita que o negro consiga destaque é o esporte.
Um reitor negro? É medo ou preconceito? Analisemos a questão.
O medo é um bom justificador para o preconceito. O medo de um reitor negro significa o medo de perder o que foi conquistado, o medo de perder privilégios, o status. O Juca reitor, faz tremer e temer, quem tem algo a esconder, ou fez algo de errado.
A perda do medo é o caminho para superar o racismo e o preconceito.
Registro mais recente da superação do medo foi da África do Sul. Nesse país, o apartheid, iniciado em 1948, manteve a população africana sob domínio dos europeus e teve seu fim em abril de 1994.
Nelson Mandela, advogado e líder do movimento antiapartheid, em 1962 foi preso e condenado a 5 anos de prisão e, em 1964, foi sentenciado novamente a prisão perpétua, porém em fevereiro de 1990 foi libertado e foi o primeiro presidente negro da África do Sul, de 1994 a 1999.
Comunidade acadêmica da Uema e sociedade maranhense, não tenham medo do Juca e façam como o prof. Técio Leite, que postou comentário no blog do jornalista dizendo:
"Acho que vocês estão com preconceito contra o professor Juca que há muitos anos é um porta voz das manifestações de uma grande parcela de professores e funcionários da UEMA".
Outro internauta do blog Sr. Carlos Leen disse: Nunca vi tantos comentários preconceituosos juntos. O prof. Juca é um lutador a serviço de sua classe [...] e o servidor Apolinário Costa Coelho postou: "[...] o que faz um homem não é o modo de se vestir ou sua aparençia {sic}, e sim o seu caráter, a sua moral e dignidade [...]".
Parafraseando o Nelson Mandela, vos digo: Comunidade Acadêmica da Uema, que não tem medo e nem preconceito: Unam-se! Mobilizem-se! Lutem! e teremos um reitor, afro-descendente.
Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinada a amar”. Nelson Mandela
Engenheiro Agronômo Júlio Cesar de Sousa Martins
Servidor da Uema

5 comentários:

  1. Infelizmente,negro no Brasil só tem sua dignidade respeitada quando tem dinheiro,muito dinheiro. Nesse caso ele é tratado como branco, ouvido como branco;na verdade ele é quase branco - se não fosse o "incoveniente" da pele.

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  2. Muito pertinente seu comentário, Diannifan.

    Quando um negro ascende socialmente no Brasil, ele é taxado de "negro de alma branca" ou "negro polido".

    Nesse sentido, ser negro e "pobre" é bem pior, pois as melhores oportunidades se fecham com a mesma velocidade de um piscar de olhos, restando apenas os serviços braçais que os "brancos" consideram indignos de execução per si.

    Contudo, o agravante no caso em comento é justamente o fato de um negro não-pobre querer assumir a reitoria de uma universidade, o que deixou as "elites claras" do Estado bastante incomodadas com a possibilidade de uma pessoa de pele escura exercer influência sobre a vida acadêmica do corpo discente e docente da UEMA que, salvo engano, em sua grande maioria, é de pigmentação alva.

    Abraços fraternos

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  3. Este País que se diz tolerante, verdadeiramente precisa ser TOLERANTE.
    Ponto Final.

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  4. Olá, sr. José Maria. Satisfação em poder apreciar mais uma vez seus pertinentes comentários.

    No caso em questão, o agravante é o fato de um blogueiro "conhecido" ter tecido comentários de cunho preconceituoso contra um candidato "negro" para a reitoria da UEMA e ter obtido seguidores que concordaram com ele.

    Ainda que fosse uma tentativa descarada de manchar ou denegrinir a imagem de alguém que está na disputa de um cargo destacado como o é o de reitor, nada justifica a veiculação de comentários tais como "não saber falar, se vestir e pentear os cabelos", haja visto que o candidato em comento tem cabelos crespos.

    Muitos estão fazendo vista grossa para isso, acreditando não ser nada de mais. E isso é o que me preocupa, o silêncio daqueles que podem (e devem) denunciar esse tipo de discurso carregado de toda sorte de preconceito.

    Enfim, nem quero tocar na questão da disputa política. Mas declarações como essa servem apenas para fermentar cada vez mais o ódio e o preconceito entre as pessoas, coisas das quais não participo nem compactuo.

    Abraços fraternos.

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  5. Camarada Hugo,

    Sem dúvida alguma, ao postar o texto que debate a condição de negro do professor Juca no contexto da disputa pelo reitorado da Uema, instituição que conheces bem, você marcou um gol de placa nessa blogosfera cheia de atitudes racistas, facistas e intolerantes de pessoas que se escondem na virtualidade para cometer tais crimes.
    Felizmente, o professor Juca é um militante experiente e já enfrentou esse tipo de racismo, inclusive, dentro da própria Uema.
    O que deve ser destacado neste momento é que as forças democráticas enfrentam essa realidade e lutam sempre pela alteridade entre os seres humanos.
    Como sabemos, a intolerância e todo tipo de racismo que possam surgir em qualquer lugar do mundo, devem ser combatidos por nós, com tenacidade e respeito aos direitos humanos.
    Parabéns pelo seu belíssimo blog, muito bem organizado e visitado em sua estréia. O sucesso está com você!
    Um abraço,

    Paulo Rios

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Grato pela participação.