O ensino superior brasileiro, há muito, desenvolveu-se através da disseminação da pesquisa e extensão, mas ainda assim não conseguiu insuflar na sociedade como um todo a prática da leitura. O que se percebe é apenas a instrumentalização da leitura, a transformação deste componente de formação crítica e conscientização em ferramenta operacional na busca pela obtenção do diploma.
Se se espelha no ensino superior o desenvolvimento de uma nação através da produção de conhecimento e aplicação posterior deste na realidade social, no cotidiano de quase cento e noventa milhões de brasileiros, há que se pensar também que a prática da leitura ainda não se constituiu num hábito. Segundo pesquisas recentes, o maior efetivo populacional de analfabetos são os funcionais, aqueles que leem e escrevem, mas não desenvolveram a capacidade de raciocínio e compreensão sobre o que leem e escrevem. Isso mostra que, mesmo com avanços na área de pesquisa e extensão, as universidades públicas e instituições privadas de ensino superior no país não obtiveram resultados frutíferos mínimos na questão de seu papel social primário: o de transformar a vida dos brasileiros através da leitura e, consequentemente, da educação.
Tal quadro se mostra ainda mais alarmante quando os próprios "universitários", por assim dizer, demonstram certa repulsa pela leitura à medida que são estimulados por seus professores. É o que revela dados do último Enad, onde se constatou que muitos alunos não conseguiam compreender o que se pedia nas questões. Talvez, essa deficiência adquirida por um modelo de "educação bancária", que transformou aprendizes em meros reprodutores de conteúdo ao longo de toda sua gestação educacional, não se resolva de modo assim tão simples na instância superior do ensino, já que a reprodução deste mecanismo não se extingue na academia, pelo contrário, acaba encontrando tentáculos em diversas faculdades particulares, principalmente.
Diante disso, pode-se inferir que a estrutura educacional brasileira do ensino superior ainda está longe de transformar a realidade social através da leitura, já que a preocupação com o diploma está acima da compreensão inteligível sobre aquilo o que se lê. Necessária é, pois, a implantação de políticas públicas eficazes que incentivem, desde cedo, a prática da leitura nas diversas instâncias do saber, para que os jovens de amanhã não sejam, em hipótese alguma, incluídos no descalabro cenário do analfabetismo funcional de hoje, cuja valorização pelo saber esteja acima da obtenção de certificados e papéis que, por si só, nada significam.
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