segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Feira do Livro: um olhar contrastante

A 4ª edição da Feira do Livro de São Luís, que aconteceu de 12 a 21 de novembro, na Praça Maria Aragão, encerrou suas atividades com o mesmo sucesso de público do ano passado.

Com o tema “O livro é guia e instrumento da sabedoria”, a edição deste ano, que teve como patrono o escritor, cineasta e jornalista José Louzeiro, trouxe diversificados espaços onde foram desenvolvidas inúmeras palestras, debates literários, lançamentos de livros e apresentações culturais.

Um dos fatos que mais marcaram o evento foi a presença de um acentuado público infantil, de 0 a 6 anos, que, acompanhadas de seus pais, puderam participar e mergulhar no fabuloso mundo da imaginação, num espaço destinado exclusivamente para as crianças nessa faixa etária. Para Cristina dos Santos, 26, mãe de Maria Clara, de apenas dois anos, a Feira serviu de incentivo ao gosto pela leitura e pelas artes, tanto para ela quanto para sua filha, que observava atentamente as apresentações dos grupos de teatro infantil.

Outro ponto a favor da Feira deste ano foi o contato maior dos escritores com o público, que teve a oportunidade de discutir textos e idéias, além de tirar fotos e receber autógrafos, tudo facilitado pelo formato das palestras e dos debates, que estimulava a participação da platéia ao mesmo tempo em que favorecia maior interação entre leitores anônimos e autores renomados como Ceres Costa Fernandes, Sônia Almeida, além do próprio José Louzeiro.

No entanto, um aspecto negativo a ser ressaltado é a questão da desorganização do evento que, quase às vésperas da data prevista para seu início, ainda não se tinha certeza se iria acontecer ou não. Segundo a estudante Cecília dos Anjos, 25, que trabalhou na organização do evento, foram os patrocinadores que fizeram a Feira. “Se não fossem eles, a Feira não teria acontecido”.

Cecília informa ainda que o próprio homenageado não foi bem divulgado. “Este ano, quase não tem panfletos sobre o José Louzeiro. Se você olhar bem, só existe aquele da entrada e alguns outros menores, espalhados por aí, sem que ninguém veja direito. Muita gente já parou para me perguntar: Quem é esse Zé Louzeiro?”.

Já para o administrador Sóstenes Salgado, 43, outro ponto preocupante da Feira foi a falta de acesso da população mais pobre aos livros, cada vez mais caros. “A Feira se tornou um negócio. Não é algo popular. As classes menos aquinhoadas não têm acesso ao conteúdo dos livros. Só podem visualizá-los”, afirma o administrador. Para ele, uma possível solução seria a distribuição de livros. “Se isso fosse feito, a Feira atingiria seu maior objetivo: o de formar leitores”.

Assim, a edição de 2010 da Feira do Livro de São Luís deixa um saldo paradoxal no seio da população maranhense. Apesar do estímulo e da preocupação com as futuras gerações de leitores, exemplificadas na destinação de espaços excluvisos para o público infantil, o evento ainda deixa lacunas significativas para o cenário cultural regional, à medida que não favorece a materialização do desejo de inúmeros maranhenses pobres em aquisição de livros para serem lidos, e não simplesmente apreciados, vislumbrados nos estandes.

Nesse caráter meramente contemplativo, a “Feira do Livro” se transforma na “Feira das Editoras”, que elevam seus preços na expectativa de venderem mais – mas não a um mercado popular, e sim, às faixas mais “nobres” da sociedade maranhense e aos turistas, em visita à cidade – o que evidencia maior preocupação com os lucros do que com a disseminação do hábito da leitura, transmutando o significado do “livro como instrumento de sabedoria” em “livro como precioso artigo de luxo”.
           

5 comentários:

  1. Muito bom jornalista Hugo, parabéns. Agora esse Sóstenes Salgado tem um olhar crítico do caramba !!! kkkkk. Abraço e Parabéns pela matéria e cobertura, alguém precisa dizer algo diferente dos elogios que mascaram o marketing da guerra de preços das editoras.

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  2. hum vc sempre de esquerda ne sostenes,vai dizer a minha não ficou boa?.oi hugo lê a minha la e comenta tb.beijos

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  3. É AMIGO PARABÉNS PELO BLOG E PELO TEXTO.EU PARTICULAMENTE ADORO A FEIRA,PORÉM É NOTÓRIO QUE O CAPITALISMO É QUE ACABA ROUBANDO A CENA,POIS OS QUE ESTÃO A MARGEM VÃO A FEIRA SÓ PASSEAR,AFINAL DE CONTAS NÃO PODEM TER ACESSO A LIVROS CARÍSSIMOS AÍ FICA A DÚVIDA,O INTUÍTO É REALMENTE FOMENTAR A LEITURA?
    BJIM!!!!!!!!!!!

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  4. Olá amigo,

    Encontro sempre por aqui um olhar crítico...muito bom seu artigo...a verdade é uma fatalidade!!!

    ABRAÇO!!!

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  5. Fábio, obrigado pela visita e pelo elogio.

    Concordo com você. Por isso, cada vez mais este espaço ganha importância, à medida que nos propicia analisar os fatos e publicarmos nossos textos longe da órbita mercadológica que engendra eventos de tal monta, como as feiras de livro espalhadas por este Brasil afora, e que impõem olhares benevolentes e impulsivos ao consumo pela grande mídia à sociedade, quase sempre desprovidos de criticidade.

    Abraços fraternos.

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Grato pela participação.