A escola de samba Beija-Flor de Nilópolis surpreendeu na Sapucaí ao mostrar uma história dos 400 anos de São Luís desvinculada das interpretações consagradas dos intelectuais elitistas maranhenses que pintaram a cidade pelo prisma da aristocracia política, econômica e intelectual.
Ao brindar os espectadores e o público presente na Sapucaí com um desfile que priorizou as contribuições dos escravos para a cultura de São Luís, a Beija-Flor fugiu à historiografia devotada aos letrados que endeusaram Gonçalves Dias, João Lisboa, Sotero dos Reis e os irmãos Azevedo (Aluízio e Arthur), dentre outros, decepcionando aqueles que ansiavam por um desfile das tradições aristocráticas pinceladas pelos membros das elites políticas e intelectuais do Maranhão.
É necessário que isto seja dito e reproduzido, já que a população maranhense, particularmente a de São Luís, foi moldada a acreditar que era integrante de um movimento restrito e confeccionado pelas elites dominantes que esculpiram ideologicamente um Maranhão completamente idiossincrático em relação ao analfabetismo que imperava entre a população mais pobre (80% dos habitantes ludovicenses não sabiam ler nem escrever) e negra escravizada de São Luís (o maior quinhão da população, sendo a elite intelectual letrada, política e econômica da cidade a minoria) durante os séculos XVIII e XIX.
Os "críticos de plantão" que apontaram um "péssimo" desfile da Beija-Flor colocam tudo culpa no enredo, como se ele tivesse vida própria. Muitos esquecem que a escolha do samba-enredo foi feita após um concurso, no qual inúmeras propostas foram apresentadas. Como a Beija-Flor poderia apresentar algo diferente de um samba-enredo que foi escolhido em outubro do ano passado?
Querem encontrar "culpados" por não terem visto os "encantos e belezas naturais" de São Luís, seus telhados, azulejos e casarões (grande parte em ruínas), seus poetas aristocratas pertencentes à mais alta elite política e intelectual de um Estado com ampla maioria da população analfabeta, pobre e negra-africana escravizada.
Foi uma grata surpresa contemplar que os carnavalescos da Beija-Flor não se deixaram seduzir por uma história construída, fabricada, moldada e reivindicada como "legítima" de veneração, de memória, de identidade da cidade de São Luís. Foi um "tapa-na-cara" de quem queria ver a "cultura letrada" e se abismou com as contribuições históricas e sociais da cultura afro que compuseram a história de São Luís, com muito sangue e suor.
Parabéns, Beija-Flor!!!
Hugo Freitas
Atualizado em 21/02/2012, às 14h55
É necessário que isto seja dito e reproduzido, já que a população maranhense, particularmente a de São Luís, foi moldada a acreditar que era integrante de um movimento restrito e confeccionado pelas elites dominantes que esculpiram ideologicamente um Maranhão completamente idiossincrático em relação ao analfabetismo que imperava entre a população mais pobre (80% dos habitantes ludovicenses não sabiam ler nem escrever) e negra escravizada de São Luís (o maior quinhão da população, sendo a elite intelectual letrada, política e econômica da cidade a minoria) durante os séculos XVIII e XIX.
Os "críticos de plantão" que apontaram um "péssimo" desfile da Beija-Flor colocam tudo culpa no enredo, como se ele tivesse vida própria. Muitos esquecem que a escolha do samba-enredo foi feita após um concurso, no qual inúmeras propostas foram apresentadas. Como a Beija-Flor poderia apresentar algo diferente de um samba-enredo que foi escolhido em outubro do ano passado?
Querem encontrar "culpados" por não terem visto os "encantos e belezas naturais" de São Luís, seus telhados, azulejos e casarões (grande parte em ruínas), seus poetas aristocratas pertencentes à mais alta elite política e intelectual de um Estado com ampla maioria da população analfabeta, pobre e negra-africana escravizada.
Foi uma grata surpresa contemplar que os carnavalescos da Beija-Flor não se deixaram seduzir por uma história construída, fabricada, moldada e reivindicada como "legítima" de veneração, de memória, de identidade da cidade de São Luís. Foi um "tapa-na-cara" de quem queria ver a "cultura letrada" e se abismou com as contribuições históricas e sociais da cultura afro que compuseram a história de São Luís, com muito sangue e suor.
Parabéns, Beija-Flor!!!
Hugo Freitas
Atualizado em 21/02/2012, às 14h55
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