sábado, 8 de dezembro de 2012

JIM MORRISON: Lendas e mistérios sobre o eterno poeta do Rock


Por Hugo Freitas
Historiador e Sociólogo

Na "versão oficial", a vida do vocalista e líder da banda "The Doors", Jim Morrison, chegou ao fim, aos 27 anos, após um ataque cardíaco ocorrido no dia 3 de julho de 1971, em Paris, provocado por “causas naturais”.

No entanto, mais de quatro décadas depois, há muitos mistérios, suspeitas, especulações, fatos inexplicados e lendas que giram em torno do músico, inclusive a de que Morrison ainda estaria vivo.


Na versão aceita e propagada pela mídia mundial, o músico americano foi encontrado morto por volta das 5 horas da manhã pela namorada, Pamela Courson, dentro de uma banheira, com os braços apoiados nas laterais, cabeça pendida para trás e o cabelo molhado.

O local da cena foi um apartamento na rue Beautraillis 17, em Paris (FRA), onde Morrison morava fazia alguns meses. O médico francês que examinou o corpo decretou que a causa da morte foi ataque cardíaco.

James Douglas Morrison tinha 27 anos. É essa, pelo menos, a versão oficial, difundida pela imprensa e estampada em biografias e filmes sobre Morrison e "The Doors".

Revista Rolling Stone estampa capa anunciando a morte de Jim Morrison ("Ele é quente, ele é sex e ele está morto. Traduzido por Hugo Freitas)

Mas, desde o anúncio da morte do músico, começaram também a surgir especulações, sugestões de complôs e teses bizarras em torno do desaparecimento do polêmico astro do rock.

Algumas dessas histórias fazem com que, até hoje, muitos fãs questionem se Morrison realmente morreu do coração – ou se ele, de fato, morreu naquele verão em Paris, ou se ainda está vivo.


"Teoria da conspiração": Morrison foi assassinado pelo FBI

Uma das teses mais disseminadas é a de que Morrison teria sido assassinado pelo FBI – à época comandado pelo lendário J. Edgar Hoover.

Autor de vários livros, o poeta Morrison era aclamado pela juventude como um ícone libertário, um crítico do autoritarismo e do american way of life.


No entanto, na contramão dessa idolatria juvenil, autoridades americanas o viam como um agitador, um militante anti-Guerra do Vietnã, alguém identificado com o ideário do movimento New Left (Nova Esquerda), combatido por Washington.

A ficha do líder do "The Doors" era conhecida pelo FBI, que teria chegado a reunir 89 páginas de documentos sobre ele, segundo o pesquisador do Rock Alex Constantino.

Jim Morrison detido e processado por mostrar o pênis num show

Há quem suspeite inclusive que Jimi Hendrix e Janis Joplin também tenham sido apagados pela mesma conspiração. Numa entrevista concedida em 1991, o tecladista do "The Doors", Ray Manzarek, disse acreditar que o FBI queria deter a influência de celebridades do Rock, e que o alvo principal e mais “perigoso” era Jim Morrison.

Nas palavras do rock star: "Janis era só uma mulher branca cantando a respeito de encher a cara e transar bastante, enquanto Hendrix era um negro que cantava: ‘Vamos ficar loucos’. Morrison estava cantando ‘Queremos o mundo e o queremos agora’".


De acordo com essa teoria, o FBI teria armado um complô e infiltrado algumas pessoas no círculo pessoal de Morrison que, no final, providenciaram um cenário quase perfeito para a morte “por causas naturais”, como diria depois o empresário da banda, Bill Siddons.

Contudo, conforme essa versão dos fatos, alguns detalhes são suspeitos. À exceção da namorada Pamela, nenhum conhecido de Morrison viu o corpo. Quando Siddons chegou a Paris, “o que ele viu no flat de Jim e Pamela foi o caixão lacrado e o atestado de óbito com a assinatura de um médico. Não havia boletim policial ou médico no local. Não foi feita autópsia. Tudo o que ele tinha era a palavra de Pam de que Jim estava morto... Quem era o médico? Siddons não sabia; Pamela não se lembrava. Mas assinaturas podem ser forjadas ou compradas”, diz um trecho do livro No One Here Gets Out Alive (Daqui Ninguém Sai Vivo), de Jerry Hopkins e Danny Sugerman, biógrafos de Morrison.

Jim Morrison e a namorada Pamela, a última pessoa que teria visto seu corpo

Pam morreria poucos anos depois. O médico que teria feito o exame, Max Vasille, nunca falou sobre o assunto. Siddons esperou até 9 de julho – seis dias depois da morte – para anunciar publicamente o que havia ocorrido.

Além disso, John Densmore, baterista dos Doors, afirmou ter achado estranho que o túmulo “era pequeno demais”. Nunca ficou claro como um pop star americano foi enterrado no cemitério de Père La Chaise, um monumento público francês onde estão os restos de notáveis como Balzac, Moliére e Oscar Wilde.


Morrison vive

Outra teoria dá conta de que Jim Morrison teria sido visto diversas vezes em 1973, em Los Angeles, frequentando bares gays. Os rumores eram tantos que o tecladista Ray Manzarek declarou que não se surpreenderia se Morrison realmente estivesse vivo.

"Se havia um cara que teria sido capaz de encenar a própria morte – pagando a algum médico francês para conseguir um atestado de óbito falso – e colocar sacos de areia com cerca de 70 quilos dentro do caixão e desaparecer em algum lugar deste planeta – África, quem sabe –, esse alguém seria Jim Morrison", disse Manzarek, segundo um trecho de livro sobre a vida de Morrison.

Outra suposta "evidência" que acendeu a discussão sobre a possibilidade de que Jim ainda estaria vivo ocorreu em 1998, quando o fotógrafo e produtor de vídeo americano Gerald Pitts afirmou ter encontrado Morrison vivendo como um vaqueiro num rancho na região noroeste dos EUA.


Pitts disse, na ocasião, que o ex-músico fingiu ter morrido para escapar de um complô do governo francês, que desejava matá-lo por sua postura contra a Guerra do Vietnã. Morrison teria hoje 62 anos.

Morte de Morrison cercada de mistérios e fatos mal explicados

Para esquentar ainda mais as discussões e ilações sobre a morte de Jim Morrison, uma nova edição da revista Classic Rock Magazine, de maio deste ano, apresentou ao público um detalhado relato dos últimos dias do polêmico cantor e compositor, incluindo uma entrevista com Sam Bernett, o homem que afirma que Morrison morreu na boate que estava gerenciando na fatídica noite, a Rock’N’Roll Circus.

A renomada revista sobre o Rock publicou em um texto online os relatos de Bernett sobre o que aconteceu naquela noite fatal, cuja tradução segue abaixo:

Entrevista: Max Bell Sam Bernett: Eu estava na boate aquela noite, 2 de julho, e Jim entrou por volta da uma da manhã, 3 de julho. Ele estava no bar, como era usual. Ele estava com alguns amigos que eu não conhecia. Ele estava esperando as pessoas trazerem alguns produtos para Pamela (ex-namorada de Jim Morrison). Ele estava esperando. Ele bebia, nós nos falamos, eu o ouvia. Eu estava ocupado como o gerente do clube. Eu não estava sempre próximo a ele. Eu trouxe a ele alguns drinks.

Alguns caras vieram e então, por uns 20 minutos, ele não estava mais no bar. Ele desapareceu. Então a garota responsável pela chapelaria do andar de cima… me procurou. Ela estava preocupada porque uma porta tinha sido trancada já havia um bom tempo e as pessoas estavam reclamando que não conseguiam entrar. Eles bateram na porta, alguém aí? Sem resposta. Então eu verifiquei com ela. Nenhuma resposta mesmo. Eu não sabia que Jim estava atrás da porta. Eu chamei meu segurança para arrombar a porta e lá dentro estava Jim. Sentado no banheiro sem reação, como se estivesse dormindo ou nocauteado, suas calças ligeiramente abaixadas. Ele estava sentado com sua cabeça para baixo e seus braços para baixo, como um cara morto. Eu o agitei. Eu o olhei no rosto, sem reação. Ele tinha espuma no nariz e nos lábios.

Eu falei para a garota conseguir um médico. Eu tinha um amigo, um cliente, lá toda noite – ele estava no clube. Ele veio, olhou para Jim, e começou um pequeno check-up. (Então) ele me olhou e disse: “Esse cara está morto”. Eu disse imediatamente: “Chamem os bombeiros, os paramédicos!” De repente dois caras que tinham estado no clube com Jim vieram e disseram: “Ele não está morto, ele só está um pouco acabado. Não chamem a polícia, não chamem sua família, nós o levaremos de volta pra casa” Eu disse: “Não, isto é impossível. Nós temos que chamar a polícia e os médicos”. “Não”, eles disseram, “esqueça. Nós o levaremos para fora do clube. Nós podemos usar a porta dos fundos? Não a porta da frente”. “Não! Não podem”.

Então o dono da boate foi chamado, todo mundo se dispersou – não Paul Pacini (o dono da boate), o braço direito de Jim. Ele disse: “Não chamem a polícia, nós não queremos encrenca. Eles fecharão o clube e nós teremos um escândalo”. Eu disse: “Você não pode fazer isso“. E ele disse: “Eu sou o chefe, você faz o que eu digo”. Os dois caras o pegaram e o levaram para fora do clube através do Alcazar (o clube vizinho ao Circus), então o levaram para a porta de entrada do clube oposto à Rua de Seine e que dá entrada para o Circus. O clube estava fechado, o cabaré tinha acabado, exceto poucas pessoas que olhavam para ver o que estava acontecendo. A partir daí eu não sei o que aconteceu.

Eles o levaram para o apartamento. Eles me contaram que o colocaram na banheira e esperaram por uma hora e meia as pessoas chamarem os paramédicos. Pâmela estava no apartamento, fora de si, gritando. Estava completamente transtornada. Quando eu escrevi meu livro (publicado na França em 2007, "The End" – Jim Morrison), eu fui à polícia e aos paramédicos. O bombeiro me contou que ele sabia que Jim tinha morrido mais cedo. “Esse cara já estava morto por algumas horas”. O comissário de polícia me contou a mesma coisa: “Nós sabíamos que havia alguma coisa errada com a história”.

Eu não sei o porquê, mas ele disse: “É verão – olhe, eu estou saindo de férias amanhã”. Ele queria encobrir algo rapidamente, então ele assinou os papéis. Ele não acreditou na história que lhe contaram no apartamento. Foi estranho e falso, mas ele já tinha ido. Eu não pude contar [os nomes de] algumas pessoas que estavam no clube. Eu não pude colocá-los no meu livro [por razões legais]. Mas eu estou dando meu relato de vítima. O que aconteceu depois e o porquê dos policiais e todo mundo mais que não me contaram a verdade, que encobriram algo, eu não entendo.

Meu amigo médico estava certo de que Jim estava morto. Eu não irei dizer seu nome porque ele está morto, mas sua família ainda está viva. Eu esperei 35 anos para contar minha história porque eu fiquei de saco cheio com as pessoas me fazendo perguntas toda as vezes em que a data da morte de Jim está próxima. Minha esposa disse: “Pare de se lamentar e escreva seu livro então”.

Eu me lembro de um jantar em que eu estava sentado próximo à mãe do Oliver Stone – isso foi quando ele estava fazendo o filme de Jim e dos The Doors. E eu contei a ela: “Olhe, eu sei o que aconteceu, se seu filho estiver interessado”. Eu contei a ela o que eu sabia, porém Stone não se incomodaria com aquela versão. Talvez ela nunca tenha lhe contado. Mas você sabe, a versão americana da morte do Jim é tolice. Sem sentido. A versão francesa está perto da verdade. Os americanos são ingênuos".


Jim Morrison: a lenda vive

Quatro décadas depois, quem poderá afirmar com certeza se a morte de Morrison foi provocada por um infarto, ou pelo excesso de álcool, ou pelo abuso de drogas pesadas, ou se foi resultado de uma overdose de heroína, como se sugeriu, ou se alguma das teorias tem algum fundo de verdade e o artista ainda está vivo por aí?

De tudo, o que resta é a certeza de que Jim Morrison viveu intensamente seus 27 anos (ou mais), transformando sua música em poesia cantada e seu reconhecimento artístico em instrumento na luta contra o imperialismo norte-americano e a favor das liberdades democráticas, num período histórico onde expressar-se publicamente era colocar em xeque a ordem vigente.

Jim Morrison e "The Doors"

24 comentários:

  1. Muito bacana o post sobre Jim... Como fã, eu prefiro acreditar que ele está vivo! This is not the end; =/

    ResponderExcluir
  2. Respostas
    1. Obrigado, Pedro, pelo elogio e pela participação.
      Abraço fraterno.

      Excluir
  3. Excelente matéria ! Gostei muito, meus parabéns!

    ResponderExcluir
  4. Estou muito bem e vivo. Só que renascido em um corpo mais jovem. Pena que pela ambição de muitos a lenda não pode reviver...

    ResponderExcluir
  5. tem outra teoria comprovada de que seu caixão e túmulo foram comprados pelo próprio mojo risin antes de sua suposta morte ..... nos registros do cemitério e nos registros da funerária, constam o nome dele como efetuador das compras..... alguém tem dúvidas de que esse filho da mãe ainda está vivo ?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu pelas informações, Thomas.
      Realmente, o mistério continua.

      Excluir
  6. Cara você é blogueiro mais simpático que já vi, e olha que leio muito em blogues, sites etc... Parabéns foi sobre ele que li hoje.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Vlw pelo elogio, Kauano. Novo para mim ser considerado o "mais simpático". Obrigado mesmo! :)

      Excluir
  7. hunn pena, queria saber oque realmente aconteceu :\

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. São várias teorias sobre o paradeiro de Morrison e tem para todos os gostos e crenças. :)

      Excluir
  8. curioso notar q john lennon e o jim morrison morreram na mesma data porem em anos diferentes

    ResponderExcluir
  9. tem 29 anos curto the doors desde os 11 vi o filme ant ont devolta tinha assistido com 17 anos so uma vez nao acredito q ele tenha morrido acho q mataram ele tem alguma falcatrua ai

    ResponderExcluir
  10. Gostaria de saber pq foi enterrado em Paris??

    ResponderExcluir

Grato pela participação.