Flávio Dino foi o primeiro "sabatinado" e teve de responder sobre suas "polêmicas" alianças eleitoreiras
Por
Hugo Freitas
Se
alguém ainda tinha dúvidas sobre quando a disputa eleitoral no Maranhão iria
"esquentar pra valer" deve ter se saciado com o início da série de
sabatinas com todos os candidatos ao governo do Estado proposta pela TV Guará,
canal 23, de São Luís.
O
primeiro a ser "sabatinado", na noite desta terça-feira (04), foi o
candidato da Coligação "Todos pelo Maranhão", Flávio Dino (PCdoB). A
primeira "estranheza" a ser ressaltada foi o fato do programa ter
sido gravado, e não ao vivo, como os milhares de eleitores maranhenses
esperavam. Afinal de contas, num programa gravado a "edição" é um
recurso bastante utilizado pelas emissoras, o que diminui a sensação de
espontaneidade dos candidatos diante das respostas, eufemiza a ligação direta
entre os candidatos e o público eleitor e, consequentemente, o impacto das
falas e das posturas dos mesmos junto aos telespectadores.
Um outro
ponto a ser destacado nestas mal traçadas linhas foi a forma como os
jornalistas presentes ao debate cumpriram "religiosamente" seus
"papéis sociais", previamente definidos por seu "lugar de
fala". O jornalista da emissora anfitriã - promotora da sabatina e,
portanto, teoricamente "neutra" - fez uma das perguntas de cunho mais
jornalístico que se poderia esperar, qual seja o descompasso entre encher
hospitais de médicos através da proposta do "Mais Médicos estadual" e
não ter medicamentos nem equipamentos para trabalhar.
Por sua
vez, o repórter de "O Estado do Maranhão", de propriedade da família
Sarney, apoiadora da candidatura de Lobão Filho (PMDB), principal adversário de
Flávio Dino, fez as perguntas mais "embaraçosas" a este candidato, ao
questioná-lo sobre as polêmicas alianças com ex-sarneysistas e tucanos como
Aécio Neves e João Castelo (PSDB) e sobre a mudança de postura de Dino frente à
PEC 37, que visava limitar o poder de investigação do Ministério Público.
Já o
repórter do "Jornal Pequeno", abertamente favorável à candidatura de Flávio, fez
as perguntas mais "confortáveis" ao comunista, que foi instado a
falar sobre seu plano de governo, sem ser "espremido" sobre
"como" irá colocá-lo em prática.
Contudo,
o melhor da noite estava por vir. O "nó cego" da sabatina ficou por
conta do jornalista de "O Imparcial", que questionou o candidato
sobre uma suposta incongruência entre ser membro de um partido
"comunista" e professar a "fé cristã".
Tal
pergunta é a prova cabal do quanto ainda existem "jornalistas"
despreparados para participar de um debate sério e propositivo, onde o que se
deveria levar em conta são os problemas da população e o conjunto de alianças
políticas, que diz muito sobre como será a composição do futuro governo, e não
a intimidade da fé religiosa dos candidatos.
Além
disso, na mesma linha de raciocínio, uma pergunta que polariza "Religião x
Comunismo", em pleno ano de 2014, é tão retrógrada quanto o período a que
ela remete, a saber a época da Guerra Fria e a divisão do mundo entre
capitalistas liderados pelos EUA ("cristãos") e comunistas liderados
pela extinta URSS ("ateus"). Vale lembrar que diversos estudos
historiográficos descortinaram as estratégias midiáticas em voga que
estigmatizavam o "comunista" dos anos de 1960 de "bicho-papão",
"comedor de criancinhas", e por aí vai.
Um despropósito sem tamanho
para os dias correntes, haja vista que até mesmo setores da Igreja Católica
formularam a "Teologia da Libertação", uma aproximação ideológica
entre preceitos do marxismo e do cristianismo que tem por base a "opção
preferencial pelos pobres". O próprio Flávio Dino mencionou uma passagem bíblica onde Jesus fala de "comunhão" para esclarecer essa suposta dicotomia.
Em linhas gerais, o candidato Flávio Dino saiu-se muito bem em todas as perguntas, no tocante à forma e à postura, respondendo-as com eloquência e desenvoltura, mesmo as mais "espinhosas", não se esquivando de nenhuma.
Contudo, em termos de conteúdo, o fato de tentar se apropriar de programas federais já em curso para travesti-los com as cores do Maranhão sugere uma escassez de propostas que combatam, de fato e de frente, as graves mazelas da sociedade, quais sejam desemprego, analfabetismo, violência, miséria, fome, mortalidade infantil, abismo social entre ricos e pobres, dentre outros, ainda mais em se tratando de um candidato que viajou praticamente por todo o Estado com sua caravana "Diálogos pelo Maranhão".
Ao falar do "Mais Médicos estadual" e do programa "Água Para Todos no Maranhão", por exemplo, Flávio nada mais fez além de colocar, antecipadamente, a placa do governo estadual em programas do governo federal, prática política amplamente recorrente por estas maranhas.
Portanto, e em suma, apesar do script pré-fabricado e da falta de conhecimento sobre a reiterada
"falsa polêmica" entre "Religião x Comunismo", que apenas
comprova, por um lado, o grau de analfabetismo político de uns, e, por outro, o
pragmatismo eleitoreiro do PCdoB, que em nada se difere de siglas como PT, PMDB
e PSDB, no tocante à composição de alianças "polêmicas" e estratégicas em busca da conquista e manutenção do poder, que esfacela sua bandeira "ideológica", o pioneirismo da TV
Guará em conceder espaço igual a todos os candidatos ao governo do Maranhão é
digno de se tornar referência, já que tal postura é joia rara de se vê em
outras emissoras locais, que privilegiam uns em detrimento de outros.
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