segunda-feira, 2 de junho de 2014

O JOGO DE "CARTAS MARCADAS" NA GREVE DOS RODOVIÁRIOS


Por Hugo Freitas

A greve dos rodoviários de São Luís está se transformando num verdadeiro "picadeiro", onde o palhaço somos eu e você, prezado leitor e usuário do sistema de transporte coletivo da capital! E tudo graças à intransigência e oportunismo dos empresários que monopolizam o setor há décadas.

Como se viu durante toda esta segunda-feira (02), empresários e rodoviários não cumpriram a determinação do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-MA) que obriga o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de São Luís (SET) a garantir a circulação de pelo menos 70% da frota.

Com o descumprimento, a cidade foi penalizada pelo sétimo dia consecutivo sem nenhum ônibus nas ruas. Todos trancafiados nas garagens.

Pela decisão judicial, a partir de agora será aplicada multa diária no valor de R$ 100 mil ao Sindicato das Empresas de Transportes (SET). Além disso, a entidade fica obrigatoriamente responsável pela contratação de motoristas, cobradores e fiscais, em regime temporário, para o suprimento do serviço.

A desembargadora Solange Cristina Passos de Castro Cordeiro, autora da decisão, também ordenou a realização de perícia contábil, um estudo do contrato de concessão do sistema de transporte público, diante das alegações dos empresários de inviabilidade financeira para a retomada dos serviços.

Mas eis que surge o absurdo do dia! O sindicato patronal exigiu, como condicionante para o fim da greve, além do aumento da passagem de ônibus, um repasse da Prefeitura de São Luís no valor de R$ 4 milhões para custeio das despesas com a execução dos serviços.

Isso mesmo, prezado usuário! Os empresários exigem que a Prefeitura assuma as despesas do setor de transportes para garantirem seus lucros privados. Parece piada (de mau gosto, por sinal), mas não é!

Ao invés de decretarem falência, abrirem mão dos contratos de exploração dos serviços de transportes e devolverem suas concessões para a abertura de novas licitações e concorrências para outras empresas, a classe patronal do setor simplesmente deseja que um representante público (a Prefeitura) custeie um serviço público com dinheiro público para arcar com as despesas privadas de empresas privadas que visam garantir apenas seus lucros privados.

Outro ponto que chama a atenção é que os empresários exigem tais absurdos para por fim a uma greve que é dos rodoviários. Ou seja, os patrões impõem condições para por fim a uma greve que é dos trabalhadores. É como se o SET, sindicato dos empresários, tivesse poderes para falar em nome do sindicato dos rodoviários (STTREMA).

Em face disso, parece se tornar cada vez mais nítida a tese de que a greve dos rodoviários não acontece sem a anuência dos empresários. E pior! Que são os patrões que parecem assumir as rédeas de um movimento da classe trabalhista, dando a entender que tudo não passa de "cartas marcadas"!

Eis a máxima dominante que engendra a relação entre empresários e rodoviários em tempos de greve: "Seu" aumento só virá com o "meu" aumento ou, pelo menos, com a manutenção dos "meus" ganhos atuais, sob nenhuma hipótese de redução da "minha" margem de lucros.

Funciona assim: os rodoviários exigem aumento de salário e os empresários alegam o velho discurso da "falência" para pressionar a Prefeitura a aumentar o preço das passagens. Com o reajuste, quem paga o aumento dos salários dos trabalhadores não são os empresários, mas sim, os usuários do transporte coletivo.

Dessa forma, os patrões mantêm sua margem de lucro inalterada com o aumento das passagens, que irão custear o reajuste pleiteado pelos trabalhadores. "E tudo fica como dantes no castelo de Abrantes"!

Em tempo: O pedido de análise sobre a ilegalidade da greve do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário no Estado do Maranhão (Sttrema) foi solicitado pela Prefeitura de São Luís, através da Procuradoria Geral do Município (PGM), devido aos transtornos causados à população com a paralisação de toda a frota de coletivos.

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