Por Hugo Freitas
O cantor e compositor Zeca Baleiro, em
sua página no Facebook, falou e se posicionou sobre a "campanha" feita pelos fãs
e amigos nas redes sociais para que ele fosse o novo Secretário de Cultura de
São Luís, na próxima gestão municipal que irá tomar posse em 1º de janeiro de 2013.
Apesar de ter revelado que sonhou com o
cargo, mas negando ter recebido qualquer proposta oficial para assumir a pasta
a partir do ano que vem, Zeca Baleiro ofereceu ao público, em suas linhas
textuais, um olhar desmistificador e crítico sobre a "politicagem cultural" no Maranhão, particularmente em São Luís, onde a "cultura do
dinheiro" enriquece "os cofres de joões-ninguéns articulados e bem
relacionados, mas sem nenhum comprometimento com o fazer cultural".
Baleiro aponta que a riqueza desses
"descompromissados" com a cultura é diametralmente oposta à realidade
daqueles que efetivamente oxigenam o "fazer cultural" de São Luís,
morrendo à míngua "felipes, leonardos, tetés, nivôs e toda a realeza
mestiça espalhada (e esquecida) nos guetos de nossa outrora Ilha Rebelde".
Em suas observações, o renomado artista
é taxativo ao afirmar que é necessário "aprender a não bater continência
aos absurdos e desmandos de governantes, sejam quais forem. Aprender que fazer
cultura é muito mais que administrar orçamentos de Carnaval e de São João".
O texto de Baleiro acabou se
constituindo num libelo reflexivo sobre a "politicagem mais estéril e infrutífera" reinante na
cultura maranhense, que relega à miséria a verdadeira "realeza", esquecida nos guetos de São Luís. Leitura obrigatória!!! (OBS: Grifos nossos)
SOBRE CAMPANHA PARA SECRETARIA DE
CULTURA
Este texto é para agradecer a
mobilização que foi feita nas redes sociais há cerca de um mês pedindo o meu
nome para Secretário Municipal de Cultura de São Luís do Maranhão. Naturalmente
fiquei lisonjeado com a “campanha”, uma iniciativa de fãs, entusiastas e
amigos, mesmo que não tenha sido feito nenhum convite oficial.
Nunca havia passado pela minha cabeça o
projeto de assumir um cargo como o de Secretário de Cultura, mas é claro que,
uma vez deflagrada a campanha, minha mente sonhadora se perdeu em mil projetos
e devaneios. Sonhei festivais, editais, ocupação artística da área histórica,
revitalização de fato, oficinas, intercâmbios e troca de conhecimentos com o
resto do país. Sempre lutei, à minha maneira e com as armas que tinha, por uma
vida cultural proativa, intensa e autossuficiente nas cercanias do Maranhão,
estado cuja diversidade, cultural e racial ímpar faz dele um dos grandes
tesouros do país (ainda que bastante escondido).
Mas o cargo de Secretário Municipal de
Cultura é um cargo político, e mais que político, burocrático. E eu, por mais
que me esforçasse, não me sentiria capaz (não neste momento pelo menos) de
desempenhar a função como devida. Sou um artista, e é dessa maneira que sinto
que posso ajudar no desenvolvimento cultural do meu lugar de origem. Mas não
tenho ilusões. Não se muda o cenário cultural de uma cidade, estado ou país com
atitudes paternalistas ou favores de balcão (cultura que aliás sempre imperou
no Maranhão), mas sobretudo com uma discussão madura sobre o tema e uma
proposta efetiva e plausível de política cultural. Infelizmente o Maranhão – e
São Luís a reboque – está ainda na pré-história do debate político sobre
cultura, como de vários outros debates (e faço aqui uma exceção honrosa a
alguns guerreiros solitários como os amigos Joãozinho Ribeiro e Josias
Sobrinho).
O que vigora é a “politicagem” mais
estéril e infrutífera (frutífera apenas para os bolsos dos beneficiados, que
não são poucos) e a briga de interesses tacanhos de grupos políticos e/ou
partidários. Ora, a cultura é um bem comum, e deveria estar acima de interesses
deste ou daquele. Mas não á assim que acontece, infelizmente.
E assim vai-se levando a carruagem,
dando esmolas à nobreza da cultura popular e enriquecendo os cofres de
joões-ninguéns articulados e bem relacionados, mas sem nenhum comprometimento
com o fazer cultural. Minto, pois eles têm sim um comprometimento com a cultura
- a cultura do dinheiro, sujo de preferência, e ganho às custas do suor de
poetas, pintores, escritores, músicos, grafiteiros, atores ou simplesmente
amantes da arte e da beleza. Enriquecem enquanto morrem à míngua felipes,
leonardos, tetés, nivôs e toda a realeza mestiça espalhada (e esquecida) nos
guetos de nossa outrora “Ilha Rebelde”.
Pois é justamente o que falta à nossa
cidade: rebeldia. Rebeldia de verdade, visceral, guerreira, suicida quem sabe.
Aprender a não bater continência aos absurdos e desmandos de governantes, sejam
quais forem. Aprender que fazer cultura é muito mais que administrar orçamentos
de Carnaval e de São João, prestigiando grupos não por talento ou mérito, mas
por retribuição a sei lá que “tenebrosas transações”.
Há muitas pessoas capazes em São Luís –
artistas ou não - para ocupar o cargo de Secretário de Cultura. Espero que o
prefeito eleito tenha a sabedoria de escolher uma pessoa honesta e realmente
comprometida com os rumos culturais da cidade. Nenhum governo, em nenhuma
esfera, pode ser considerado “vitorioso” se não se basear no tripé básico Saúde
+ Educação + Cultura. Desejo sorte a ele e à cidade durante seu mandato.
E se por acaso acontecer de um dia eu
ser de fato convidado para cargo semelhante, espero estar à altura de
merecê-lo, e ser capaz de fazer metade do que sonho como projeto cultural ideal
para minha cidade, cidade que amo, apesar de todos os pesares de toda relação
de amor, que pode (e deve) ser crítica, por que não? Isso não torna o meu amor
menor. Nem minha revolta. Sim, revolta contra as almas mesquinhas que querem
apequenar o que nasceu para ser grande e belo e altivo, como a nossa Ilha de
Upaon-Açu, grande desde o nome até o seu destino.
Zeca Baleiro
26 de novembro de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Grato pela participação.