Vladimir Putin prometeu um rearmamento "sem precedentes" da Rússia diante dos Estados Unidos e um avanço do complexo militar-industrial que pretende colocar no centro do desenvolvimento do país, tal como na antiga URSS.
Vladimir Putin
Em um texto publicado nesta segunda-feira (20) no calor da proximidade das eleições que irão decidir o novo presidente da Rússia, o atual primeiro-ministro Vladimir Putin, que foi chefe de Estado de 2000 a 2008 e é candidato à presidência, põe como prioridade a necessidade de responder à implantação de um escudo antimísseis na Europa pelos Estados Unidos e Otan mediante o "reforço do sistema de defesa aérea e espacial do país".
Veja abaixo, no mapa extraído de um site russo, a situação na Europa em relação à presença de "escudos antimísseis dos EUA e da Rússia:
"Na próxima década, serão destinados 23 bilhões de rublos (590 bilhões de euros, 773 bilhões de dólares) a estes objetivos (de rearmamento)", informa o longo texto publicado pelo jornal oficial Rosiskaya Gazeta, consagrado totalmente à questão militar.
Exército russo desfilando em Moscou
"Temos que construir um novo exército, moderno, capaz de ser mobilizado a qualquer momento", escreveu Putin, considerando que o exército russo foi deixado de lado nos anos 1990 "no momento em que outros países aumentavam constantemente suas capacidades militares".
Tanque russo em atividade
"Temos que superar completamente este atraso. Retomar um status de líder em todas as tecnologias militares", destacou o primeiro-ministro, citando o terreno espacial, a guerra no "ciberespaço", assim como as armas do futuro com efeito "geofísico, por raios, ondas, genes, psicofísico".
Estação espacial russa
"A renovação do complexo militar industrial se converterá em uma locomotiva para o desenvolvimento dos mais diversos setores", disse Putin, quase certo de voltar no próximo dia 4 de março ao Kremlim, que precisou deixar em 2008 ao estar impossibilitado pela Constituição de conquistar um terceiro mandato.
"Pretende-se que o renascimento do complexo militar-industrial seja um jugo para a economia, um peso insuperável que em seu tempo teria arruinado a URSS. Porém, estou convencido de que isto é um profundo erro", escreveu o ex-agente do KGB (serviço de inteligência soviético), que, em 2005, classificou a desagregação da União Soviética como a "maior catástrofe geopolítica do século XX".
"A URSS morreu por ter esmagado as tendências do mercado na economia (...). Não temos que repetir os erros do passado", destacou Putin, considerando que os novos investimentos no campo militar desta vez devem ser o "motor da modernização de toda a economia".
Jato militar russo sobrevoando o espaço aéreo de Moscou
No entanto, esta perspectiva foi colocada em xeque pelos especialistas. Segundo Alexander Konovalov, presidente do Instituto de Análises Estratégicas de Moscou, "a ideia de que se pode realizar um salto à frente na economia graças ao complexo militar-industrial está superada desde os anos 1950".
Putin anunciou o "renascimento" da marinha russa, em particular no Extremo Oriente e no Grande Norte.
Navio de guerra russo
Retomou também a acusação recorrente na Rússia contra os Estados Unidos sem nomeá-los, segundo a qual "ocorrem" deliberadamente conflitos ou zonas de instabilidade perto de suas fronteiras e o direito internacional nas crise mundiais é cada vez menos respeitado.
Putin também anunciou a entrega em dez anos de 400 mísseis balísticos modernos, 8 submarinos estratégicos, 20 submarinos polivalentes, mais de 50 navios de superfície, cerca de cem veículos espaciais com função militar, mais de 600 aviões modernos, mais de 1.000 helicópteros, 28 baterias antiaéreas, dentre outros equipamentos bélicos.
Os salários dos militares foram "praticamente multiplicados por três" no dia 1 de janeiro, e o exército russo - 1 milhão de homens - se tornará profissional para ter apenas 145 mil recrutas em 2020, anunciou.
Exército russo em exibição em frente ao Kremlin
Há um ano, o governo russo já havia anunciado um amplo plano de modernização do exército por cerca de 500 bilhões de euros (cerca de 661 bilhões de dólares).
Assim como dissemos em artigo posterior sobre a tensão nuclear entre Israel e Irã (REVEJA), a Rússia parece querer resgatar um tempo de "glória" onde, durante algumas décadas, conseguiu rivalizar com os EUA em armamento bélico e nuclear durante a Guerra Fria.
O efeito produzido deste texto, assinado pelo "futuro-novo-velho" presidente da Rússia, Vladimir Putin, pode ser catastrófico, uma vez que os EUA, seu principal rival militar, encaminham-se a passos largos para a instalação de mais um "escudo anti-mísseis" na Europa sob o já surrado, porém sempre recorrente, argumento da "segurança nacional".
Com a crise econômica global cada vez mais sendo indigesta pela população dos países endividados do velho continente, que sofrem acentuadamente com a perda de direitos trabalhistas, achatamento dos salários e aumento inescrupuloso de impostos (veja os exemplos de Portugal, Espanha e, sintomaticamente, a Grécia), revoluções árabes, aumento da fome em boa parte dos cinco continentes, tensões sobre questões nucleares entre países historicamente "inimigos" (principalmente Israel e Irã e as duas coréias), o ano de 2012, apenas em seu segundo mês de existência, parece definitivamente se apresentar como um ano de profundas expectativas.
Hugo Freitas
Com informações da Agência internacional AFP
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Grato pela participação.