Foto: Reprodução/Internet
Reportagem da revista "Veja" desta semana
mostra que intrigas, ameaças, traições e corrupção podem colocar em risco a
reeleição da presidente Dilma Rousseff
A presidente Dilma Rousseff enfrenta um
momento inédito de fragilidade. Além de ter problemas na economia, como o
crescimento baixo, a inflação persistente e o desmantelamento do setor
elétrico, ela perdeu apoio popular e força para barrar, no Congresso,
iniciativas capazes de desgastá-la.
A aprovação ao governo caiu a um nível
que, segundo os especialistas, ameaça a reeleição. Partidos aliados suspenderam
as negociações para apoiá-la na corrida eleitoral. Já os oposicionistas
conseguiram na Justiça o direito de instalar uma CPI para investigar
exclusivamente a Petrobras.
Acuada, Dilma precisa mais do que nunca
da ajuda do PT, mas essa ajuda lhe é negada. Aproveitando-se da conjuntura
desfavorável à mandatária, poderosas alas petistas pregam a candidatura de Lula
ao Planalto e conspiram contra a presidente.
O objetivo é claro: retomar poderes e
orçamentos que foram retirados delas pela própria Dilma. A seis meses da
eleição, o PT está rachado entre lulistas e dilmistas – e, para os companheiros
mais pragmáticos, essa divisão, e não os rivais Aécio Neves (PSDB) e Eduardo
Campos (PSB), representa a maior ameaça ao projeto de poder do partido.
Com carreira política construída na
resistência à ditadura militar e posteriormente no PDT, Dilma Rousseff nunca
teve alma petista. Ao assumir a Presidência, ela herdou boa parte da cúpula do
governo Lula, como ministros, dirigentes de estatais e até a então chefe do
escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha.
O governo era de continuidade mesmo nos
nomes escalados para comandar o país. O plano de Dilma era dar uma feição
própria à sua gestão de forma gradativa, reduzindo a influência do antecessor
ao longo do tempo. Antonio Palocci, seu primeiro chefe da Casa Civil, ilustrou
a estratégia: “No primeiro ano de mandato, será um governo Lula-Dilma. No
segundo, um governo Dilma-Lula. No terceiro, será Dilma-Dilma”.
Esse cronograma, no entanto, foi
atropelado pelos fatos. Já em 2011 a presidente foi obrigada a demitir seis
ministros acusados de corrupção e tráfico de influência – quatro deles egressos
do governo anterior.
Dilma se mostrava intransigente com os
malfeitos, ao contrário de Lula, acostumado a defender políticos pilhados em
irregularidades. Com a chamada faxina ética, ela atingiu recordes de
popularidade e conseguiu força para tirar das mãos de notórios esquemas
partidários setores estratégicos da administração. Nem mesmo o PT foi poupado
nessa ofensiva.
O partido perdeu terreno em fundos de
pensão e na Petrobras, que teve sua diretoria reformulada em 2012. A faxina
ética era acompanhada da profissionalização da gestão.
Com essas mudanças, muitos petistas
estrelados, como o mensaleiro preso José Dirceu, perderam influência. Havia um
distanciamento crescente entre a presidente e a engrenagem partidária, mas Lula
mantinha o PT unido e silencioso.
Ele alegava que a “mídia conservadora”
– ao exaltar as demissões promovidas pela sucessora, com o intuito claro de
atacá-lo – ajudava Dilma a conquistar eleitores que historicamente tinham
aversão ao PT. Ou seja: a comparação entre os dois beneficiava o partido.
Se alguns petistas registravam
prejuízos em casos isolados, o conjunto estava sendo fortalecido. Esse discurso
manteve a “companheirada” sob controle até 2013, quando a popularidade da
presidente despencou devido à inflação e às manifestações populares de junho.
Petistas, então, passaram a criticar
Dilma, conspirar contra ela no Congresso e defender a candidatura de Lula. A
cizânia interna se desenhava, mas ainda era incipiente e restrita aos
bastidores. Esse dique foi rompido pelo escândalo da Petrobras.
Hoje, o PT testemunha uma batalha
pública e cruenta entre a soldadesca dos dois presidentes. Palocci não previu,
mas o último ano de mandato também tem seu epíteto: governo Dilma versus Lula.
De Veja Online
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