Entidades da sociedade civil maranhense lançaram, neste 1º de maio, uma nota pública convidando a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) para vir ao Maranhão conhecer o "estado pouco civilizado", onde "o que deveria ser política é máfia".
A "carta-convite" é fruto da polêmica entrevista concedida pelo jornalista
Emílio Azevedo, um dos coordenadores do jornal Vias
de Fato, ao site da Rede
Brasil Atual, realizada no calor da repercussão nacional do assassinato do jornalista Décio Sá, e que parece ter provocado uma suposta "hesitação" por parte de membros da renomada Federação.
Dentre as nove entidades maranhenses que assinam a
carta-convite, estão a Comissão Pastoral da
Terra (CPT-MA), a Cáritas
Brasileira Regional Maranhão, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI-MA), o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST-MA) e a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH).
Confira a polêmica carta-convite abaixo:
Neste dia 1º. de maio, uma data simbólica,
em que são prestadas homenagens a todos os trabalhadores e trabalhadoras do
mundo, nós queremos convidar uma comissão da Federação Nacional dos Jornalistas
(FENAJ), para que ela venha ao Maranhão. Informamos, inicialmente, que o grupo
do senador José Sarney (PMDB), o atual presidente do Senado Federal, dá claros
sinais de que quer desviar o assunto em relação à morte do jornalista Décio Sá,
que era funcionário das empresas de sua família.
Afirmamos isto, em cima de dois pontos
específicos, que nós queremos abordar francamente e eles nem tanto. O primeiro
é sobre quem matou o jornalista? E, principalmente, por que mandaram matar? A
opinião pública quer saber quem foram os pistoleiros, os mandantes e, também,
as suas reais motivações. E, logicamente, quer que seja feita Justiça!
Quanto ao segundo ponto, nós
maranhenses queremos discutir, denunciar e superar, a nossa terrível realidade
social e política, que possibilita, frequentemente, vários crimes parecidos
como este, por ação de pistoleiros. A diferença é que a repercussão é
infinitamente menor e as vítimas são quilombolas, sem terra, índios,
sindicalistas rurais, assentados, lavradores e demais pessoas da nossa grande
periferia, que vivem bem longe da dita “civilização”. Além destes crimes, existem
verdadeiros casos de genocídios, contra índios, quebradeiras de coco e
quilombolas.
Assim está a nossa terra! Então, num
estado marcado pela violência política, pelos piores indicadores sociais do
país, pelo trabalho escravo e pela grilagem de terras, é importante deixar
claro que, nos causa extrema repulsa, ouvir a hipocrisia das autoridades
locais, falando em “liberdade de imprensa” e de “democracia”. Aqui no Maranhão,
um herdeiro da ditadura pós-64, ainda exerce seu poder a partir de fraudes e golpes,
com um imenso e brutal monopólio dos meios de comunicação, em estreita aliança
com o latifúndio assassino e se beneficiando, contribuindo e garantindo a
inaceitável degeneração moral do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
Dessa forma, concordamos com as
recentes declarações do jornalista Emilio Azevedo (da coordenação do jornal Vias
de Fato) dadas a “Rede Brasil Atual” e reproduzida no
site da FENAJ. É verdade que, do ponto de vista político, no Maranhão “prevalece
à barbárie”. É também correta a afirmação de que, o recente assassinato do
jornalista do Sistema Mirante é um “reflexo do ambiente pouco civilizado da
nossa região”.
Porém, diante de uma aparente hesitação
da Federação em relação a este assunto e a estas opiniões, nós estamos fazendo
este convite público. Venham para o Maranhão! Venham conhecer este pedaço do
Brasil profundo! Lugar onde, infelizmente, ainda prevalece, em diversas
situações, a lei do quero, posso e mando. Onde muitas atrocidades acontecem,
sem a presença adequada do “estado democrático de direito“ e bem longe do
acompanhamento de uma mídia verdadeiramente decente. Em alguns casos, quando o
Estado se manifesta, é para emitir liminares de despejos, tão rápidas, quanto
suspeitas.
Um momento que seria muito oportuno
para a presença de uma comissão da FENAJ no Maranhão, seria o próximo dia 10 de
maio, quando haverá uma audiência de instrução referente ao processo pelo
assassinato do quilombola Flaviano Pinto Neto, executado barbaramente com sete
tiros na cabeça, no dia 30 de outubro de 2010, por conta de sua luta pela
terra. Mais uma vítima da pistolagem.
Venham! Vindo aqui, verão que não nos
envergonha, nem um pouco, que falem das nossas misérias. Nossa indignação é
contra aqueles que promovem esta situação lastimável. São eles que se incomodam
com a verdade! Eles, os verdadeiros responsáveis por nossos problemas
estruturais!
Esperamos também que, em nome de uma
verdadeira liberdade de expressão e de um debate realmente democrático, esta
nossa manifestação pública seja acolhida, também, nos canais de comunicação
ligados a esta Federação.
São
Luís, 1º. de maio de 2012
Pastoral
da Comunicação do Maranhão
Comissão
Pastoral da Terra (CPT-MA)
Sociedade
Maranhense de Direitos Humanos (SMDH)
Cáritas
Brasileira Regional Maranhão
Conselho
Indigenista Missionário (CIMI-MA).
Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST-MA)
Movimentos
dos Quilombolas da Baixada Ocidental Maranhense (MOQUIBOM)
Irmãs
de Notre Dame de Namur em São Luís (MA).
Comitê
Padre Josimo
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