segunda-feira, 14 de maio de 2012

MARANHÃO: A POLÍTICA COMO ESPETÁCULO


"Maranhão, meu tesouro, meu torrão, escrevi estas palavras prá ti, Maranhão". A terra da mentira, "onde até o Sol mente", já afirmava Padre Antônio Vieira, vem se consolidando na esfera da política como terra de sedução propagandística e fetichismo midiático.

O Maranhão, estado com um dos maiores índices de analfabetismo, segundo confirmaram os dados divulgados pelo IBGE sobre o censo de 2010, cuja capital padece dos serviços básicos mais prementes, como abastecimento de água, onde carros-pipa são utilizados para suprir as ferrugens de um Sistema "Eitaluís", que vira e mexe se rompe, prova material do descaso dos gestores públicos com a população, agora vive às voltas com o ressoar da divulgação de obras faraônicas, aquelas mesmas (e velhas) promessas que tomam a pauta dos veículos "jornalísticos" ajoelhados ao poder político e econômico em anos de eleição.

Isso mesmo, atencioso leitor. A prefeitura de São Luís anunciou, às vésperas das eleições municipais, que iniciará construções grandiosas na capital maranhense. Dentre os absurdos veiculados com ares de messianismo fajuto, está prevista a construção de um metrô em São Luís, que vem para "solucionar definitivamente" o problema do transporte público na capital.

Elementar, meu caro leitor, que se trata novamente de campanha eleitoral antecipada e disfarçada de "projetos para a sociedade", tudo para mascarar os reais interesses de reeleição do atual chefe do Executivo Municipal. Parecem não querer levar em conta as inúmeras greves ocorridas na cidade por causa das péssimas condições do transporte coletivo e da malha viária urbana, tudo isso com a anuência dos contribuintes que pagam uma das passagens mais caras do país para desfrutar de ônibus sucateados e sem o mínimo de segurança. Em vez de promover melhorias estruturais no sistema de transporte coletivo, a gestão municipal prefere lançar mão daquilo que lhe é mais certeiro: a propaganda espetacularizada, preocupada apenas em ludibriar a sociedade e abrandar os ânimos daqueles mais descontentes.

O curioso disso é que a velha tática dos oligarcas do Maranhão, tão criticada por seus opositores, é amplamente usufruída por estes. No mesmo embalo das promessas eleitoreiras de obras faraônicas do governo do Estado para São Luís, presente por seus 400 anos, como a "Ponte Quarto Centenário", que já virou avenida, e a "Via Shop-Shop", que liga os principais shoppings da capital, a prefeitura anuncia a ampliação de avenidas litorâneas e a construção de um metrô, faltando apenas poucos meses para as eleições de outubro e o fim do mandato da atual gestão municipal (2008-2012).

Será possível ainda uma população que mal consegue água para beber, que coloca seus filhos em escolas municipais cujas aulas começam no meio do ano, quando a maioria das outras está se preparando para as férias de julho, que não consegue atendimento digno nos hospitais, quer seja por superlotação quer por falta de médicos e/ou materiais e equipamentos, que não possui transporte digno, e que morre a esmo nas mãos de pistoleiros, ainda assim seria possível uma população creditar algum tipo de confiança aos mesmos caciques políticos que continuam se perpetuando no poder em busca de mais riquezas e consecução de projetos pessoais?

A resposta é a seguinte: somente com a propaganda, com a força de promessas que dificilmente serão cumpridas, pois quanto maior seu absurdo, maior será o impacto naqueles mais de 80% de analfabetos, despolitizados por sua falta de educação e desmemoriados pelas situações emergenciais de uma realidade vivenciada com extrema dificuldade.

E assim caminha a política no Maranhão, com promessas eleitoreiras  recorrentemente megalomaníacas em anos de eleição, ancoradas na subnutrição intelectual de seu povo e na espetacularização subserviente promovida pelos veículos de comunicação, verdadeiras extensões dos tentáculos do poder.

Hugo Freitas

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