"Maranhão, meu tesouro, meu torrão, escrevi estas palavras prá ti, Maranhão". A terra da mentira, "onde até o Sol
mente", já afirmava Padre Antônio Vieira, vem se consolidando na esfera da
política como terra de sedução propagandística e fetichismo midiático.
O Maranhão, estado com um dos maiores índices de analfabetismo,
segundo confirmaram os dados divulgados pelo IBGE sobre o censo de 2010, cuja
capital padece dos serviços básicos mais prementes, como abastecimento de água,
onde carros-pipa são utilizados para suprir as ferrugens de um Sistema
"Eitaluís", que vira e mexe se rompe, prova material do descaso dos
gestores públicos com a população, agora vive às voltas com o ressoar da
divulgação de obras faraônicas, aquelas mesmas (e velhas) promessas que tomam a
pauta dos veículos "jornalísticos" ajoelhados ao poder político e
econômico em anos de eleição.
Isso mesmo, atencioso leitor. A prefeitura de São Luís anunciou,
às vésperas das eleições municipais, que iniciará construções grandiosas na
capital maranhense. Dentre os absurdos veiculados com ares de messianismo
fajuto, está prevista a construção de um metrô em São Luís, que vem para
"solucionar definitivamente" o problema do transporte público na capital.
Elementar, meu caro leitor, que se trata novamente de campanha eleitoral
antecipada e disfarçada de "projetos para a sociedade", tudo para
mascarar os reais interesses de reeleição do atual chefe do Executivo
Municipal. Parecem não querer levar em conta as inúmeras greves ocorridas na
cidade por causa das péssimas condições do transporte coletivo e da malha
viária urbana, tudo isso com a anuência dos contribuintes que pagam uma das
passagens mais caras do país para desfrutar de ônibus sucateados e sem o mínimo
de segurança. Em vez de promover melhorias estruturais no sistema de transporte
coletivo, a gestão municipal prefere lançar mão daquilo que lhe é mais
certeiro: a propaganda espetacularizada, preocupada apenas em ludibriar a sociedade e abrandar os ânimos daqueles mais descontentes.
O curioso disso é que a velha tática dos oligarcas do
Maranhão, tão criticada por seus opositores, é amplamente usufruída por
estes. No mesmo embalo das promessas eleitoreiras de obras faraônicas do governo
do Estado para São Luís, presente por seus 400 anos, como a "Ponte Quarto
Centenário", que já virou avenida, e a "Via Shop-Shop", que liga
os principais shoppings da capital, a prefeitura anuncia a ampliação de
avenidas litorâneas e a construção de um metrô, faltando apenas poucos meses
para as eleições de outubro e o fim do mandato da atual gestão municipal (2008-2012).
Será possível ainda uma população que mal consegue água para beber,
que coloca seus filhos em escolas municipais cujas aulas começam no meio do
ano, quando a maioria das outras está se preparando para as férias de julho,
que não consegue atendimento digno nos hospitais, quer seja por superlotação
quer por falta de médicos e/ou materiais e equipamentos, que não possui
transporte digno, e que morre a esmo nas mãos de pistoleiros, ainda assim
seria possível uma população creditar algum tipo de confiança aos mesmos
caciques políticos que continuam se perpetuando no poder em busca de mais
riquezas e consecução de projetos pessoais?
A resposta é a seguinte: somente com a propaganda, com a força de
promessas que dificilmente serão cumpridas, pois quanto maior seu absurdo,
maior será o impacto naqueles mais de 80% de analfabetos, despolitizados por sua falta de educação e desmemoriados pelas situações emergenciais de uma realidade vivenciada com extrema dificuldade.
E assim caminha a política no Maranhão, com promessas eleitoreiras recorrentemente megalomaníacas em anos de eleição, ancoradas na subnutrição intelectual de seu povo e na espetacularização subserviente promovida pelos veículos de comunicação, verdadeiras extensões dos tentáculos
do poder.
Hugo Freitas
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