Pacto e debate público
Por José Reinaldo Tavares*
Há muito tempo não se via no Maranhão
uma ideia despertar tanta atenção da sociedade, e isso se deu em todo o estado.
Porém, muitos dos autoproclamados “formadores de opinião” simplesmente
procuraram evitar o debate, preferindo a tática da desqualificação, ora do
autor da ideia, ora da própria ideia. Passaram até a me agredir e a tentar me
desqualificar pessoalmente.
No entanto, o mais curioso é que nenhum
desses me convenceu de que estou errado. Sabem por quê? Porque ninguém debateu
a ideia; todos se limitaram a bater em Sarney, entendendo que aquilo teria
causas ocultas e que eu estaria na verdade reabilitando o ex-senador, que, a
partir daí, passaria a dividir o governo com Flavio Dino. Meu Deus, que
paranoia, pobreza de pensamento e medo do debate verdadeiro!
De fato, essa é uma questão
preocupante, pois estamos nos acostumando apenas ao linchamento moral das pessoas
de quem não gostamos. Não é à toa que estão ocorrendo tantos casos de
linchamento reais de pseudocriminosos. Parece-me mais um perigoso
fundamentalismo.
Por que não perguntar à população o que
pensa? Bastam duas perguntas: “você ouviu falar da proposta do pacto”? “Você
acha que os políticos do Maranhão – de todos os grupos políticos – deveriam se
unir para defender projetos importantes para o desenvolvimento do Maranhão”?
É provável que tenham uma surpresa…
Estive na Rádio São Luís, no programa do Rogério Silva, por cerca de uma hora e
meia com microfone aberto a perguntas, e a grande maioria dos comentários, na
verdade, foi de apoio à proposta. Deveríamos fazer uma pesquisa.
Será que estou pondo Flávio Dino em
risco? Flávio terá sempre o meu apoio, ele está fazendo um ótimo governo e
sairá facilmente vitorioso sobre qualquer um se for para a reeleição. Não
acredito que ainda teremos um membro da família Sarney concorrendo ao governo.
Agora me respondam: quem (para valer!)
enfrentou Sarney mais do que eu? Enfrentei-o quando ele estava no auge do
poder. Quem apanhou mais do que eu, que até preso fui? Quem se sacrificou pela
vitória de Jackson Lago a ponto de deixar o sonho de ir para o Senado a fim de
me manter no governo até o último dia? Esqueceram-se disso? Jackson venceria o
pleito sem mim? Tenho certeza de que não, e me refiro ao seguinte: Jackson
queria ser candidato único do governo. Ele contra Roseana. Eu de pronto
recusei, porque seria derrota certa. Ele ficou furioso, deixou de falar comigo
por mais de um mês, fez sua esposa pedir exoneração do cargo de Secretária da
Solidariedade e por aí foi. Alguns amigos que tentaram convencê-lo de que eu
estava certo chegaram a ouvir dele: “vocês não estão entendendo, Zé Reinaldo é
um agente do Sarney infiltrado na oposição para acabar conosco”.
Realmente não me importei. Jackson era
um homem de bem, mas que estava muito estressado na ocasião. Tanto que antes
ainda do primeiro turno ele me procurou para dizer que eu estava certo e pedir
desculpas pelo que disse. Gesto de um grande homem. Ney Bello assistiu a essa
conversa.
Poucas pessoas se expuseram tanto à ira
de Sarney, como eu e Lourival Bogéa. Sofremos muito – e na pele – por isso. E
ele (que, mais do que ninguém, poderia ter uma outra atitude) fez, agora, um
editorial excelente, chamando a atenção dos críticos para o cerne da questão e
defendendo a discussão da ideia.
Não falei com o governador sobre o
pacto. Não queria envolvê-lo em nada prematuramente. A responsabilidade é só
minha. No entanto, logo que assumiu o mandato, ele fez um discurso a uma
plateia de prefeitos em que foi muito elogiado ao dizer que trataria todos do
mesmo jeito, não importando se votaram nele ou não, se eram ou não do grupo
Sarney, que o compromisso dele era com o Maranhão e ali todos representavam o
povo maranhense.
Pois bem, o ataque desqualificador que
mais se repete por aí é o de que Sarney mandou durante cinquenta anos e nada
fez pelo Maranhão. Por que faria agora? À primeira vista parece correta a
pergunta, mas não é, pois não é essa a questão. Não vou, meus caros, aderir à
pauta do Sarney! É o contrário: o chamado é para que ele adira à nossa, à do
governador, à do Maranhão. Há mais de dez anos não falo nem vejo Sarney. Não
sei o que pensa nem se está disposto.
Ademais, eu tenho direito e a obrigação
de externar o que penso e o que sinto; mormente, a partir de minhas impressões
e presença constante, diária, na Câmara Federal, que é uma Casa, sobretudo,
política. O horizonte que se prenuncia é um horizonte de mudança profunda no
país e é muito provável que outros grupos assumam a Presidência e o poder. Se
Lula cair – e tudo leva a crer que isso pode acontecer -, Dilma cairá junto.
Nesse cenário, é muito provável que Michel Temer, o atual vice-presidente,
assuma a Presidência da República sob grande crise política.
Flávio continuará a fazer um ótimo
governo, mas o nosso atraso é tão grande, que precisaremos muito eleger alguns
projetos estruturantes, projetos de interesse de estado, acima de governos, o
que só faremos com a ajuda de todos, para termos, consequentemente, o apoio de
todos. Temos que discutir que projetos serão esses, e isso terá que vir por
meio de um amplo entendimento.
A Folha de São Paulo de domingo
escreveu, em editorial, que “a crise política começa a impor a necessidade de
alguma forma de consenso que coloque os interesses nacionais em primeiro
lugar”. E então? Será que atitudes como essa só serão boas para o Brasil, mas
não se aplicam ao Maranhão?
Por fim, exporei aqui, mais uma vez,
qual seriam os meus projetos para o Pacto: primeiro, seria implantar o
Instituto Tecnológico do Nordeste em Alcântara; ou seja, trazer a melhor escola
de engenharia do Brasil para cá. Ela permitiu a vitoriosa indústria aeronáutica
brasileira e a difusão tecnologia de ponta no sudeste.
O segundo seria o “Super” Porto do
Itaqui, para ser o parceiro concentrador de carga do Brasil para o Canal do
Panamá. Isso exigirá muito investimento, e se não o conseguirmos, vamos perder
o lugar para o Porto de Pecém, no Ceará.
O terceiro escolhido por mim seria o
transporte de massa de São Luís e da região metropolitana, a ser feito com VLT
e trens, com terminais modernos e tudo integrado para dar rapidez e conforto ao
passageiro. Hoje temos um dos piores sistemas do país.
Em quarto seria a implantação de um
moderno sistema de logística em todo o estado, capaz de racionalizar o
transporte de cargas e passageiros em todo o nosso território.
E em quinto seria um centro de alto
nível para a formação de professores para o ensino fundamental e básico, única
forma capaz de dar qualidade ao ensino público no nosso estado.
É evidente que em um Pacto as
prioridades poderiam ser outras. Mas que fossem todas muito importantes e
discutidas à exaustão.
Alguém poderia ser contra? Impossível.
Há algum cargo público envolvido? Não.
Esse é o pacto que propus. Vamos deixar
de picuinhas sem sentido.
*Ex-governador do Maranhão e deputado federal eleito pelo PSB-MA