Por Hugo Freitas
Há 33 anos, o Movimento Estudantil no Maranhão enfrentava a ditadura militar e a repressão empreendida pelo Governo de João Castelo na luta pela Meia-Passagem.
O evento entrou para a história do Maranhão como a "Greve da Meia-Passagem", tendo como partícipes estudantes (secundaristas e universitários), professores, sacerdotes da Igreja Católica e a sociedade em geral, que cruzaram os braços reivindicando melhorias sociais.
A revolta do dia 17 de setembro de 1979 teve como estopim o aumento no preço das passagens efetuado pela Prefeitura de São Luís, à época sob a gestão de Mauro Fecury, com a anuência do Governo Castelo, que pegou a todos de surpresa, causando um descontentamento geral.
Em termos práticos, a "Greve da Meia-Passagem" significou mais que uma revolta contra o aumento das tarifas dos coletivos, representou toda a insatisfação da sociedade civil maranhense contra o governo dos militares, simbolizado nas figuras de Castelo e Fecury.
A adesão de mais de 35 mil pessoas ao movimento representou um grito contra a censura, contra as prisões arbitrárias, contra a morte nas favelas e no campo, contra a grilagem de terras, contra a corrupção financeira e eleitoral, que enriqueceu e fortaleceu as velhas oligarquias locais, contra a falta de moradia, de emprego e de comida na mesa dos trabalhadores rurais e citadinos.
Tão forte quanto a mobilização de milhares de ludovicenses, foi a repressão empreendida pelo Governador João Castelo e pelo Prefeito Mauro Fecury, os tentáculos do regime militar no Maranhão. Para eles, era inadmissível a contestação pública e o pensamento crítico-reflexivo, taxado à época como "coisas de comunistas". Só era permitida a "obediência servil".
Em resposta, a população revoltada de São Luís promoveu um intenso quebra-quebra de ônibus e depredação de prédios públicos. Consta nos anais históricos da Greve que uma pichação nos muros da UFMA dizia a seguinte frase: "Meia-Passagem ou Meia-Cidade".
Passados 33 anos, os estudantes maranhense ainda têm de conviver, cotidianamente, com as altas tarifas e a precariedade dos ônibus. Contudo, certos e convictos de que a luta, ao custo de muito sangue, rendeu frutos: A CONQUISTA DA MEIA-PASSAGEM.
Baseado nesse espírito de luta e de conquista, o Movimento Estudantil de São Luís e do Maranhão divulgou uma "Carta Aberta à Comunidade Acadêmica e à Sociedade Maranhense", refletindo sobre a importância da conscientização do papel político de cada estudante e de cada cidadão para a construção de uma sociedade mais justa e verdadeiramente democrática.
Ao passo em que convida a todos para participarem do Ato em Memória da Revolta da Meia-Passagem, que será realizado nesta quarta-feira (19), a partir das 15h, em frente à Biblioteca Benedito Leite, na Praça Deodoro. (ver figura acima).
Acompanhe, abaixo, a íntegra da Carta divulgada pelo Movimento Estudantil maranhense:
CARTA ABERTA À COMUNIDADE ACADÊMICA E À SOCIEDADE MARANHENSE
Marcas de uma Revolta: “Quem pode se omitir” Ilha Rebelde?
Liberdade! Intervenção!
“A meia passagem é uma das formas de luta que devemos encampar, pois já não se trata de uma bandeira levantada por capricho puro e simples dos estudantes, porém, uma luta popular, tendo em vista que os pais de família, ganhando um salário de fome, terão de arcar, ainda mais essa vez, com os aumentos crescentes do preço da gasolina, através do aumento dos preços das passagens. Agora, companheiros, é o momento de nos inserirmos na luta que poderá levar-nos a uma conquista com a mobilização, discussão e ação de todos os estudantes e do povo em geral.” Panfleto “Quem pode se omitir?”
O Movimento Estudantil de São Luís e do Maranhão comemora hoje, 17 de Setembro de 2012, 33 anos de luta e conquista pela meia passagem. A chamada Greve de 79 é um grande momento de mobilização estudantil da História Maranhense, para alguns pesquisadores esse foi, possivelmente, o primeiro levante popular contra a ditadura e talvez uma das maiores revoltas populares já registradas em nosso Estado, sendo liderado por muitos jovens idealistas e apaixonados pela liberdade.
A greve teve como lideranças estudantes da Universidade Federal do Maranhão (na época, Fundação Universidade do Maranhão), e após grande mobilização se unem à causa estudantes secundaristas, estudantes da Federação das Escolas Superiores – FESM (atual Universidade Estadual do Maranhão), professores, trabalhadores e a sociedade em geral.
As marcas da greve da meia passagem ficaram gravadas de inúmeras maneiras. Não apenas marcas da violência física sofrida pelos nossos companheiros de lutas, promovidas pelos dirigentes que preferiram reprimir a dialogar, mas também marca de vitórias, marca de conquista de um sonho, conquista por direitos.
Aquela geração participou da revolta da meia passagem, no centro de São Luis. Aquela geração ajudou a derrubar a ditadura militar. Não adiantará tentar esconder, maquiar ou apagar a repressão ocorrida, a memória denunciará sempre o sofrimento dos que apanharam e sofreram perseguição implacável. Já dizia o ditado popular “quem apanha jamais esquece”. Temos que lembrar dessa história com orgulho.
A greve de 79 mudou o pensamento político do Maranhão. Assim como aquela geração ainda lutamos a favor dos concursos públicos, contra a fraude eleitoral, contra os desvios de recursos, pela melhoria de ensino nas escolas municipais, estaduais e federais. Essa geração se compromete em manter acesa a chama da liberdade, lutando diariamente na construção de uma sociedade justa e democrática.
Assinam:
Diretório Central dos Estudantes UFMA – “17 de Setembro”
Diretório Central dos Estudantes IFMA
Diretório Central dos Estudantes UEMA
Grêmio do Colégio Universitário UFMA – COLUN
União Nacional dos Estudantes - UNE
União Brasileira de Estudantes Secundaristas – UBES
Estudantes de Computação – UFMA
Centro Acadêmico de Desenho Industrial – UFMA
Estudantes de Engenharia Elétrica – UFMA
Centro Acadêmico de Engenharia Química – UFMA
Diretório Acadêmico de Física – UFMA
Estudantes de Matemática – UFMA
Centro Acadêmico de Química Industrial – UFMA
Centro Acadêmico de Química Licenciatura e Bacharelado – UFMA
Centro Acadêmico de Artes Visuais – UFMA
Centro Acadêmico de Geografia – UFMA
Estudantes de Ciências Sociais – UFMA
Diretório Acadêmico de Letras – UFMA
Centro Acadêmico de Música – UFMA
Centro Acadêmico de Psicologia – UFMA
Estudantes de Teatro – UFMA
Estudantes de Administração – UFMA
Estudantes de Biblioteconomia – UFMA
Centro Acadêmico de Ciências Contábeis – UFMA
Centro Acadêmico de Ciências Econômicas – UFMA
Estudantes de Direito - UFMA
Diretório Acadêmico de Comunicação Social – UFMA
Estudantes de Pedagogia - UFMA Centro Acadêmico de Hotelaria – UFMA
Centro Acadêmico de Turismo – UFMA
Centro Acadêmico de Medicina – UFMA
Estudantes de Odontologia – UFMA
Centro Acadêmico de Educação Física – UFMA Estudantes de Biologia – UFMA
Estudantes de Oceanografia – UFMA
Centro Acadêmico de Ciências Humanas – UFMA Campus Pinheiro
Centro Acadêmico de Ciências Naturais – UFMA Campus Pinheiro
Centro Acadêmico de Agronomia – UFMA Campus Chapadinha
Diretório Acadêmico de Ciências Humanas – UFMA Campus Codó
Centro Acadêmico de Linguagens e Códigos – UFMA Campus São Bernardo
Estudantes de Ciências Humanas – UFMA Campus Bacabal
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Grato pela participação.