Caríssim@ leit@r,
trago para vossa apreciação um interessante texto que sugere um tipo de
abordagem jornalística sobre o ex-"Paladino da Ética", o queridinho
da revista Veja e agora ex-senador Demóstenes Torres, acusado de ter se
utilizado do mandato para beneficiar o esquema de corrupção e lavagem de
dinheiro de Carlinhos Cachoeira, o que culminou em sua queda do Senado e o seu retorno ao cargo de Procurador de Justiça do Estado de Goiás. Boa leitura!
Um tributo a Gay
Talese
Por Joca Oeiras*
Não estou entre
aqueles que acreditam que Policarpo Junior (e a alta direção da Editora
Abril/revista Veja) desconheciam as relações, mais do que promíscuas, entre
Carlinhos Cachoeira e Demóstenes Torres, mas acho que os senadores, de maneira
geral, levavam a sério a máscara do tal “mosqueteiro da ética”. Não foi à toa
que 44 de seus pares – logo no início do vazamento das denúncias contra ele –
pediram apartes para testemunhar a confiança que tinham naquela reserva moral
da nação.
Também tenho certeza
de que, tivesse sido outro o seu destino, Demóstenes teria sido um excelente
ator de teatro. Mais convencido ainda de que o inferno astral do ex-senador,
hoje procurador de Justiça do estado de Goiás – mesmo com seu salário de 24 mil
reais (maior que a pensão alimentícia da ex-mulher do Collor), dois assessores
e uma sala com seu nome na porta – está apenas começando. Convencido, sim,
embora admita a hipótese de estar redondamente enganado.
Para mim, a bem
ajustada – para não dizer colada – máscara durante anos utilizada pelo cidadão
Demóstenes Torres, máscara esta que lhe permitiu veleidades de pretender, como
seu amigo Gilmar Mendes, uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal ou
até mesmo concorrer e tornar-se, como Collor conseguiu, presidente da República
(teria, como Collor teve, o apoio da Veja e da Rede Globo) – ao cair, ou
melhor, ao ser abruptamente despregada de seu rosto pelas consequências da
Operação Monte Carlo, mais que a reputação, levou com ela uma parte de sua
alma.
Imagem destroçada
Se eu pudesse, se o
meu dinheiro desse e se o ex-senador consentisse, gostaria de fazer o que eu
reputo a reportagem da minha vida. À la Gay Talese [Gay Talese esteve,
recentemente, no Brasil e é um dos criadores do movimento que foi batizado de
Novo Jornalismo, criado na década de 60, que incorporava no jornalismo
características de literatura], faria de tudo para seguir bem de perto, durante
o tempo que julgasse necessário – meses, ou até anos– as pegadas do hoje
procurador de Justiça do estado de Goiás. Como Talese, que se aproximou de Bill
Bonano, filho de um capo di famiglia não para julgá-lo, mas para melhor
reportá-lo, para entender o que estava ocorrendo com ele, eu faria coisa
semelhante com o decaído ex-senador, não para chutar um cachorro morto, mas
para entender melhor a pessoa que atende pelo nome de Demóstenes Torres.
Aqui alguns poderão
questionar se não se trata apenas de um sadismo de minha parte, esta
curiosidade jornalística. Confesso que esta ideia me passou pela cabeça, mas
devo afirmar que não se trata disso: ela se explica por querer saber como reage
uma pessoa, um ser humano instruído e civilizado, como, sem dúvida, é o caso,
quando vê destroçada a sua imagem pública laboriosamente construída, embora
falsa. Será que Demóstenes Torres ao olhar no espelho hoje se enxerga a mesma
pessoa que via antes da queda?
_______
*Joca Oeiras é
jornalista
Texto publicado no site Observatório da Imprensa, no dia 24 de julho de 2012.
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