terça-feira, 13 de março de 2012

DIA HISTÓRICO: O FIM DA "ERA RICARDO TEIXEIRA" NO COMANDO DA CBF

Ricardo Teixeira renunciou ao comando da CBF após 23 anos no cargo

Ricardo Teixeira renunciou ao cargo de presidente da CBF nesta segunda-feira (12). O cartola também deixou a presidência do COL (Comitê Organizador Local), da Copa do Mundo de 2014.

Em seu lugar, assumiu José Maria Marin, vice-presidente da entidade e que, recentemente, ganhou notoriedade ao roubar uma medalha após a final da Copa São Paulo de Futebol Júnior.

Para chegar ao ponto de pedir demissão, Ricardo Teixeira viu seu mundo desmoronar. Se antes dizia que tirou de letra a CPI do futebol, instaurada em 2000 e finalizada, sem dar em nada, em 2001, agora o peso das denúncias o abalaram.

Perdeu aliados no governo federal – incluindo a presidente Dilma Rousseff – e, na Fifa, não tem mais em Joseph Blatter, mandatário da entidade, a figura de um aliado.

Em junho do ano passado, a Rede Record exibiu uma série de reportagens sobre o cartola brasileiro. Um mês antes, Teixeira já estava em maus lençóis com o documentário da BBC de Londres, que o acusava de ter recebido propina na Suíça, onde começou a ser conhecido ironicamente de "Mr. Teixeira", em alusão à expressão do repórter do documentário que o chamava repetidas vezes quanto tentava abordá-lo para uma entrevista, porém êxito.

Foi apenas a primeira denúncia. Em Brasília, deputados começaram a se movimentar para cobrar explicações sobre a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. O enriquecimento do mandatário desde que assumiu a direção da CBF chamou a atenção.

A procuradoria do Rio de Janeiro abriu inquérito para apurar as denúncias de corrupção contra Ricardo Teixeira. O MPF (Ministério Público Federal) de São Paulo também pediu a abertura de mais uma investigação contra o presidente da CBF. O procurador da República Marcelo Freire quis que a PF (Polícia Federal) apurasse se houve golpes "de autoria da quadrilha integrada por Teixeira, em desfavor do patrimônio da CBF".

Confira, a seguir, a íntegra da carta de renúncia de “Mr. Teixeira”:

“Ser presidente da CBF durante todos esses anos representou na minha vida uma experiência mágica. O futebol, no Brasil, é mais que esporte, mais que competição. É a paixão que envolve, é o sofrimento que alegra, é a fidelidade que unifica.

Por essas razões, pensei muito na decisão que ora comunico e pensei muito no que dizer sobre minha decisão.

Presidir paixões não é tarefa fácil. Futebol em nosso país é sempre automaticamente associado a duas imagens: talento e desorganização. Quando ganhamos, despertou o talento. Quando perdemos, imperou a desorganização.

Fiz, nestes anos, o que estava ao meu alcance, sacrificando a saúde, renunciando ao insubstituível convívio familiar. Fui criticado nas derrotas e subvalorizado nas vitórias. Mas isso é muito pouco, pois tive a honra de administrar não somente a Confederação de Futebol mais vencedora do mundo, mas também o que o ser humano tem de mais humano: seus sonhos, seu orgulho, seu sentimento de pertencer a uma grande torcida, que se confunde com o país.

Ao trazer a Copa de 2014, o Brasil conquistou o privilégio de sediar o maior e mais assistido evento do mundo, se inseriu na pauta mundial, alavancou mais a economia e aumentou o orgulho de todo o povo brasileiro.

Tentei, no limite das minhas forças, organizar os talentos. Nas minhas gestões, criamos os campeonatos de pontos corridos e a Copa do Brasil, aumentamos substancialmente as rendas do futebol brasileiro, desenvolvemos o marketing e, principalmente, vencemos.

Hoje, deixo definitivamente a presidência da CBF com a sensação do dever cumprido. Não há sequência de ataques injustos que se rivalizem à felicidade de ver, no rosto dos brasileiros, a alegria da conquista de mais de 100 títulos, entre os quais duas Copas do Mundo, cinco Copas América e três Copas das Confederações. Nada maculará o que foi construído com sacrifício, renúncia e dor.

A mesma paixão que empolga, consome. A injustiça generalizada, machuca. O espírito é forte, mas o corpo paga a conta. Me exige agora cuidar da saúde.

Em obediência ao estatuto da CBF, mais precisamente ao disposto em seu artigo 37, você, meu vice-presidente e ex-governador de São Paulo, José Maria Marin, passa a presidir a CBF. A você, desejo sorte, para que o talento se revele na hora certa; discernimento, para que o futebol brasileiro siga cada vez mais organizado e respeitado; e força, para enfrentar as dificuldades que certamente virão.

Deixo a CBF, mas não deixo a paixão pelo futebol. Até por isso, a partir de hoje e sempre que necessário, coloco-me à disposição da entidade. Reúno-me com mais força à minha família, que entendeu minha missão, apoiou-me sempre e me faz ainda mais feliz.

Agradeço de maneira especial aos presidentes de clubes e das federações estaduais, aos dirigentes e colaboradores da CBF, amigos leais em quem sempre encontrei apoio incondicional para o desempenho de meu trabalho.

À torcida brasileira, meu muito obrigado. Nunca me esquecerei das taças sendo erguidas. Elas estão no coração de cada um de nós. Elas são um pedaço do Brasil.”

Ricardo Terra Teixeira


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