sábado, 3 de março de 2012

OS ABUTRES DO POVO NA CASA DOS NOBRES


É inacreditável os mimos recebidos pelos ditos "representantes do povo" num Estado como o Maranhão, cuja população de maioria miserável ou abaixo da linha de pobreza padece dos princípios básicos de Saúde, Alimentação, Educação, Saneamento e Moradia.

Segundo reportagem da Folha de São Paulo (VEJA AQUI), além dos 12 subsídios mensais e do 13º, os deputados maranhenses dispõem de “ajuda de custo”, concedida no início e no fim de cada ano, que equivale a cinco vezes o valor do salário, de R$ 20 mil, o que no cômputo geral ultrapassa a cifra dos 360 mil reais por cada parlamentar, ao ano.

Mais inacreditável ainda é a vergonhosa justificativa que apresentam para não "contestarem" suas próprias regalias. Segundo a reportagem, os deputados maranhenses consultados, que confirmaram o recebimento das vantagens, disseram o seguinte: “Quando entrei na Assembleia, em 1995, essas verbas já existiam e não cabia a mim contestá-las”, disse Carlos Alberto Milhomem (PSD). “É uma resolução da Casa que tem presunção de legalidade”, afirmou Rubens Pereira Junior (PCdoB).

Dizer que "as verbas já existiam e não cabia a mim contestá-las" ou que "é uma resolução da Casa com presunção de legalidade" é acreditar na burrice cega e surda daqueles que ainda leem jornais neste (e deste) país.

Como parlamentares, os ditos "representantes do povo do Maranhão" deveriam saber minimamente qual a sua função na Assembleia "Legislativa". É nessa dita "Casa do Povo" que se elaboram, apresentam e se votam as leis que regem o Estado, inclusive aquelas que regem a própria "Casa dos Nobres", para ser mais exato.

Se um parlamentar diz "não caber a ele contestar" uma lei já existente antes de seu mandato implica dizer, no mínimo, que ele atesta a sua conivência com o status quo vigente, o qual não intenta mudar nem tampouco contestar.

Pior, assume inadvertidamente que é uma "resolução com presunção de legalidade". Em outras palavras, se vale do cânon da lei para afirmar que o fato de receber as benesses não é nada tão grave assim, pois não há "crime", nem contravenção, nem imoralidade, nada de errado nisso. Em suma, se esconde, se omite, se esquiva de sua função de rever leis para delas se beneficiar também.

Afinal, prezado leitor, como criticar algo do qual se é beneficiário??? Por que contestar as regalias que os alimentam??? Talvez, os mais moderados diriam não haver necessidade de se questionar isso, pois existem "coisas mais sérias" para serem discutidas. Ou os mais sinceros diriam que "deputado trabalha muito e precisa ser bem remunerado", ter todas as suas despesas pagas (inclusive seus ternos e paletós), que não dá para serem sanadas apenas com o recebimento de um super salário, algo em torno de míseros e minguados 26 mil reais.

Mais importante do que "discursar" contra grupos estabelecidos há mais tempo no poder, seria mostrar ao povo eleitor que aqueles que entram no cenário político investidos da fé e da esperança popular de renovação no Maranhão são "exemplos" a serem seguidos, e não meros reprodutores de uma omissão subserviente e consentida.

A verdade, fiel leitor, é que quando se trata de mexer nos próprios bolsos, é válido mesmo ser conivente com a ordem legal vigente; é válido compactuar com os mesmos abutres seculares que sugam as riquezas do povo escancaradamente para satisfazer seus deleites e rir da cara dos pobres, espoliados, humilhados, dos que morrem de fome ou nas filas dos hospitais super lotados, sem médicos nem equipamentos, dos que sofrem espremidos nos ônibus, dos que vagueiam pelas ruas em busca de emprego, de abrigo, dos sem educação, sem auxílio, sem nada.

A mudança do mundo começa na mudança da mente. Mas no caso do Maranhão, nunca começa, pois nas mentes vazias e ávidas pelo poder só há repetição, bienalmente, dos mesmos discursos velhos e carcomidas, tão belos e imaculados por fora, mas tão sedentos de estarem na mesma posição de poder e desfrutar das mesmas benesses que alimentam e sustentam seus algozes.


Hugo Freitas
Historiador, Sociólogo e Jornalista

2 comentários:

  1. Boa noite prezado jornalista Hugo Freitas, pertinentes seus escritos. Eu lamento, e não vou poupá-los, direi que não passam de canalhas, travestidos de autoridades, é estupidez que haverá de fazer o povo invadir as assembléias e. aplicar a sugestão apontadas pela Bíblia Sagrada. É tua mão que te faz mal corta atua mão. Abraços. Reinaldo Cantanhede Lima

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