domingo, 28 de junho de 2015

O PADRE E O GOVERNADOR

Após "peleja" com dirigente da Pastoral Carcerária, Flávio Dino (PCdoB) pode ter de enfrentar um adversário de peso ainda maior: a Arquidiocese do Maranhão

Por Hugo Freitas

O desentendimento entre o dirigente da Pastoral Carcerária do Maranhão, o padre mexicano Roberto Perez Cordova, e o governador do Estado, Flávio Dino de Castro e Costa (PCdoB), pode desencadear uma crise sem precedentes nas relações institucionais entre o Governo e a Igreja Católica, cuja ressonância só encontra comparativo nos tempos da ditadura militar no Maranhão.

Ao ousar criticar o governador Flávio Dino, rebatendo o discurso deste de que a situação em Pedrinhas estava melhor desde 1o. de janeiro, início da atual gestão estadual, em reunião realizada com membros da referida Pastoral dentro do Palácio dos Leões, padre Roberto talvez não imaginasse que estaria "comprando briga" com quem "não foge à luta", cuja tática principal é se defender atacando.

Logo após a divulgação da Carta da Pastoral Carcerária, direcionada a Flávio Dino, os Leões do Palácio se apressaram em emitir Nota Oficial desdizendo a epístola eclesiástica e desqualificando as críticas do corajoso mexicano. Afinal, "peitar" o governador dentro do Palácio é coisa para "cabra-macho".

Como tática de desqualificação das críticas, a Nota do Governo do Maranhão revelou que o padre mexicano recebia uma espécie de "mensalinho" no governo Roseana Sarney, no valor de R$ 2.300,00, por meio de uma empresa terceirizada que prestava serviços dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas.

O próprio governador utilizou seu perfil no Twitter para endossar a Nota Oficial e criticar veementemente a postura crítica do padre em relação à situação do sistema prisional no Maranhão. Para Dino, Cordova estaria ressentido com a perda da "boquinha".

Declarações de Dino no Twitter aumentaram a cizânia entre o Governo e membros da Igreja Católica

Na esteira dos acontecimentos, como era de se esperar, outras vozes de destaque na Igreja do Maranhão começaram a se levantar em defesa do padre Roberto Cordova. A mais contundente até agora foi a do padre italiano Cláudio Bombieri, ligado a entidades católicas como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), entre outras. Em um blog que mantém na internet, Bombieri tratou de descrever a referida peleja em texto cujo título questionava: "Deu a louca no governador do Maranhão?" (confira aqui).

Ao se "destemperar" com o dirigente da Pastoral Carcerária, dado o tom ácido da Nota do Governo e das próprias "tuitadas" do governador, Flávio Dino pode esbarrar em um "adversário" de peso ainda maior: a Arquidiocese do Maranhão. E para isso deve mobilizar todas as vozes alinhadas ao seu projeto político para fazer coro às suas declarações.

Já circula pelo menos em um blog da capital, por exemplo, graves denúncias de um sindicalista ligado ao PCdoB, partido do governador, que atua junto ao Sindicato dos Agentes Penitenciários de Pedrinhas, dando conta de "esquemas de corrupção" no sistema prisional maranhense que estariam contando com a "cobertura de autoridades ligadas à cúpula eclesiástica do estado" (veja aqui).

As implicações de tais denúncias, declarações e acusações gravíssimas, eclodidas em menos de 24h após a peleja entre o padre e o governador, podem "forçar" um posicionamento oficial do arcebispo metropolitano de São Luís, dom Belisário, que é a autoridade máxima da Igreja Católica no Maranhão, seja exercendo o papel de "mediador" e/ou de "apaziguador" dos ânimos exaltados ou de defensor da democracia e da liberdade de expressão do padre estrangeiro e da Pastoral Carcerária.

Seja como for, em que pese as tentativas de desqualificação de seu "algoz", a imagem midiática do governador comunista parece ter sido irremediavelmente "arranhada" pelo destemor do padre mexicano que, ao ousar contradizer Flávio Dino dentro de seus domínios palacianos, despertou não só a ira flamejante dos Leões, como também a atenção de muitos que ainda não conheciam esse lado obscuro e nada republicano do dirigente-mor do Maranhão.

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