A crise instalada entre o Governo do
Maranhão e a Igreja Católica por conta do desentendimento entre o governador
Flávio Dino (PCdoB) e o padre Roberto Perez Cordova, dirigente da Pastoral
Carcerária no Estado, não dá mostras de que irá findar tão cedo.
A quantidade de "Notas" e
declarações ácidas que se seguem após a deflagração das tensões geradas no
Palácio dos Leões, no último sábado (27), em reunião que discutia a proposta de
um projeto de lei para a criação de um Comitê Estadual de Combate à Tortura,
sinaliza a gravidade das feridas abertas por conta dessa inesperada contenda entre o padre e o governador.
Colocando mais álcool no fogaréu entre
católicos e comunistas, a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH),
ligada à Igreja Católica, divulgou, na noite desta segunda-feira (29),
uma "Nota de Solidariedade" ao padre Perez, onde condena as
declarações de Flávio Dino sobre o episódio, classificando-as de "prática
recentemente inaugurada de achincalhe e desmoralização daqueles que divergem da
opinião oficial".
Declarações de Flávio Dino no Twitter, tachando o padre Perez de "mensaleiro", alimentaram a cizânia com os dirigentes da Igreja Católica no Maranhão
O governador do Maranhão despertou a
"ira" dos líderes católicos após informar, em uma rede social, que
o padre Perez era um "mensaleiro" do governo Roseana Sarney. Para
Dino, as críticas do dirigente da Pastoral Carcerária sobre o sistema prisional
do estado não possuíam legitimidade por conta do recebimento de
"mensalinhos".
A Nota da SMDH se soma à da Comissão
Arquidiocesana de Justiça e Paz - que teve o aval do arcebispo metropolitano de
São Luís, dom Belisário, autoridade máxima da Igreja Católica no Maranhão (confira) -, à "Carta Aberta da Pastoral Carcerária" e às inúmeras manifestações de militantes e
figuras expoentes do cenário religioso estadual, como o padre Cláudio Bombieri,
que, após ter participado da reunião nos Leões, questionou em texto divulgado em seu blog: "Deu a louca no governador do Maranhão?"
Leia a íntegra da Nota da SMDH:
Nota de Solidariedade
A SMDH
A propósito do episódio envolvendo o
Governador do Estado e o Padre Roberto Perez Cordova, representante da Pastoral
Carcerária, no último dia 26 de junho, ocasião em que se celebrava o dia
internacional de combate à tortura, a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos
(SMDH) se sente no dever de se posicionar na forma abaixo:
a. Repudia qualquer tentativa de
desqualificação de militantes de direitos humanos e de entidades da sociedade
civil, no exercício da nobre missão de fazer o controle social das políticas
públicas;
b. Repudia a prática recentemente
inaugurada de achincalhe e desmoralização daqueles que divergem da opinião
oficial, por intermédio do cerco de mídia, alinhada ao governo;
c. Conclama o Governador de Estado e
seus subordinados, como dignos mandatários de cargos públicos a manterem
postura e garantirem nos debates o direito à divergência de opinião nos temas
caros ao exercício de direitos, sobretudo em notas oficiais e argumentos
publicizados em redes sociais, de modo a preservar os caminhos institucionais
do diálogo com a sociedade civil;
d. Solidariza-se com o Padre Roberto
Perez Cordova, militante da renomada entidade Pastoral Carcerária, injustamente
atacado em sua honra e dignidade.
São Luís/MA, 29 de junho de 2015
Sociedade Maranhense de Direitos
Humanos (SMDH)
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