Por Hugo Freitas
Caiu como uma “bomba” na cabeça de
muitos analistas e agentes políticos a filiação da ex-senadora e ex-ministra do
Meio Ambiente do Governo Lula, Marina Silva, ao partido do governador de
Pernambuco e pré-candidato à presidência da República, Eduardo Campos (PSB).
A "hecatombe" face à decisão
de Marina de ingressar nas fileiras do Partido Socialista Brasileiro se
justifica principalmente pelo fato da ex-senadora ter maior densidade eleitoral
do que Campos, presidente nacional da legenda.
Marina aparece em segundo lugar em
todas as pesquisas eleitorais, contabilizando 16% das intenções de voto,
segundo último levantamento feito pelo Ibope (confira aqui).
Em 2010, Marina ficou em terceiro lugar
nas eleições para presidente da República, obtendo aproximadamente cerca de 20
milhões de votos, números que catapultaram a ex-ministra ao patamar de uma das
principais figuras políticas da atualidade, com pedigree capaz
de “destronar” o governo petista-peemedebista de Dilma Rousseff.
Marina Silva e Eduardo Campos: ainda não está acordado quem será o vice de quem
Por sua vez, Eduardo Campos aparece com
pífios 4% das intenções de votos, segundo o mesmo levantamento do Ibope. O fato
de ter sido reeleito ao governo de Pernambuco com mais de 90% do eleitorado local não
foi suficiente para torná-lo uma expressiva liderança política no Nordeste,
região que contabilizou o maior percentual de votação para Dilma em 2010.
A ida de Marina para o PSB de Campos
atende, portanto, a dois propósitos bastante nítidos: primeiro, coloca
definitivamente a ex-senadora na disputa eleitoral do ano que vem, que corria o
risco de ficar de fora por conta do não registro de seu partido, o “Rede
Sustentabilidade”, junto ao TSE; segundo, oferece maior densidade eleitoral
tanto para Marina quanto para Eduardo, que deverão decidir ainda quem será o
vice de quem.
Apesar de muitos darem como certa a
posição de vice de Marina na chapa socialista, demasiadamente apressado por
sinal, não está descartada uma inversão de papéis. Tudo vai depender do
desempenho de Campos nas pesquisas e do desenrolar de sua campanha pelo país.
Fim da polarização PT x PSDB ???
Certo mesmo é que, independente de quem
seja o vice de quem, a aliança Marina/Eduardo pulveriza a constante polarização
PT x PSDB nas disputas presidenciáveis, abrindo espaço para uma pretensa
“terceira via” alternativa ao "petismo" de Lula e Dilma e ao "tucanismo" de Fernando
Henrique e Aécio Neves.
Aécio Neves (PSDB) pode ter tido suas chances de chegar ao segundo turno ainda mais reduzidas diante da aliança Marina/Eduardo
Ao mesmo tempo, tal conjunção de forças
em torno do PSB, que vive uma verdadeira "coqueluche" em todo o país,
torna bastante incerta uma vitória de Dilma no primeiro turno. Aqueles que
acreditavam que as candidaturas próprias de Marina, Eduardo e Aécio, separadas entre si, poderiam funcionar como uma flecha no coração da
aliança PT/PMDB viram suas certezas sólidas se desmancharem no ar.
Afinal,
somando-se o capital político de Marina ao de Eduardo tem-se uma resultante de
maior densidade eleitoral da chapa socialista para fazer frente à candidatura
de Dilma e para se minimizar, consideravelmente, as chances de vitória do
tucano mineiro.
Aliás, a tendência é cada vez maior do
PSDB subsumir diante da conjuntura política nacional, já que o “futuro” da
oposição ao governo Lula/Dilma advirá de sua própria estratégia de alianças
partidárias, pois ao se nutrir das forças coligadas em torno de seu projeto político-econômico, o petismo tende a
insuflá-las, oxigená-las, e, mesmo, fortalecê-las, a ponto da
criatura voltar-se contra o criador.
Fato este que não ocorre no ninho tucano, onde as
divergências entre os principais caciques do partido (FHC, José Serra, Geraldo
Alckmim e Aécio Neves) tende a enfraquecê-lo ainda mais, já que a sigla não está na base
aliada do governo Dilma, fazendo-lhe oposição na esfera federal.
Contudo, é sabido que o processo de
“transferência” de votos de Marina para Eduardo ou vice-versa não ocorrerá de
forma automática. É necessário muito trabalho de mobilização junto às bases
eleitorais, de disseminação midiática e, principalmente, de discussão dos
modelos e propostas de gestão presidencial. Uma vez que tanto Marina quanto
Eduardo se fortaleceram dentro do governo petista, através dos cargos e postos
que lá ocuparam, é sintomático que haja uma dupla face propositiva em seus
programas de governo: de “aperfeiçoamento” ou de "ruptura" com o
modelo assistencialista vigente, principal responsável pela reeleição de Lula e
pela assunção de Dilma.
Por isso, apesar de escassas, as
chances do tucano Aécio figurar no segundo turno ainda existem, posto que o
presidenciável mineiro apresenta em sua propaganda partidária aquilo o que
deverá ser o mote de sua campanha eleitoral no ano que vem: a crítica às
políticas assistencialistas do governo Dilma e ao fortalecimento da presença do
Estado na economia, em detrimento de um plano de desenvolvimento socioeconômico
autossustentável calcado no incentivo aos pequenos produtores rurais e aos
microempreendedores, principal proposta econômica do modelo neo-liberal
defendido pelo PSDB de Aécio Neves.
Em que pese tais conjecturas, a dupla
Marina Silva e Eduardo Campos se apresenta, também, como um elemento
complexificador nas disputas estaduais, onde se vê uma profusão de
possibilidades de alianças dos mais diversos tipos e gêneros, como é o caso
emblemático do Maranhão.
Mas isso é assunto para um próximo
post, visto que o presente texto finda aqui.
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