Por Hugo Freitas
Historiador e Sociólogo
A lógica dominante na política
maranhense, sarney versus anti-sarney, parece que finalmente sofreu uma sacudida com a possibilidade de surgimento de novas vias. Pelo menos é isso o que se espera, para o bem da democracia maranhense.
Afinal, aqueles que afirmam que para
"mudar o Maranhão" é necessário "acabar com a oligarquia"
assumem tal discurso como a principal (para não dizer a "única")
ferramenta de combate à miséria e ao analfabetismo do povo, como se
isso fosse resolver, de imediato, tais problemas cruciais do nosso Estado. E
que fique bem claro que eu não sou um "sarneysista", como muitos poderão pensar ao final desse texto.
Ao adotarem o discurso de "contra a oligarquia", os mesmos propagandistas da "oposição" não revelam ao povo os muitos de lá que já
pularam para o lado de cá. Preferem o silêncio aos diletantes fatos. Ou alguém já esqueceu dos apoios de última hora aceitos pelos pregadores da mudança à candidatura de Edivaldo Júnior ofertados por João
Alberto e Roberto Costa, ambos do PMDB e figuras ilustres da "oligarquia"? Só falta o Lobão mudar de lado e ser "aceito pela oposição" também, já que ele demonstrou publicamente, através de seu sistema midiático, um profundo descontentamento com seu grupo político por conta da predileção por outro nome que não o seu para o governo em 2014.
Aliás, existe conceito mais vago e
fluido do que esse? Como chamar alguém de oligarca quando você mesmo já
foi tutelado e protegido por seu "algoz", marcando presença constante na margem
direita do rio antes de pular para a esquerda? Como definir a "oligarquia" no Maranhão se seus membros mudam de lado conforme a direção do vento, operando até mesmo uma guinada de 360º e indo deleitar-se nos braços aconchegantes da "oposição"?
Os que advogam o "fim da
oligarquia" esquecem também de apontar "como" irão operar a tal
propalada mudança. Repetir a velha fórmula do "Maranhão Novo"
propagandeado por José Sarney, com o aval dos militares golpistas de 1964, não
significa "mudança"; apenas utilizar as mesmas armas do adversário
contra ele mesmo. Não se pode pregar algo "novo" utilizando-se dos
mesmos recursos de seu "velho" adversário. Ou propaganda e discurso são as armas do negócio?!
"Mudar" o Maranhão não se trata apenas de mudar um nome por outro, de trocar personagens no governo, mas sim de mudança de mentalidade, de atitude, de projetos, de ações, de políticas públicas que beneficiem única e exclusivamente a população.
"Mudança" de verdade ocorrerá
quando a fome for extirpada do seio do povo; quando as crianças trocarem as
ruas e as drogas pelas salas de aula e pelos livros; quando os professores
forem respeitados com salários mais dignos e melhores condições de trabalho, a
fim de desenvolverem sua fundamental atividade do ensino com qualidade
reconhecida; quando a saúde for tratada com seriedade e profissionalismo, e não
por conchavos políticos que indicam pessoas inaptas para ocupar determinados e importantes cargos; quando, enfim, os políticos de nossa "pátria mãe gentil" se
interessarem em resolver os problemas da população, e não de seus padrinhos e
financiadores de campanha, fazendo mal uso do dinheiro público.
Um verdadeiro "líder popular"
deve nascer do seio do povo e não dos palácios e castelos, de onde não se
observa nada além de si mesmo. Deve acompanhar de perto os problemas diários
enfrentados pela população que padece dos serviços básicos de saúde, educação,
segurança e transporte público de qualidade, e não por jornais e televisão, do
alto de suas confortáveis cadeiras burocráticas situadas no centro do poder federal, dos ricos e luxuosos hotéis e
restaurantes, ou de seus carrões importados, blindados e com vidro
fumê, ou de dentro dos seus jatinhos e helicópteros particulares, geralmente
financiados por empresários interessados num lucrativo feedback.
A "libertação" do Maranhão
não pode nem deve residir em torno de nomes, mas sim de projetos políticos,
sociais e econômicos viáveis que contemplem toda a população. Não se pode
discutir política somente tratando quem será o candidato ao governo, fazendo
dos problemas da população apenas plataforma de discurso de palanque. Não
se pode simplesmente trocar um "messias" por outro.
É necessário criar as condições mínimas
e eficazes para que o povo maranhense seja realmente representado por seus
representantes, e não apenas consultado em anos de eleição. Muito embora, neste aspecto, a questão da "representatividade" seja ainda mais complexa quando se observa as mesmas "famílias tradicionais" (e não apenas uma) disputando e dando as cartas no jogo político maranhense.
Discorda? Pois basta analisar a composição das casas legislativas municipais ou estadual para se constatar a predominância de filhos, netos, sobrinhos, maridos e esposas dos mesmos grupos familiares se revezando no papel de "representantes do povo" a cada nova eleição.
Ainda assim, cabe a questão: como podem os oradores da mudança aceitarem "apoios" daqueles contra quem se
está lutando para tirar do poder? Seguindo essa práxis política, não será de
causar espanto se sarneysistas e anti-sarneys compartilharem o mesmo púlpito em 2014.
Isso já não aconteceu com o PT do Maranhão em 2010? Não está acontecendo com a atual gestão municipal?
Eis o perigo do tal "princípio da
governabilidade": a manutenção no poder de todos aqueles que foram combatidos pelos próprios pregadores da "mudança".
Por isso, o conceito de "oligarquia" não se aplica mais no Maranhão, quiçá no Brasil, para além da
mera retórica de tomada do poder, objetivo maior daqueles que entram na disputa
política por cargos eletivos sem nenhum respaldo com o povo pobre, sofrido,
analfabeto e faminto destas plagas senhoriais.
E é isso o que gera a falta de consenso
no vasto campo da "oposição" maranhense, fomentando-se as inúmeras
disputas faccionais em torno de outras alternativas para fazer frente à lógica polarizada da
política local.
Muitos dos que criticam o protagonismo dos oradores da mudança entendem que eles não representam os anseios do povo oprimido, por passarem longe
da realidade dos bairros pobres e marginalizados das cidades, e dificilmente adentrando as casas mais
humildes daqueles que residem distantes dos polos urbanos dos 217 municípios
maranhenses, ouvindo seus problemas ou sendo solidários nos momentos mais emergenciais.
Ainda assim, o verdadeiro "atraso"
continua sendo a manutenção da infrutífera mentalidade messiânica de que é
necessário que alguém reúna todas as qualidades do "príncipe",
apontado por Maquiavel, para resolver os problemas da população. E muitos acreditam que ser "anti-sarney" ou "contra a oligarquia" no Maranhão é a garantia da solução de tais problemas. No mínimo, é a apropriação conveniente de uma bandeira de luta quando seus interesses estão sendo contrariados.
Ao fim e ao cabo, qualquer cidadão pode ser candidato a qualquer cargo eletivo, seja o de presidente da República ou de governador de seu Estado, inclusive eu e você, amigo leitor, desde que se atenda a alguns requisitos estabelecidos em lei, como ser filiado a um partido político e ser comprovadamente alfabetizado. O resto, contudo, são conchavos. Afinal, ninguém faz política sozinho.
Se quereis lutar contra a hegemonia política dos velhos e novos grupos dominantes de seu Estado, faça do conhecimento e da sabedoria sua arma e seu escudo, pois a libertação humana, em toda a sua plenitude, começa dentro de nós mesmos.
Bela reflexão caro Hugo. O estado do Maranhão necessita, sobretudo, de ações concretas no sentido da melhoria da educação, saúde, assistência social etc. Será a libertação quando usarmos o conhecimento e a sapiência de nossos conterrâneos de forma plena e pura, focando apenas a ajuda ao próximo e não aos bolsos/cuecas de uns ou de outros.
ResponderExcluirAtt.
Isso mesmo, João Elias.
ExcluirEnquanto os problemas do povo forem utilizados apenas como plataforma de discurso de palanque, a miséria e o analfabetismo continuaram fazendo morada em nosso querido Maranhão.
Abraços, nobre amigo.