Por
Hugo Freitas
Ao
emitir seu voto pelo "sim" à abertura do processo de Impeachment da
presidente Dilma Rousseff (PT), aprovado neste histórico domingo (17) na Câmara
dos Deputados (SIM 367 x NÃO 146 [contra/abstenções/faltas]) e que segue agora
para o Senado, o deputado federal José Reinaldo Tavares (PSB) demonstrou toda a
mágoa que ainda lhe resta da também histórica e vergonhosa cassação do
ex-governador e já falecido Jackson Lago (PDT).
Jackson
teve seu mandato cassado em abril de 2009, quando forças políticas capitaneadas
pelo grupo Sarney, oxigenadas por forças inclusive de "esquerda",
destituíram por meio do TSE aquilo o que entrou para os livros de história do
Maranhão de "Golpe do Judiciário".
A
propósito, talvez este tenha sido o único blog a sinalizar para os possíveis
efeitos daquele triste episódio sobre a atual conjuntura política (confira aqui).
Zé Reinaldo foi o principal apoiador da vitoriosa campanha de Jackson Lago ao Governo do Estado em 2006, imputando a primeira derrota eleitoral ao grupo Sarney ao longo de quase 50 anos de domínio político no Maranhão
Zé
Reinaldo se tornou um dos mais controversos personagens da história política
recente do Maranhão. Ao romper com a "oligarquia Sarney", em 2003, já
ocupando o posto de governador (2003-2006), Tavares abriu espaço significativo
para que as "oposições coligadas" viessem a destronar o clã no histórico
pleito de 2006. No dia 29 de outubro daquele ano, com o apoio de Tavares,
Jackson Lago foi eleito governador e imputou a primeira derrota eleitoral à
"grande família", abreviando um domínio de quase 50 anos do grupo no
comando do Estado.
A
partir de então, o "traidor" Zé Reinaldo (aos olhos dos "dominantes")
passou a ser visto e celebrado como o "herói" do Maranhão (aos olhos dos "dominados") por uma
parcela da "esquerda" daqueles rincões, particularmente identificadas
no PDT e PCdoB, principalmente.
Outros
que caminham à margem esquerda do rio, como membros do PSOL e do PSTU, por
exemplo, mantiveram (e ainda mantém) seu firme posicionamento contra alianças
espúrias e oportunistas entre as elites políticas maranhenses (como a vigente aliança entre PCdoB e PSDB, que governa o Maranhão) que apenas visam
locupletarem-se do poder do Estado, sem conteúdo programático nem projetos
macroeconômicos que permitam a elevação dos índices de desenvolvimento humano
da população maranhense, um dos piores do país.
Em 2014, tendo Zé Reinaldo como principal articulador de sua também vitoriosa campanha, Flávio Dino (PCdoB) foi eleito governador do Maranhão, a segunda vitória de Tavares contra o grupo Sarney
José
Reinaldo, então, passou a querer disputar com José Sarney (PMDB/AP) o posto de
"crupiê" do jogo político no Maranhão, aquele que distribui as cartas
entre os jogadores. Tavares passou a apoiar candidaturas a prefeito das principais cidades maranhenses e, também, às de governador, sempre contra o grupo Sarney.
Assim, os dois "zés" continua(ra)m medindo forças no Estado. No fatídico abril de 2009, o primeiro pupilo político de Tavares, Jackson,
foi defenestrado do posto de governador, sob a regência de Sarney, do ex-presidente
Lula e boa parte dos "sarnopetistas" e "associados" que
apoiaram o clã dominante de 2006 até agora. Antes disso, Tavares chegou a ser preso e algemado, em 2008, pela Polícia Federal na famigerada Operação Navalha.
Zé Reinaldo preso e algemado pela Polícia Federal no Maranhão, em decorrência da Operação Navalha, de 2008. O próprio Tavares chegou a atribuir essa prisão a "manobras políticas".
Em 2014, tendo Zé Reinaldo como principal articulador de sua campanha aos Leões, Flávio Dino (PCdoB) foi eleito governador do Maranhão, consumando a segunda vitória eleitoral majoritária de Tavares contra Sarney.
Vale
lembrar que antes de ser o padrinho de Jackson em sua campanha vitoriosa ao
Palácio dos Leões, Tavares foi o vice da governadora Roseana Sarney (PMDB), em seus três primeiros mandatos à frente do Executivo maranhense (1994, 1998, 2002). E
assim como Michel Temer vem mostrando nos dias atuais, Tavares já deu provas da força política de um vice quando negligenciado pelo titular e
tratado como mera figura "decorativa" (confira aqui).
Por
isso, ao dizer "sim" à admissibilidade do Impeachment da presidente Dilma,
Zé Reinaldo "vingou-se" daqueles que contribuíram para o "Golpe
do Judiciário" de seu primeiro apadrinhado político numa disputa majoritária. "Pelo Dr. Jackson
Lago, que teve seu mandato de governador covardemente cassado pelos que hoje
ocupam o Planalto, eu voto SIM", disse Tavares no plenário da Câmara.
Porém,
como toda ação política, a manifestação de Zé Reinaldo teve seu bônus e terá seu
ônus. O socialista contrariou frontalmente as ordens do comunista Flávio Dino, que tentou
esculpir junto à imprensa nacional a imagem de um "grande
articulador" cooptando votos da bancada maranhense para barrar o processo
contra Dilma. Não deu certo. Foi um fracasso retumbante. Dino não conseguiu
convencer os deputados de sua própria "base aliada", como João
Castelo (PSDB), Eliziane Gama (PPS) e o próprio Zé Reinaldo (PSB).
Assim,
ao sacramentar seu voto contra o Planalto, Zé Reinaldo pode ter se complicado
ainda mais na planície. E o "pedido de desculpas" talvez não surta nenhum efeito. Sua candidatura ou não ao Senado amanhã será o termômetro de sua decisão de agora.
Seja como for, os leões irão rugir! Mas a vingança de Zé Reinaldo está consumada.
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