"O pai do prefeito é quem está administrando a cidade", Yglésio Moyses, ex-diretor do Socorrão I
Por Hugo Freitas
Historiador e Sociólogo
O médico e ex-diretor do Hospital
Djalma Marques, o Socorrão I, Yglésio Moyses, não deixou barato o fato de ter
sido exonerado do cargo sem "aviso prévio" do prefeito de
São Luís, Edivaldo Holanda Júnior (PTC).
Em entrevista coletiva concedida à
imprensa, nesta segunda-feira (12), Yglésio foi taxativo ao afirmar que
existe um "poder paralelo" que age dentro da Prefeitura de São Luís sob o
comando do ex-deputado Edivaldo Holanda, o "Holandão", pai do prefeito Edivaldo Jr.
“O pai do prefeito está administrando,
mas tinha que ficar, no máximo, como conselheiro. Não é papel dele ficar se
reunindo com secretários para tomar decisões. Não é direito dele, ele não foi
eleito para isso. Se fosse assim, deveria ter se candidatado a prefeito",
afirmou.
Não satisfeito de ter acusado
"Holandão" de estar à frente do Executivo municipal de forma
oficiosa, tutelando a gestão do filho "Holandinha", Yglésio disse
ainda que, passados dois meses de mudança de gestão na pasta da Saúde (saiu Vinícius
Nina e entrou Carlos Félix), a nova equipe sequer foi visitar o Socorrão I, o
que classificou como "absurdo".
Yglésio foi exonerado na última
sexta-feira (09) (leia aqui o que ele disse na ocasião), após sete meses de uma gestão bastante polêmica. Dez dias após assumir o cargo, o ex-diretor pediu ajuda à população
ludovicense para abastecer o maior hospital de urgência e emergência do
Maranhão, que padecia de alimentos para os pacientes e materiais de limpeza.
Resultado: muita polêmica em torno do assunto, que foi destaque inclusive na imprensa
nacional, tanto impressa quanto televisiva.
Houve quem aplaudisse a iniciativa do
ex-gestor, que foi feita de forma não oficial, via facebook. Por isso mesmo,
grande parte dos que criticaram a medida taxaram Yglésio de
"aventureiro" e "aproveitador", que queria aparecer às custas
do sofrimento do povo convalescente na saturada rede pública municipal de saúde
de São Luís.
Em março, funcionários do Socorrão fizeram ainda uma manifestação contra a gestão de Yglésio, após o médico ter sido
acusado de desviar recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) para complementar a
remuneração dos trabalhadores, ocasião na qual supostamente ele teria
ofendido-os verbalmente.
O resultado disso tudo é que agora "os Holanda" (pai e filho) ganharam um adversário um tanto quanto indigesto, uma vez que Yglésio Moyses é médico concursado do Socorrão I, de onde não pretende sair. Sendo, portanto, alguém que irá olhar "de perto" os erros e acertos do novo diretor, o pedetista Érico Brito Cantanhede.
O fato é que Yglésio tornou público o que muitos já comentavam nos bastidores da política local: que quem manda na Prefeitura de São Luís é o Edivaldo Holanda "pai". "Holandão" teria indicado, dentre outros nomes para outros postos, o substituto de Yglésio no Socorrão na tentativa de amenizar a pressão do PDT por cargos no Executivo municipal, partido que compõe a base "oposicionista" aliada ao presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB), para as eleições de 2014.
A denúncia de Yglésio é grave e relevante porque deixa à mostra as vísceras da política "oligárquica" praticada no Maranhão de um modo geral: o exercício familiar do poder.
Não se trata, pois, de um "poder paralelo", mas sim de uma organização política estrategicamente pensada e gerenciada internamente, colocada em ação de forma não oficial, isto é, de modo tutorial do pai em relação ao filho e, por isso, juridicamente (ainda que não moralmente) legal.
São as famílias de políticos que gerenciam, organizam e definem entre si, num incessante jogo de alianças e concorrências, a ocupação de postos e cargos na estrutura burocrático-administrativa dos governos. Prática que não é de exclusividade da "direita", como se observa na gestão do prefeito "oposicionista" Edivaldo.
Não se trata, pois, de um "poder paralelo", mas sim de uma organização política estrategicamente pensada e gerenciada internamente, colocada em ação de forma não oficial, isto é, de modo tutorial do pai em relação ao filho e, por isso, juridicamente (ainda que não moralmente) legal.
São as famílias de políticos que gerenciam, organizam e definem entre si, num incessante jogo de alianças e concorrências, a ocupação de postos e cargos na estrutura burocrático-administrativa dos governos. Prática que não é de exclusividade da "direita", como se observa na gestão do prefeito "oposicionista" Edivaldo.
São Luís é apenas uma das árvores que encobre a imensidão da floresta política cognominada de "Maranhão". Não é à toa o elevado grau de disputas travadas, tanto na esfera municipal quanto na estadual, em torno da conquista e manutenção de grandes órgãos e secretarias, principalmente aquelas às quais são destinadas as maiores verbas orçamentárias.
As secretarias (e demais cargos burocráticos) se constituem estrategicamente importantes pela dupla face de seu potencial político: primeiro como cabides de empregos para apoiadores, correligionários e "lideranças comunitárias", que nelas se instalam para realizarem política-partidária de dentro da máquina pública, com recursos oriundos do suor do povo; e, segundo, pela receita que ofertam em termos de arrecadação para campanhas vindouras, assim como pela visibilidade político-midiática que disponibilizam.
Por isso, as disputas em torno de secretarias e órgãos relevantes tanto podem consumar pródigas alianças quanto certificar oportunas clivagens. E isso no jogo político tem um peso relativamente significativo, posto que não negligenciável.
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