Por Hugo Freitas
Historiador e Sociólogo
Finalmente, saiu o parecer do
Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, sobre o processo que pede a
cassação dos mandatos da governadora Roseana Sarney Murad (PMDB) e do
vice-governador Washington Luiz Oliveira (PT).
No parecer assinado em 30 de julho e
divulgado somente nessa quarta (07), Gurgel é favorável à cassação dos
referidos mandatos, entendo que houve abuso de poder político e econômico
cometido pela governadora Roseana através de convênios realizados às vésperas das
eleições de 2010. O procurador acolheu os argumentos da acusação de que esses
convênios foram utilizados como "meio de cooptação de prefeitos e lideranças
políticas e sindicais".
A acusação e o pedido de cassação foram
feitos pelo ex-governador José Reinaldo Tavares (PSB), representado pelos
advogados Rodrigo Lago e Rubens Pereira Júnior, que também exerce atualmente o
mandato de deputado estadual (PCdoB), sendo o líder da bancada oposicionista na
Assembleia Legislativa.
Os advogados de Zé Reinaldo acusam
Roseana de ter celebrado cerca de 979 convênios que beneficiaram diversos
municípios maranhenses, nos quais a governadora obteve expressiva votação no
pleito de 2010.
De acordo com a peça acusatória, os convênios assinados por
Roseana Sarney chegam ao montante de cerca de R$ 1 bilhão com nítido caráter
eleitoreiro (confira aqui os detalhes do pedido de cassação).
O processo segue agora para julgamento
pelo pleno do Superior Tribunal Eleitoral (TSE) e tem como relatora a ministra
Luciana Lóssio, que foi advogada de Roseana no processo de cassação do
ex-governador Jackson Lago, resultando no retorno da filha de Sarney ao
Executivo estadual, quando esta havia sido derrotada nas urnas, em 2006, pelo
falecido pedetista.
Por conta da demora diante das graves e
documentadas denúncias contra Roseana, o procurador Roberto Gurgel foi acusado
de "dormir" no processo de cassação em favor de uma suposta aliança
com o senador José Sarney, pai da governadora (acompanhe aqui).
Roberto Gurgel é favorável à cassação de Roseana Sarney
A partir desse aparente estado de
"sonolência", foi protocolado no Senado um pedido de Impeachment
contra Gurgel (leia aqui). Fato esse que, de alguma forma, deve ter influído
para que o procurador-geral da República se pronunciasse sobre o processo e
desse celeridade ao mesmo.
"Dezenas de prefeitos de oposição,
filiados ao PSDB, PSB, PDT e PCdoB abandonaram completamente os candidatos
Jackson Lago e Flávio Dino nas eleições para o governo do Estado e passaram a
apoiar a reeleição da governadora Roseana Sarney Murad em troca dos convênios
milionários, liberados às vésperas das eleições", argumentou o
procurador-geral da República.
É interessante observar em todo esse
imbróglio o quanto as relações políticas interferem e exercem grande influência
nos pareceres dos órgãos jurídicos no Brasil, ou melhor, de seus digníssimos magistrados. Senão, vejamos.
O pedido de cassação foi feito pelo
ex-governador "sarneysista" Zé Reinaldo, que rompeu com o grupo
Sarney em 2003, quando venceu as eleições do ano anterior apoiado pela
"grande família", vindo a grassar nas fileiras da
"oposição" como "padrinho político" de Flávio Dino, atual
presidente da Embratur e principal nome da "oposição" na disputa sucessória estadual de 2014.
Além disso, o pedido de impeachment no
Senado contra Gurgel é de autoria de Aderson Lago, primo do falecido Jackson
Lago, cassado em 2009 sob as mesmas acusações de "abuso de poder político
e econômico", fato jurídico esculpido pelos adversários como "Golpe do
Judiciário".
Roseana Sarney não fica por menos e tem
na ministra do TSE, Luciana Lóssio, uma provável "aliada" neste processo de cassação, ou mesmo, uma última esperança, já que a
magistrada atuou em favor de Roseana no "Golpe do Judiciário" de 2009.
Luciana Lóssio, última esperança de Roseana no TSE
Sem contar a guerra política travada na OAB/MA pela composição da lista tríplice envolvendo "aliados" de Roseana Sarney e Flávio Dino, de onde deverá sair o próximo desembargador do Tribunal de Justiça do Maranhão, em escolha feita pela governadora.
Não obstante, no parecer de Gurgel,
aparece um dado "curioso". Roseana teria "comprado" apoio
político de dezenas de prefeitos precisamente da "oposição", filiados
ao PSDB, PSB, PDT e PCdoB. Nas palavras do procurador, estes representantes do
povo "abandonaram completamente os candidatos Jackson Lago e Flávio Dino
nas eleições [de 2010] para o governo do Estado e passaram a apoiar a reeleição
da governadora Roseana Sarney Murad em troca dos convênios milionários".
A reflexão sugerida que dá título a
este post é a de que a cassação de Roseana, caso seja consumada pelo TSE e,
tenha certeza, prezado leitor, deverá chegar ao Supremo Tribunal Federal em
ordem de recurso, é uma excelente oportunidade para se discutir as relações
quase indissociáveis entre Política e Justiça no Brasil.
Muitos acreditam que a saída via
judiciário de Roseana do comando do Governo do Maranhão, o que poderá torná-la
inelegível para os próximos oito anos pela Lei da Ficha Limpa, poderá
significar o fim da hegemonia do grupo Sarney na política local. A própria doença do patriarca da "grande
família" - o senador José Sarney está com dengue e pneumonia - parece já indicar esse "fim simbólico".
Contudo, "mudança" no
Maranhão não pode se restringir apenas à saída de um grupo e a entrada de outro
no poder. Afinal, as bases sociais de sustentação política dos grupos que
disputam espaços de poder no Maranhão são móveis e fluidas, e variam conforme
as conjunturas eleitorais.
Basta observar o sem-número de exemplos que, cachoeiramente, pululam na imprensa maranhense sobre as prováveis alianças para 2014. Tem de tudo: PT e PCdoB, PCdoB e PSDB, PSB e PMDB, PMDB e PSDB, etc.
Além disso, existem inúmeros membros da família Sarney que exercem mandatos parlamentares no Maranhão e em Brasília, bem como integram partidos políticos onde ocupam cargos de direção, vide exemplo do Partido Verde (PV). O que sugere, no mínimo, que estes agentes da "oligarquia" sejam considerados no jogo político local e nacional para as próximas disputas eleitorais.
Soma-se à reflexão a existência de não apenas uma, mas de várias "oligarquias" que controlam diversos setores influentes na sociedade maranhense, seja no Legislativo, no Executivo, no Judiciário, na imprensa, nas legendas partidárias e entre o empresariado nativo.
Portanto, não existem garantias de que o nosso Estado trilhará novos rumos políticos a partir de 2014 com ou sem Roseana, pois os mesmos grupos que ora se digladiam, ora estão abraçados, irmanados pelo controle do dinheiro público e da estrutura político-administrativa do Estado, compondo assim o que chamo de "reconfiguração dos laços políticos".
Restam apenas sonhos, esperanças e perspectivas, ressalvado que mesmo estas águas calorosas podem desaguar em projetos políticos pessoais que as utilizam apenas como base
discursiva eleitoral.
Maior exemplo disso é a prova fornecida
pelo próprio Gurgel que, no parecer favorável à cassação de Roseana, aponta as
figuras políticas que sonhavam de noite com a "mudança" pregada por
Jackson e Flávio, e de dia estavam de $orri$o$ e olho$ aberto$ aos convênios
milionários de Roseana, ajudando-a a se reeleger em 2010. Onde estão as alternativas para que essa lógica de poder mude efetivamente?
Não serão estes tão responsáveis quanto
a "grande família" pelo "atraso" e os péssimos indicadores
sociais do Maranhão? Aliás, como crer na "mudança" quando as práticas
eleitoreiras que circundam a política maranhense são mais fortes que quaisquer
projetos de desenvolvimento social e educacional? Como acreditar no discurso de
figuras políticas que se abraçam com a "oligarquia" e se utilizam dela para também
ocupar espaços de poder?
É necessário que se crie condições
políticas e jurídicas que possibilitem a alternância de poder no Maranhão de
forma constante e não apenas a cada 50 anos. É necessário que a Política (com
"P" maiúsculo para remontar aos gregos) no Maranhão seja voltada para
o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida de uma população que padece
de diversas doenças sociais há tempos, como a fome, a miséria, o
analfabetismo, o desemprego, a falta de moradia, dentre inúmeras outras.
Não se prega aqui o fim do diálogo
político, que sempre há de haver em se tratando de um país democrático, mas sim
que os interesses do povo estejam acima dos interesses pessoais, que o
desenvolvimento da população seja soberano em relação às intenções de
perpetuação no poder, e que os projetos políticos estejam comprometidos a
retirar o nosso Maranhão da posição incômoda de ser um dos piores Estados para
se viver.
O povo tem nas mãos a oportunidade de aproveitar o momento histórico e político porque passa o Brasil e, também, o Maranhão para impedir que a coisa pública continue sendo tratada como bem privado pelos "donos do poder", para pôr fim, definitivamente, no protagonismo das oligarquias (e não apenas uma) e retirar dos grandes "figurões" da política, pertencentes às hordas dominantes e mais abastadas da sociedade, o controle do nosso Estado que, há tempos, é disputado e dominado como uma verdadeira "capitania hereditária".
O povo tem nas mãos a oportunidade de aproveitar o momento histórico e político porque passa o Brasil e, também, o Maranhão para impedir que a coisa pública continue sendo tratada como bem privado pelos "donos do poder", para pôr fim, definitivamente, no protagonismo das oligarquias (e não apenas uma) e retirar dos grandes "figurões" da política, pertencentes às hordas dominantes e mais abastadas da sociedade, o controle do nosso Estado que, há tempos, é disputado e dominado como uma verdadeira "capitania hereditária".
Meu jovem, uma correção : Flávio Dino nem é parente de Antônio Dino, mas filho de Sálvio Dino, ex-deputado e ex-prefeito de João Lisboa. A Célia Dino, médica é que é filha do mesmo. O Dino do ex-governador é sobrenome e na família do Flávio é um anexo do nome.
ResponderExcluirO sobrenome "Dino" é de origem sírio-libanesa e nada comum no cenário político maranhense. Mas checarei suas informações, meu caro "anônimo" e, em caso de certeza, farei as devidas correções.
ExcluirGrato pela participação.
Ele filho de Salvio Dino ex prefeito de Joao Lisboa, municipio proximo a Imperatriz-Ma.
ResponderExcluirO equívoco já foi corrigido. Obrigado pela participação.
ExcluirOutra correcao, Aderson Lago, nao era irmão do Jackson Lago, e sim primo, por sinal, passaram grande parte da vida publica brigados.
ResponderExcluirRealmente, Aderson Lago é primo de Jackson Lago. Equívoco já corrigido no texto do blog. Creio que a confusão de nomes se deva à própria confusão dos sobrenomes das elites dominantes e dos grupos familiares que controlam a política no Maranhão. :)
ExcluirFamilias de origem sirio-libanesas fora mais comuns na politica maranhense do que voce imagina.
ResponderExcluirNão disse que desconhecia a inserção de famílias de origem sírio-libanesa na política maranhense, e sim, afirmei a raridade do sobrenome "Dino" como forma de contrapor a versão do amigo "anônimo" de que Flávio Dino não teria relações de parentesco com Antônio Dino.
ExcluirEm breve, apresentarei alguns dados sobre famílias libanesas no Maranhão, em artigo oportuno a ser publicado aqui no blog.
o grupo que está ao lado de flávio é igual ou pior ao da oligarquia..é só lembrar o governo trairao zé e o jackson...maranhão vai continuar em péssimas mãos!
ResponderExcluirO problema dessas lutas intra-faccionais perpassa pela questão da falta de alternativas políticas viáveis para o Maranhão. Veja só, Jackson Lago foi prefeito de São Luís por três mandatos. Zé Reinaldo foi governador "rompido com a oligarquia" sem ter acrescentado nada de novo, de diferente ou de melhor para o desenvolvimento social e educacional do nosso Estado. Do lado de lá da Ponte de São Francisco nem se fala. De Sarney em 1966 a Roseana em 2013, o Maranhão continua hibernando em estado de letargia profunda.
ExcluirPorém, o agravante disso tudo é que a "oligarquia Sarney" sempre se serviu de membros da "oposição" para continuar governando por quase 50 anos o nosso sofrido Maranhão. O próprio Gurgel deixa isso claro. Prefeitos de "oposição" do PSDB, PSB, PDT e PCdoB (veja só!!!) "abandonaram Flávio e Jackson para apoiar a reeleição de Roseana".
É preciso, urgentemente, reoxigenar a política maranhense, tirando o protagonismo das mãos das grandes figuras políticas, pertencentes às hordas dominantes e mais abastadas, para colocarmos representantes legítimos do povo, que lutem pelos interesses da população e estejam mais comprometidos na resolução das mazelas sociais que afetam o nosso Estado e transformam-no num dos piores lugares do Brasil para se viver.
Ou seja, no fim, nós maranhenses estamos fudidos de qualquer jeito...
ResponderExcluirMais para mim só o.fato.da Roseana ser punida,ta valendo...Nosso povo merece a derrota dela....
Sem dúvida, Regyna, é uma vitória a ser comemorada pela população maranhense que sofre com o desgoverno Roseana Sarney, haja vista os péssimos indicadores sociais de desenvolvimento no Maranhão, último em quase todos os quesitos do IDH, conforme revelou o IBGE baseado no censo de 2010. Levando-se em consideração que somente Roseana governou o Estado por quatro oportunidades, períodos que não apresentaram nenhuma melhora satisfatória e significativa dos mesmos índices, sua parcela de culpa não pode ser negligenciada de forma alguma.
ExcluirEspero que a partir dessa "derrota jurídica", caso ela venha de fato, o Maranhão possa respirar, definitivamente, ares democráticos com assegurada constância, e não apenas surtos de alternância política a cada 50 anos.