quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O "VELHO" DE "NOVO" E A MORTE DA IDEOLOGIA


Por Hugo Freitas
Historiador e Sociólogo

O que há de novo na foto acima? Nada além de seus protagonistas.

O velho discurso da “oposição” foi sepultado simbolicamente nesta foto: Edivaldo e Roseana sentados na mesma mesa de negociações, acompanhados de Rodrigo Marques, secretário Municipal de Governo (à esquerda), e Luís Fernando, chefe da Casa Civil (à direita).

Para os marqueteiros da nova gestão, a foto representa a “salvação de São Luís” através da “parceria institucional” entre Prefeitura e Governo do Estado; para os jornalistas da mídia sarneysista, o atestado de imaturidade e despreparo do novo prefeito para administrar a capital do Maranhão.

Para este analista, a manutenção no poder do grupo dominante.

Aqueles que pregavam o “novo”, que diziam combater as “velhas práticas” e instaurariam um “novo modo de fazer política” repetem a velha fórmula do princípio da “governabilidade”: o de desarmar os palanques e chamar os adversários para o diálogo.

De uma hora para outra, ou melhor, do dia da vitória ao discurso de posse do novo prefeito, o “governo do atraso” significou a “salvação” da capital; a mesma gestão tão atacada fervorosamente por seus adversários de camisa vermelha foi transformada na principal solução para os problemas de São Luís. E chamaram isso de “novo”!!!

Nada de novo no front

Esquecem os ilustres marqueteiros que a história política do Brasil e do Maranhão está sempre à disposição daqueles que não andam na mesma procissão das massas. José Sarney, quando presidente da República (1986-1989), o primeiro civil a presidir o país após o regime militar (do qual o mesmo também foi partícipe), colocou esse “novo” em prática e tratou de aliançar numa plataforma de governo os seus principais adversários dos tempos de Arena, UDN e MDB.

Além disso, é da gestão de Sarney, quando governador do Estado, o propalado “Maranhão Novo” (1966-1970). Haverá alguma "coincidência" com o que ocorre nos dias de hoje? Não. Não existem coincidências. Apenas a ilusão de que elas realmente existem.

Pulando-se Fernando Collor de Melo (1990-1992), que foi “expulso” da presidência através do processo de impeatchment, e Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), que não levou tão a sério o tal jogo de alianças com adversários, governando muito mais para os seus pares, chega-se ao “deus Lula” (2003-2010) e à superpop Dilma, ambos representantes máximos da máxima: “tudo em nome da governabilidade”.

Foi nos mandatos presidenciais de Lula, estendidas atualmente para o governo Dilma, que se teceram as parcerias históricas com os mesmos Sarney, Collor, Renan Calheiros e, mais recentemente, Paulo Maluf, todos "adversários" de longa data dos camisas vermelhas.

A Morte da Ideologia

Nesse sentido, os petistas fizeram escola, frequentaram as aulas do mestre Sarney e, através de seus pupilos, suas lições ressoaram novamente por estas maranhas, emblematizada no tal “Pacto por São Luís”, que nada mais é do que uma aliança com o "governo do atraso" (como dizem os "opositores") em diversas áreas da capital, proposta justamente pela "nova" gestão, que tem como principais aliados o Partido "Comunista" do Brasil (PCdoB) e o Partido "Socialista" Brasileiro (PSB), além do PDT (partido do falecido governador Jackson Lago) e da "Resistência Petista", grupo de última estação que diz fazer "oposição aos sarneys", e já possui pasta na prefeitura da cidade.

Em outras palavras, os entronados nas secretarias municipais da Educação, Saúde, Cultura, Segurança, Trânsito, e por aí vai, solicitaram uma “parceria institucional” com o “governo do atraso” utilizando-se do mesmo expediente tão criticado por estes em outras gestões, inclusive na última que findou na virada do ano.

São os mesmos que, durante quatro longos anos, criticaram veementemente o ex-prefeito João Castelo (PSDB) e sabiam quase tudo o que a antiga gestão fazia e deixava de fazer, mas que agora se arvoram no discurso de “terra arrasada” para tentar abrandar o coração dos mais esperançosos por “novidades, já!”, justificar certas dificuldades de primeira ordem e cimentar uma parceria com o seu principal adversário político, o grupo que comanda o governo estadual. Afinal, não se pode dizer que o Governo do Estado não quer ajudar a sua capital, não é mesmo?

Isso já havia sido sinalizado pela própria governadora Roseana Sarney quando da vitória de Edivaldo, em outubro de 2012. Aliás, esse era um dos principais chamarizes da campanha eleitoral de Washington Oliveira (PT), o atual vice-governador. Não se pode esquecer que a existência da presente parceria se deu ainda na gestão do próprio Castelo, em seus derradeiros dias à frente do Executivo Municipal.

Portanto, por que chamar de "novo" algo tão surrado quanto um sapato gasto? Por que vangloriar-se disso como plataforma de gestão propagandeando discursos alvissareiros? Por que não assumir desde a campanha por votos que não se pode governar sozinho? Por que não declarar abertamente para os mais desatentos que o discurso de "oligarquia do atraso" não vai além das intenções eleitoreiras de conquista e manutenção do poder?

Porque não cola. Porque não vende. Porque não contagia nem empolga as multidões. É necessário dizer que tudo vai mal para que se possa preparar o terreno para a emergência triunfal do "messias" que tudo fará de bom, de "novo", de diferente.

Vai ser difícil explicar (ou não?) para a população como se pode pedir ajuda na Saúde e na Educação para o mesmo governo que apresenta os piores indicadores nestas áreas.

Acontece que, em política, ninguém faz nada de graça para ninguém. Cada movimento é como um jogo de xadrez: nenhum passo é dado em falso.

Não se trata de bipolarizar as coisas pelo maniqueísmo inócuo da “oposição” ou “situação”. Isso é pensamento simplista e infrutífero. Salutar é observar a política como um jogo de disputas, onde os interesses dos envolvidos é que dão as cartas.

Nessa linha de pensamento, chega-se à conclusão de que a ideologia morreu. A ideologia está morta!!! E com ela toda a estrutura teórica dos partidos ditos de esquerda no Brasil e, por conseguinte, no Maranhão.

O que impera é a lei do pragmatismo político. Não é a ideologia - formulada enquanto conjunto teórico que visa a transformação das práticas e, assim, do mundo social - que coordena as ações dos homens e mulheres, mas sim o pensamento imperativo de governar pelo poder, de se conquistar a máquina e nela se manter através da reprodução, renovação e ampliação do grupo que dela está apossada.

No caso da questão em foco, ambos os lados tentarão colher, em 2014, e ao seu modo, os louros e a glória dessa parceria construída sob a justificativa do "em nome do povo". Isso se todos não permanecerem do mesmo lado (ou de lado nenhum, apenas do seu), o que é pouco provável diante dos apetites vorazes dos protagonistas deste jogo.

De “novo”, no entanto, apenas o fato de se dar outros contornos verborrágicos às velhas, porém corriqueiras e sempre bem-vindas, práticas políticas.

“Todos juntos por São Luís” é a melhor forma (prática e discursiva) de se manter no poder quem lá está e também fazer parte do time que lá irá permanecer.

Viva a “moderna idade”!!!

5 comentários:

  1. Respostas
    1. Obrigado, Josué.
      Fico feliz que tenha gostado.
      A recompensa de nosso trabalho é o reconhecimento de pessoas como você.
      Um forte abraço!

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  2. Há uma confusão entre relações institucionais e políticas!

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    1. Relações "institucionais" são relações políticas.

      O Estado e a Prefeitura, assim como todos os órgãos públicos (e empresas privadas também), são geridos por pessoas que lutam simbolicamente pela prevalência de seus interesses e dos grupos que, circunstancialmente, representam.

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  3. É a crença de que relações institucionais não são políticas que impede que o ex-prefeito João Castelo seja punido por sua irresponsável gestão, que o processo de cassação da governadora Roseana Sarney não seja votado e que o ex-presidente Lula continue "ileso" do caso do mensalão.

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Grato pela participação.