Por
Hugo Freitas
Historiador e Sociólogo
Não é nenhuma novidade o fato do poder público custear certas
despesas das agremiações que realizam o Carnaval em São Luís. Escolas de Samba
e Blocos Tradicionais, de alguns anos para cá, sempre contaram com as verbas da
Prefeitura e do Governo do Estado para desfilar na Passarela.
O que assombra é o fato de inúmeros hipócritas apoiarem a decisão
da Func de não pagar cachê aos grupos carnavalescos da cidade sem o mínimo de
reflexão plausível.
Se é para cortar as verbas daqueles que realizam o Carnaval, que
fazem a alegria da população, que atraem milhares de turistas para a cidade
nesta época do ano para prestigiar uma das festividades carnavalescas mais
originais do país, então que não se contrate mais nenhum artista ou banda de
fora pagos com o mesmo dinheiro público.
Muita gente fez vista grossa para os mais de 10 milhões de reais
que o Governo do Estado despejou no colo da Beija-Flor no carnaval do ano passado, por acreditarem que tal soma seria um "investimento" no
turismo da cidade, uma vez que a grande campeã carioca estaria divulgando as
belezas, riquezas e tradições de São Luís, em comemoração aos seus 400 anos, para os quatro cantos do Brasil e do
mundo. Acabou que não deu certo e a Beija-Flor não foi campeã, como muitos
sonharam.
Muita gente também adorou o dinheiro gasto pelo Governo referente
ao pagamento das bandas e artistas que vieram comemorar conosco o quarto
centenário da outrora "Ilha Rebelde". Estive lá e presenciei muitos
dos hipócritas que agora vociferam a favor da Func e contra os grupos
regionais.
Muita gente nunca criticou também o fato de determinados grupos
folclóricos sempre estarem nos mesmos palcos do Governo e da Prefeitura todos
os anos, recebendo grandes somas para apresentarem as manifestações culturais
do Estado. Pelo contrário, os que apoiam uma decisão que prejudica escolas e
blocos são os mesmos que saem dançando feito "bicho", se é que você
me entende, fiel leitor.
Pois é. Os mesmos fanfarrões e hipócritas que agora grasnam a
favor da decisão do presidente da Func sobre o não pagamento de cachê aos grupos
carnavalescos da cidade são os mesmos que silenciam e fazem vista grossa quando
a mesma questão ocorre na esfera estadual. Por que $$$erá???
Não tenho nada contra a Func ou seu presidente. Pelo contrário.
Fui um dos entusiastas da campanha que levou Edivaldo e seu secretariado a
"chegar lá". Agora, não consigo vislumbrar nenhuma benesse nisso
tudo, salvo as verbas da Passarela destinadas para a Saúde.
Cultura é negócio, é investimento. Mas que só atrai retorno
financeiro quando há planejamento prévio das ações que serão tomadas para que
tudo saia nos conformes.
Quer dizer que a máxima de não pagamento de cachê só vale para os
grupos da terra? Para quem não sabe, é muito difícil colocar nas ruas um bloco
carnavalesco ou uma escola de samba sem a ajuda do poder público. Falta apoio
da iniciativa privada e a Prefeitura poderia ter agido nesse sentido também,
coisa que não fez.
Pior é saber que são esses mesmos grupos carnavalescos, que atraem
turistas e levam o nome da cidade para além das fronteiras regionais, os
primeiros a serem preteridos quando se destinam somas absurdas para pagar
bandas de forró, grupos de pagode, duplas sertanejas, "rainhas do
axé" e "reis da MPB", todos vindos de fora.
A questão não é saber quem vai lucrar ou não com o carnaval, se existem
mercenários ou não na folia de momo, uma vez que todos lucram, desde as cervejarias aos donos de estabelecimentos privados alugados para órgãos públicos (quanto terá sido o aluguel da Patrimônio Show para a realização do carnaval da Prefeitura?), inclusive a própria Prefeitura, ao vender, (neste caso) gratuitamente, a imagem de São Luís como
polo turístico carnavalesco.
A questão é saber quem será o maior prejudicado. Neste caso, aqueles
que fazem a folia acontecer, os protagonistas que transformaram São Luís na capital com a maior diversidade cultural de todo o
país.
Não é à toa que Joões, Josés, Couxinhos, Tetés, Leonardos, dentre tantos
outros, a verdadeira "realeza" da cultura maranhense, como bem observou Zeca Baleiro, morreram à míngua e relegados à miséria dos guetos
espalhados pela cidade.
E viva a hipocrisia de momo!!!
bela visão. Participei da flor do samba. E vi de perto o quanto é difícil, mesmo com a juda da prefeitura, colocar uma escola na passarela. Pessoas dedicando seu tempo, suas economias, fazendo "vaquinhas" pra se comprar isso e aquilo. Mas o carnaval de rua vai continuar? não? O que é marcante na nossa capital... Temos que levar em consideração que, com política, sempre terá os esquerdistas e direitistas sobre cada medida tomada ao longo de 4 anos. Muito bom post! Parabéns Hugo!
ResponderExcluirIsso mesmo, Kelven.
ExcluirA intenção deste artigo foi justamente de suscitar o debate e oferecer um contraponto ao pensamento dominante de apoio a tal decisão da Func.
Afinal, quem faz a cultura do Maranhão é o povo pobre do Maranhão. Se for para cortar verbas alegando tal situação de "terra arrasada", que não se contrate mais ninguém "de fora" com dinheiro público.
Grato pela participação.
Concordo com você, parabéns pelo pensamento e um abraço.
ResponderExcluirObrigado, Fábio.
ExcluirUm abraço!