LULA E MALUF JUNTOS: A última pá de terra na biografia do ex-presidente

Tudo em nome do poder. E o que mais em nome do poder?

Por Hugo Freitas

Luís Inácio Lula da Silva, o primeiro operário que conseguiu chegar à presidência do Brasil carregando em seus ombros os sonhos de milhões de brasileiros de um país mais justo e menos corrupto, jogou sobre si mesmo a última pá de terra que faltava para manchar irrevogavelmente sua trajetória política.

Lula que um dia, em campanha eleitoral, teve a ousadia de dizer que em seu governo "corrupto não entra", já se aliou ao ex-presidente Collor (deposto do cargo por abocanhar o dinheiro do povo no famigerado "Plano Collor"), ao oligarca José Sarney (um dos últimos bastiões do que restou da ditadura militar em termos de mandonismo político e tráfico de influência, fartamente estudados por pesquisadores e divulgados pela imprensa) e, agora, a Paulo Maluf (outro dinossauro sobrevivente da ditadura contra quem consta um sem-número de processos judiciais, ainda em tramitação, por improbidade administrativa, lavagem de dinheiro e corrupção).

Todas essas alianças em nome do poder. E o que mais em nome do poder???

Se vivo fosse, não seria exagero pensar também numa aliança entre Lula e o famoso Antônio Carlos Magalhães, o vulgo "ACM", que reinou na Bahia com o braço forte dos coronéis da "República Velha".

Lula e os "mensaleiros"

Um político como Lula, que "nunca antes na história deste país" conseguiu alcançar patamares de popularidade que ultrapassaram os 80% de preferência dos eleitores, perto da unanimidade, mesmo diante das acusações de que ele foi um dos chefes do "mensalão" de 2005, fato negado com a simplória afirmação socrática de que nada sabia, não precisava chafurdar na mesma lama em que se afundaram os supracitados outrora opositores, agora, aliados.

A polêmica frase proferida há alguns dias no "Programa do Ratinho",  do SBT, acompanhado do mesmo Fernando Haddad (candidato à prefeitura de São Paulo), em que Lula asseverou que enquanto fosse vivo, ele faria de tudo para que um tucano nunca mais dirigisse o país, não passou de mera retórica esquerdista, deslocada trinta anos no tempo.

Quem ainda tinha dúvidas sobre a existência distintiva entre "direita" e "esquerda" no Brasil de hoje, parece que consegue vislumbrar agora, com extrema clareza, que tal bipolaridade política não se sustenta mais, pelo menos em termos práticos.

Lula e Maluf já trocaram inúmeras farpas, incluindo acusações e ofensas, não só em anos eleitorais como também em momentos históricos da política (vide exemplo das "Diretas Já").

Confira algumas dessas declarações, compare-as com a foto de capa e constate, fiel leitor, que "a esperança do povo é o prato principal dos demagogos".

- "Se o civil tiver que ser o Paulo Maluf, eu prefiro que seja um general". (Luís Inácio Lula da Silva, durante a eleição presidencial de 1984)

- "O problema do Brasil não está no deputado Paulo Maluf, mas sim nos milhares de 'malufs'". (Luís Inácio Lula da Silva, em 1986)

- "Quem votar em Lula vai cometer suicídio administrativo". (Paulo Maluf, quando era candidato a presidente em 1993)

- "O símbolo da pouca vergonha nacional está dizendo que quer ser presidente da República. Daremos a nossa própria vida para impedir que Paulo Maluf seja presidente". (Luis Inácio Lula da Silva no Comício das "Diretas Já", na Praça da Sé, em 1984)

- "Perto do Lula e do Fernando Henrique Cardoso, eu me considero comunista". (Paulo Maluf, em crítica ao governo federal, em 2007)

- "Declaração infeliz do presidente. Ele não está a par do problema, e se ele quiser realmente começar a prender os culpados comece por Brasília. Tenho certeza de que o número de presos dá a volta no quarteirão, e a maioria é do partido dele, do PT". (Paulo Maluf, em 2005, sobre as declarações de Lula a respeito de sua prisão)