Deu na Folha de S.Paulo: “Silvio Santos reclama de ibope baixo e novela troca drama por humor".
O dono do SBT, Silvio Santos, reclamou do baixo desempenho da novela Amor e Revolução no início deste mês, no Complexo Anhanguera. Silvio fez a queixa diretamente ao autor da novela, Tiago Santiago, que se prontificou a efetuar várias mudanças.
A despeito da repercussão e polêmica que a novela desencadeou, Amor e Revolução não passa de cinco pontos de média na Grande São Paulo. Cada ponto equivale a 58 mil domicílios assistindo à história, que se passa no contexto da ditadura militar.
A novela sofreu uma guinada de 180 graus. Diálogos sobre política, personagens discursando para criar contextualização histórica, assuntos referentes a militares praticamente foram abolidos da história. Em seu lugar houve mais cenas de humor, amor e outros relacionamentos.
Procurado pela reportagem do referido jornal, Santiago não quis comentar sobre a “bronca” de Silvio Santos, mas confirmou que a novela teve algumas mudanças de rumo. “Nós, de fato, vimos várias pesquisas e as pessoas à noite querem rir, se emocionar. Vamos acabar com o tema político mesmo”, admitiu Santiago, que acrescentou: “Nunca mais vou fazer novela sobre política.”
Talvez Sílvio Santos não tenha percebido, mas há muito Amor e Revolução faz humor involuntário. De militares que andam de farda na intimidade de suas casas, passando por presos torturados que metem bronca nos torturadores, sempre com uma língua fluente que nem toma conhecimento dos choques elétricos que levou, a novela tem mostrado na televisão uma ignorância de tempo, lugar e vidas de tal maneira que até parece galhofa.
Escrever em folhetim de televisão sobre a história tem sido um fiasco, desde a minissérie JK, na TV Globo. Se em JK os laços que prendiam Juscelino Kubitschek à realidade eram laços de fita, de chapéus, cenários e músicas de época, em Amor e Revolução a realidade são guerrilheiros e militares caricatos, que falam frases de cartilha, didáticas.
A novela foi salva até o ponto em que os depoimentos reais, verdadeiros, de militantes que sobreviveram à tortura iam ao ar, sendo os principais atrativos da trama. Podia-se dizer: pulem a novela, vejam o depoimento. De fato, houve alguns deles que se aproximaram do sublime. Assim era. Mas a ressalva não durou muito. Os depoimentos foram extintos da novela.
Todo o prometido pela produção da telenovela, de que “para dar credibilidade à história e acontecimentos narrados na novela, seria exibido, no fim de cada capítulo, um depoimento de um guerrilheiro, artista, família de desaparecidos que participou desse momento tão importante para a democracia no Brasil”, veio por água abaixo com a pressão exercida pelas Forças Armadas, que exigiam mesmo o fim da novela por "heroicizar inimigos da pátria", mostrando apenas um lado da história.
Além disso, houve uma enorme pressão das camadas conservadoras da sociedade em relação aos personagens gays da trama. Os baixos índices de audiência da novela, medidos através do Ibope e das pesquisas de opinião, revelaram certo conservadorismo dos expectadores em relação aos personagens homossexuais que, inclusive, tiveram diminuição de sua participação na trama. Silvio Santos solicitou a Santiago que não fosse formado outro casal gay na novela, que seria entre dois homens, por conta justamente dessa "rejeição" da opinião pública.
Assim, aquela ilusão de que Amor e Revolução retomasse a história que não foi conhecida, porque ao povo seria dada a oportunidade de saber o drama e valor de uma geração violentada, cai por terra. A tendência é de que cenas fortes e apelativas, como mais cenas de sexo, tomem as rédeas da trama.
Diante disso, o melhor a fazer é voltar à liberdade da literatura e da pesquisa histórica. Estas, sim, poderão dizer o que as telenovelas não podem, por limitação de gênero, veículo, ibope e grana.
Fonte: Observatório da Imprensa
Adaptado e Editado por: Hugo Freitas
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