sexta-feira, 15 de abril de 2011

Militares exigem proibição de "Amor e Revolução"


A novela "Amor e Revolução", exibida pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), está dando o que falar.

Se o fato da primeira novela abordar o período da ditadura militar no Brasil (1964-1985) já era suficiente para gerar polêmica, desta vez um portal militar resolveu ir além, fazendo um abaixo-assinado contra a trama de Tiago Santiago.

Os donos do site – aparentemente simpatizantes aos tempos inglórios da censura e da repressão que perdurou na ditadura – querem que a novela seja proibida de ir ao ar.

O escritor Tiago Santiago, autor de "Amor e Revolução", rechaçou o texto e se recusou a edulcorar a história em favor da visão obscurantista dos filhotes da ditadura. “Achei uma iniciativa despropositada, que interessa apenas aos criminosos, torturadores e assassinos, que violaram as Convenções de Genebra, nos chamados ‘anos de chumbo’ da ditadura militar”, afirmou Santiago em entrevista à imprensa.

No abaixo-assinado, os signatários são taxativos ao afirmarem que “é óbvio que o governo federal, através da Comissão da Verdade, recém-criada, está participando do acordo em exibir a novela "Amor e Revolução" no SBT. Parece-nos que se trata de um acordo firmado com o empresário Silvio Santos, visando o saneamento do Banco Panamericano do próprio empresário”.

As acusações não param por aí. “As Forças Armadas não devem permitir, dentro da legalidade, que tal novela seja exibida, pelos motivos óbvios abaixo declarados. Convém salientar que as Forças Armadas já se manifestaram negativamente a respeito da novela”.

Os militares completam, em tom autoritário: “Sendo assim, o efetivo da Forças Armadas, tanto da ativa como inativos e pensionistas, vêm respeitosamente através desse abaixo-assinado, como um instrumento democrático, solicitar do digno Ministério Público Federal, representado acima, providências em defesa da normalidade constitucional, vista o cumprimento da lei de anistia existente, conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal. Nestes termos, pede deferimento em caráter urgentíssimo".

Para Tiago Santiago, o texto é “despropositado” do começo ao fim. “A novela é respeitosa com as Forças Armadas, mostrando herói militar e oficiais democratas a favor da legalidade. Em diversos trechos da novela, há menções favoráveis a militares, evidenciando que nem todos participaram do golpe e da violenta repressão à oposição”.

De acordo com o autor da polêmica trama, “o argumento de que a novela teria qualquer coisa a ver com o saneamento do Banco Panamericano também não procede. A proposta partiu de mim para o SBT, e não vice-versa. Comecei os trabalhos antes de saber que havia qualquer problema com o Banco e antes de saber também que a Dilma seria eleita presidente”.

Para Renata Dias Gomes, colaboradora de Tiago Santiago em "Amor e Revolução", os tempos mudaram, mas os militares continuam com a cabeça na época do regime. “Felizmente a ditadura e a censura acabaram – e hoje a gente pode contar uma história sem medo. Ou deveria poder".

Tudo isso acaba alimentando ainda mais a curiosidade do público sobre a novela, que promete ser uma das mais polêmicas e controversas da história da televisão brasileira, tal como o período histórico que aborda. Afinal, a vida não imita a arte?

Hugo Freitas

Para ler o abaixo-assinado dos militares, acesse:

3 comentários:

  1. Já era de se esperar que a novela incomodasse alguns, mas que iriam querer proibir sua exibição, aí já é demais!
    Felizmente a Ditadura acabou e a censura também...E hoje a população brasileira pode conhecer parte dessa História...e a novela tem seu valor neste sentido.
    E como Renata Gomes disse, "os militares continuam com a cabeça na época do regime"...Intolerantes.

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  2. Sem dúvida, companheiro.

    Tal atitude mostra claramente que muitos militares ainda estão presos na atmosfera mental do regime de exceção.

    Contudo, acredito que a censura ainda não acabou. Talvez tenha se transformado, seja hoje mais sutil, mas nem tanto.

    Basta considerarmos, por exemplo, os inúmeros absurdos que já foram divulgados contra o movimento grevista dos professores da rede estadual de ensino pelos veículos midiáticos complacentes com o governo Roseana Sarney.

    Extremamente grato por sua participação. Fique à vontade para comentar quando quiser. Este espaço é nosso. Abraços fraternos.

    Hugo Freitas

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  3. UM DIREITO A MEMÓRIA E A VERDADE É UM POUCO DE AMOR E REVOLUÇÃO E IMAGINE SE NO BRASIL QUE VIVE UM CAPITALISMO VORAZ NÃO TIVERMOS O DIREITO DE ESCOLHER ENTRE O PLIMPLIM E O TUDO POR DINHEIRO. DIGA NÃO AMNÉSIA.
    SOUZA MARTINS

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Grato pela participação.