Por Hugo Freitas
Sociólogo e Historiador
Impressionante como a morte de um
empresário causa tanta "comoção" num Estado tão profundamente marcado
pela violência e pela pistolagem, como é o caso do Maranhão.
Milhares de pessoas são assassinadas
todos os anos no campo e nas periferias das cidades maranhenses, muitas de forma
brutal, como noticiado largamente nos veículos de comunicação local. Na maioria dos casos, são pessoas de baixa renda e cor de pele mais escura tanto os mortos quanto os assassinos.
Na outra ponta desse iceberg, estão sepultadas milhares de vítimas do coronelismo e da pistolagem, que alimentam uma verdadeira "indústria da morte" no Maranhão, principalmente entre os trabalhadores rurais que sofrem pela expropriação de suas terras através de processos como os da "grilagem", fartamente documentado no livro escrito pelo padre Victor Asselin (confira aqui).
Contudo, essa violência contra as classes mais desabonadas não assusta tanto quanto o assassinato de um membro das elites dominantes, quer seja de jornalistas muito bem relacionados na esfera política e econômica, como foi a morte de Décio Sá, executado a tiros na Av. Litorânea em abril do ano passado, ou mais recentemente o assassinato do empresário e assessor jurídico Daniel Smith.
Na outra ponta desse iceberg, estão sepultadas milhares de vítimas do coronelismo e da pistolagem, que alimentam uma verdadeira "indústria da morte" no Maranhão, principalmente entre os trabalhadores rurais que sofrem pela expropriação de suas terras através de processos como os da "grilagem", fartamente documentado no livro escrito pelo padre Victor Asselin (confira aqui).
Contudo, essa violência contra as classes mais desabonadas não assusta tanto quanto o assassinato de um membro das elites dominantes, quer seja de jornalistas muito bem relacionados na esfera política e econômica, como foi a morte de Décio Sá, executado a tiros na Av. Litorânea em abril do ano passado, ou mais recentemente o assassinato do empresário e assessor jurídico Daniel Smith.
O modo e a intensidade dos escritos
jornalísticos produzidos sobre o assassinato do branco e "bem-sucedido" empresário beiram a
"comoção social", digno inclusive de editoriais nos principais jornais da capital maranhense. O que não ocorre,
de outro lado, quando os mortos são membros das classes mais pobres do Estado.
Nenhum jornal faz um artigo ou editorial quando o morto é "João", filho pobre e negro de "Dona Maria", assassinado por assaltantes porque não tinha dinheiro na carteira. Nenhum texto jornalístico com mais de três parágrafos é produzido quando morre "seu Chiquinho", de pele morena e beneficiário do programa "Bolsa Família", assassinado a tiros na porta de uma agência bancária quando retirava seus trocados doados pelo Governo Federal.
Pelo contrário, essas mortes, aqui apresentadas didaticamente de modo fictício, são tratadas friamente como números, como estatísticas, que não deixam à mostra a origem social e o sofrimento de mães e familiares de origem mais "humilde" diante da perda de seus entes. Parece mesmo ser banal a morte de um pobre no segundo Estado mais miserável do Brasil (confira aqui).
No sentido inverso à abordagem midiática que trata a morte de pobres enquanto números frios e secos, a cobertura jornalística
sobre o assassinato de algum "rico" busca quase sempre gerar a "comoção
social".
Não se quer aqui diminuir ou relativizar a dor e o
sofrimento dos parentes do referido empresário ou de qualquer outro membro das elites dominantes da sociedade maranhense. A dor pela perda de um ente
querido é a mesma e independe da condição social do indivíduo ou de suas
famílias.
O que se intenta com essas mal traçadas
linhas é uma reflexão sobre a forma como são dirigidos os olhares jornalísticos
sobre a violência no Maranhão. De um modo geral, os veículos midiáticos deixam de discutir a questão - para além de uma abordagem acadêmica, que é a esfera que mais se debruça sobre o tema no Maranhão - para se dedicar apenas ao aspecto da "lamentação" dos brancos e ricos familiares e amigos, e da "importância social" que determinados indivíduos possuem, baseado nas posições que ocupam na sociedade, refletindo assim o grau de vinculação da imprensa maranhense às elites políticas e econômicas do Estado.
Neste caso, perde-se de vista uma boa
oportunidade para se refletir sobre a questão da violência no Maranhão como sub-produto
da falta de políticas públicas mais eficazes no combate ao analfabetismo e à
evasão escolar, bem como pela falência da célula mater da sociedade, a família,
cada vez mais esfacelada pela falta de perspectivas de pais e filhos. Aqueles sem oportunidades de emprego e aumento da renda para além da subsistência imediata; e sua prole seduzida pelo vício e pelo abismo das drogas, pelo aliciamento para o tráfico de
entorpecentes e pelo roubo como o caminho mais rápido para a aquisição de
dinheiro, condicionantes estes que, muitas vezes, estão na origem de tanta criminalidade.
Perde-se também um excelente ensejo, o famoso "gancho" jornalístico, para se discutir as possíveis "falhas" das políticas de segurança no Maranhão, que não conseguem combater, investigar nem punir, de forma incisiva, as teias sociais que estão por trás da pistolagem no Estado, o que aponta para uma imbricação entre poder político-econômico e os grupos que se dedicam a vender o "serviço" de tirar vidas. Afinal, se há quem venda sua "força de trabalho" para matar, é porque há um "mercado" que demanda por essa "mão-de-obra".
Ao fim e ao cabo, a imprensa maranhense deveria ser menos "burguesa" e tratar da violência que toma conta dos filhos e filhas do Maranhão de forma mais abrangente e profunda, e não meramente superficial e sensacionalista, com vistas apenas à venda de jornais e espaços para anunciantes.
Perde-se também um excelente ensejo, o famoso "gancho" jornalístico, para se discutir as possíveis "falhas" das políticas de segurança no Maranhão, que não conseguem combater, investigar nem punir, de forma incisiva, as teias sociais que estão por trás da pistolagem no Estado, o que aponta para uma imbricação entre poder político-econômico e os grupos que se dedicam a vender o "serviço" de tirar vidas. Afinal, se há quem venda sua "força de trabalho" para matar, é porque há um "mercado" que demanda por essa "mão-de-obra".
Ao fim e ao cabo, a imprensa maranhense deveria ser menos "burguesa" e tratar da violência que toma conta dos filhos e filhas do Maranhão de forma mais abrangente e profunda, e não meramente superficial e sensacionalista, com vistas apenas à venda de jornais e espaços para anunciantes.
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