A ANPOCS, SBS, ABA e ABCP vêm se juntar
às manifestações da SBPC e da Academia Brasileira de Ciências em defesa da
Educação e da Ciência como políticas de Estado.
Nas últimas semanas, manifestações de
atores políticos e medidas administrativas, quer nos cenários estaduais, quer
no federal, trouxeram à cena pública o debate em torno dos limites entre
religião e política, consequentemente da liberdade de expressão e de
pensamento, bem como a discussão acerca do financiamento, do planejamento e da
execução de políticas públicas para a Educação e para a Ciência.
A Educação é, na sociedade
contemporânea, mecanismo fundamental de democratização de acesso aos bens
culturais e instrumento estratégico no processo de desenvolvimento social e
econômico dos países. Em várias partes do mundo, políticas de Estado de longo
prazo, laicas e independentes de flutuações na esfera política, tornaram seus
respectivos sistemas de ensino provedores de recursos humanos qualificados,
investindo na formação de novas gerações de profissionais preparados para
desempenhar diferentes atividades no mundo do trabalho.
No Brasil, nas últimas décadas, houve
avanços nesse sentido, com a universalização do acesso ao ensino básico, a
expansão do ensino superior e a constituição de um sistema nacional de
pós-graduação, bem como sua significativa disseminação por todo território
brasileiro, revertendo ainda que parcialmente as disparidades entre o centro
sul e as demais regiões do país. Nesse cenário de diminuição das desigualdades
sociais e regionais, tem sido de especial importância, e sinal de avanço na
formação básica dos cidadãos e cidadãs, a ênfase na formação de professores,
nas ações afirmativas e no reconhecimento da diversidade sociocultural e de
gênero como princípios estruturantes da ação educativa, alicerçados na
ampliação do acesso aos conhecimentos científicos. Formou-se uma comunidade
científica altamente qualificada academicamente desenvolvendo pesquisas nas
mais diversas áreas do conhecimento. É notável, em um processo de
internacionalização do conhecimento, a crescente contribuição da comunidade
científica em distintas esferas da sociedade nacional, como no processo de
inovação tecnológica, no campo da saúde, formulando propostas de integração
entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental, produzindo
conhecimento sobre os complexos processos sociais, culturais, e políticos que
permeiam a trajetória da sociedade brasileira e que reverberam nos dias atuais.
Tais conquistas não podem ser
dissociadas da luta pelo respeito aos dispositivos constitucionais que definem
o Estado brasileiro como separado de qualquer confissão religiosa, com
implicações claras para a formulação de políticas, notadamente as de educação e
ciência e tecnologia. Tampouco podem ser separadas da constituição de um
sistema de fomento à pesquisa através de fundações estaduais articuladas às
agências federais de fomento. A construção de uma nação moderna e democrática e
a consolidação de uma sociedade mais justa passam necessariamente por um
compromisso permanente com a Educação e com a Ciência. Não pode haver regressão
neste acordo e inseri-lo como moeda de troca no jogo político não só é
imprudente como terá consequências desastrosas para o país.
Defendemos uma agenda de trabalho com
participação conjunta do Estado e da comunidade científica nacional, de modo a
estabelecer um fluxo regular de recursos financeiros para enfrentar os desafios
do sistema educacional público do país e os investimentos necessários para o
crescimento da pesquisa e da inovação.
Alegar imperativos econômicos para
operar cortes nos orçamentos da Educação e da Ciência, já restritos diante das
necessidades existentes, significará reverter no curto prazo conquistas
operadas desde a redemocratização cujas repercussões de certo se farão sentir
no curso prazo. Será mais uma vez exercer, de forma velada que seja, a censura
e a restrição ao pensamento.
Reiteramos a nossa compreensão de que
os desafios colocados por esta complexa pauta requerem quadros dirigentes
capacitados e comprometidos com a Educação e com a Ciência, que se disponham ao
diálogo com as comunidades científica e educacional no sentido de se construir
soluções compartilhadas consistentes com os avanços realizados. Qualquer outra
escolha significará o perigoso rumo do obscurantismo e de regressão nos planos
educacional, científico e tecnológico.
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