sábado, 1 de outubro de 2016

Clássico de Raymond Williams sobre televisão ganha edição brasileira

Quarenta e dois anos após sua publicação original, em língua inglesa, este texto fundador dos estudos sobre televisão, um verdadeiro clássico, tem sua primeira edição brasileira. Se, por um lado, é difícil entender tamanha demora, por outro, são evidentes a pertinência e a importância desta obra nos dias atuais, nos quais, junto à ainda forte presença da TV nos lares do mundo inteiro, vivemos a era digital em sua plenitude. Confira abaixo o texto, escrito por Esther Hamburger, para a orelha do livro.

Por Esther Hamburger

Raymond Williams foi intelectual erudito e engajado diante dos desafios do seu tempo. Professor e escritor prolífico, colaborou em jornais e revistas, entre as quais a influente New Left Review.Escreveu livros de fôlego que permanecem referências nas áreas da história e da sociologia da cultura.

Seus estudos sobre a tragédia e o drama, disponíveis no Brasil, ajudam a pensar elementos que resistem e que se transformam ao longo dos séculos no teatro, no cinema, na televisão e nos meios digitais.

A bem-vinda edição em português de Televisão: tecnologia e forma cultural, obra clássica na área, originalmente publicada na Inglaterra em 1974, adensa a bibliografia disponível. O livro deve ajudar a tirar do lugar-comum o debate político-cultural candente em que a televisão muitas vezes figura isoladamente como vilã.

Em Williams, a televisão é tratada com rara sensibilidade crítica e desprovida de preconceito. No pensamento do autor, não há espaço para questões de valoração apriorística. O livro é escrito por alguém que contribuiu regularmente para o boletim mensal da BBC, que participou de programas de debate cultural na emissora e que teve peça de sua autoria montada na televisão.

A experiência de estranhamento do próprio autor para com a televisão com sotaque norte-americano é matéria-prima do livro, como ele mesmo relata. Arguto observador participante, Williams foi dos primeiros a pensar as diferenças entre dois modelos que permanecem paradigmáticos: o da TV pública inglesa e o da TV comercial estado-unidense. Essas diferenças dão substância à ideia de forma cultural em oposição ao que ele identifica como determinismo datecnologia. Seu pensamento marxista elabora a noção de forma cultural de maneira a entender a especificidade de determinadas relações sociais em certos lugares e momentos históricos.

Parte de uma geração de pensadores ingleses que valorizou o estudo de diversas dimensões da vida cotidiana das classes trabalhadoras ao longo do tempo, Williams se diferencia no enfrentamento contemporâneo da indústria cultural.

A noção de fluxo, pela qual seus estudos de televisão são mais conhecidos, é elaborada justamente neste livro. A abordagem de programas específicos não poderia deixar de levar em conta a sequência ininterrupta de programação, marcada pela promiscuidade entre gêneros e anúncios televisivos.

Neste início de milênio, a televisão se transforma na convivência com outras plataformas de captação e visionamento de imagens e sons; umas móveis, outras fixas; algumas que estimulam o autorregistro e a difusão de programação amadora.

As transformações contemporâneas questionam os conceitos propostos por Raymond Williams. As inquietações desse autor, porém, continuam a nos desafiar.

A edição brasileira de Televisão: tecnologia e forma cultural vem acrescida de uma série de textos de apoio escritor por Graeme Turner, Roger Silverstone Ederyn Williams, Marcio Serelle, Mario Viggiano e Erico Sena. Além de contar com um precioso apêndice que compila uma biografia selecionada de Raymond Williams.

"Pescado" do Blog da Boitempo

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